O Estado de São Paulo, n. 45067, 08/03/2017. Economia, p. B6

Para Meirelles, queda do PIB é o ‘espelho retrovisor’

Ministro da Fazenda afirma que o País pode terminar 2017 com ‘crescimento robusto’ e culpa o governo anterior pelo resultado

Por: Lorenna Rodrigues / Fernando Nakagawa / André Ítalo Rocha

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que a queda de 3,6% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 é “o espelho retrovisor”. Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ele preferiu focar no futuro e disse que o País pode terminar 2017 com “crescimento robusto”.

Meirelles jogou a responsabilidade pela queda no PIB do ano passado nas políticas adotadas pelo governo anterior. “Não há dúvida de que é a maior crise desde que o PIB começou a ser medido. Isso não foi construído em pouco tempo. Aconteceu em anos, quando a economia foi perdendo grau de confiança”, disse. “Estamos superando, mas pagando um preço.” O ministro se esforçou para passar a mensagem de que o País está voltando à normalidade na política e na economia. A aposta para acelerar o crescimento é a aprovação das reformas da Previdência, trabalhista e tributária – o governo planeja enviar ao Congresso mudanças no PIS/Cofins até o fim do semestre.

 

Projeções. O governo ainda está fazendo as contas para ajustar a projeção do PIB deste ano.

A última projeção era de crescimento de 1%, mas o número ruim de 2016 terá efeito estatístico que impactará para baixo o PIB de 2017, já que é medido na comparação das médias dos dois anos.

Meirelles prefere comparar o último trimestre de 2017 com o último de 2016, quando projeta crescimento de 2,4%. Se continuar nesse ritmo, o dado anualizado de 2018 seria de alta de 3,2%. “Estamos trabalhando para aumentar a taxa de crescimento sustentável do País, sem gerar inflação”, afirmou.

Para o ministro, o PIB potencial do Brasil pode chegar a até 3,5% com o avanço das reformas microeconômicas e diminuição do tamanho do espaço que o governo ocupa na economia.

“O País está engajado dentro de um programa intenso e profundo de reformas em todas as áreas. É muito maior e mais abrangente do que pode parecer à primeira vista.” Além das reformas, o ministro citou o trabalho do governo no desenvolvimento de medidas microeconômicas que elevem a produtividade do País.

“O governo só tem dois anos, temos de acelerar.” Ele admitiu que o desempenho da economia no fim do ano ficou abaixo do esperado, mas apresentou dados para mostrar que a tendência está se revertendo, como o aumento da confiança e a redução do endividamento de empresas e famílias.

 

Potencial. Mesmo admitindo que resultado do fim do ano ficou abaixo do esperado, Meirelles diz que Brasil pode crescer 3,5% com reformas

 

Impacto

A última projeção oficial para o PIB de 2017 é de crescimento de 1%, mas a retração de 3,6% no ano passado deve ter efeito negativo sobre essa previsão

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Mercado espera crescimento de 0,5%

Por: Maria Regina Silva / Thaís Barcellos

Pesquisa feita ontem pelo Broadcast Projeções com 31 instituições financeiras mostra que, na média, o mercado espera um crescimento de 0,5% para este ano. As previsões vão de queda de 0,3% a alta de 1%. Mas será um processo de crescimento lento e gradual. Segundo os profissionais, a melhora recente na confiança dos empresários deve ser um dos pilares a ajudar a impulsionar os investimentos. Mas o impulso também deve vir da agropecuária, com expectativa de safra recorde. / MARIA REGINA SILVA E THAÍS BARCELLOS

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PIBINHO PODE ACELERAR REDUÇÃO DA SELIC

Por: Celso Ming

 

O fato de ter sido esperado não torna menos decepcionante o pibinho do quarto trimestre: queda de 0,9% em relação ao trimestre anterior e de 3,6% no acumulado do ano. É o oitavo trimestre seguido de retração da atividade econômica e da renda, consequência da desastrosa política econômica dos governos Dilma, que criaram um consumo artificial e não garantiram avanço sustentável da economia.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sacou do bolso do colete a mesma alegação que seu predecessor, Guido Mantega, usava quando enfrentava desempenhos ruins: “Esse PIB é espelho retrovisor”, disse ele ontem aos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão.

A troca pela visão do para-brisa dianteiro que Meirelles propõe não chega a encorajar. O avanço previsto para 2017, de cerca de 0,5%, enfrenta pelo menos quatro fatores adversos: o fator arrasto (carry over), negativo em cerca de 1%, que dificulta a virada; o desemprego de quase 13%, que achata o consumo das famílias, um dos principais motores da economia; baixos índices de poupança, 13,9%, e de investimento, 16,4%; e inúmeros fatores de risco, como a baixa arrecadação e os resultados fracos da política fiscal, o impacto da Lava Jato sobre a condução da política econômica e a resistência às reformas, que pode minar a confiança. Mesmo se houver uma boa reação da economia, a aposta que está ganhando força, é preciso ver até que ponto seria sustentável e não apenas o resultado do desencalhe de estoques.

Apesar desses obstáculos, a recuperação pode vir de quatro setores. O primeiro deles, já em lançamento, é a agropecuária.

O segundo, o setor externo, principalmente as exportações, que também começaram 2017 em forte aceleração.

A indústria, por sua vez, conta com grande capacidade ociosa, de cerca de 30%, fator que permitirá certa retomada, sem aumento significativo dos investimentos.

E há a infraestrutura, se o governo estiver de fato disposto a acionar os leilões de concessão, principalmente nos setores de petróleo, ferrovias, rodovias, portos e projetos de saneamento.

A confirmação do baixo desempenho da atividade econômica pode levar o Banco Central a acelerar a queda dos juros. As apostas do mercado financeiro nessa direção ganham força. Mas isso vai depender do comportamento da inflação, algo que pode ficar mais claro a partir desta sexta-feira, quando o IBGE divulga o IPCA de fevereiro.

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Crescimento deve voltar neste trimestre, dizem economistas

Especialistas ressaltam peso do setor agrícola no crescimento, mas ainda apostam em atividade industrial fraca no ano

Por: Thaís Barcellos / Altamir Silva Junior / Francisco Carlos de Assis / Gustavo Porto / Eduardo Laguna

 

 

A frustração de parte do mercado com o PIB do quarto trimestre de 2016 não mudou expectativa de que o ponto de inflexão na economia deve ocorrer no primeiro trimestre deste ano, conforme analistas consultados pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

A safra agrícola recorde é o principal argumento para essa expectativa, mas os analistas também apostam em crescimento industrial no primeiro trimestre. Para o ano, a perspectiva é de tímido avanço econômico: o crescimento de investimentos e o retorno do consumo no final do ano, além da queda da inflação e do juros podem impedir o terceiro ano consecutivo de recessão.

“O Brasil deve voltar a crescer neste primeiro trimestre e mostrar sinais claros de recuperação cíclica até o segundo semestre, mas a atividade econômica em 2017 será rasa”, avalia o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.

 

Setores. O economista do banco Santander Rodolfo Margato, estima alta de 0,3% no PIB do 1.º trimestre e de 0,7% em 2017. “O PIB foi decepcionante, mas não altera nossa expectativa de crescimento para 2017, porque os dados de alta frequência já apontam para um resultado positivo da indústria e da agropecuária, principalmente com o crescimento da produção de grãos, notoriamente a soja”, afirmou.

Na indústria, Julio Mereb, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que os indicadores antecedentes de janeiro, como a produção de veículos e o movimento em estradas pedagiadas, já sugerem números melhores na indústria de transformação. Mereb projeta crescimento de 0,3% de janeiro a março e de 0,4% no ano.

Os dados de produção de veículos em fevereiro divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostraram produção 14,7% maior que em janeiro. Esse crescimento foi capitaneado pelo aumento nas exportações de 74,7% na mesma base de comparação, além da alta nos estoques. No mercado interno, houve queda de 7,8% no mesmo período. Apesar de apostar na melhora de vendas em março, o presidente da associação, Antonio Megale, aposta em crescimento apenas no segundo semestre.

“A perda de renda do trabalhador e o desemprego alto comprometem a demanda interna. Dessa maneira, a única saída para o País deixar o fundo do poço é movimentar a produção para o mercado externo”, analisa o economista da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi. Ele acrescenta que as questões políticas, como o processo da chapa Dilma-Temer no TSE e a aprovação das reformas, são os únicos riscos.

O Bradesco projeta elevação de 0,1% do PIB já no primeiro trimestre, “impulsionado pelo setor agrícola”. O banco manteve ainda a projeção de crescimento de 0,3% para este ano./THAÍS BARCELLOS, ALTAMIRO SILVA JUNIOR, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, GUSTAVO PORTO E EDUARDO LAGUNA

 

Menos pior

“Não altera a expectativa de crescimento, porque os dados já apontam resultado positivo da indústria e da agropecuária.”

Rodolfo Margato

ECONOMISTA DO SANTANDER

 

RETRATO DA RECESSÃO

● Em dois anos, País dobrou o número de desempregados e fechou mais de 200 mil lojas

DEZ/2014 - 6,452

5,890 MILHÕES DE DESEMPREGADOS A MAIS

DEZ/2016 -  12,342

 

Massa de salário dos trabalhadores ocupados

DEZ/2014 -  R$ 188,542 bilhões

DEZ/2016  - R$ 180,504 bilhões

VARIAÇÃO - -8,038