O Estado de São Paulo, n. 45067, 08/03/2017. Política, p. A6

O amigo é Lula

Por: Vera Magalhães

 

Marcelo Odebrecht confirmou nos depoimentos que integram sua arrasadora delação premiada que o “amigo” ou “amigo de EO” que aparece em trocas de e-mails e planilhas do grupo é mesmo Luiz Inácio Lula da Silva. Procuradores que acompanharam a colaboração atestam: as revelações de Odebrecht são “arrasadoras” para o petista – o que ajuda a explicar a pressa em lançar sua candidatura à Presidência em 2018. Apesar do extraordinário crescimento que o grupo experimentou nos governos do PT, Odebrecht descreve a amizade entre o pai, Emílio, e o ex-presidente como um estorvo. Se queixa de que o pai cedia demais aos pedidos de Lula, o que obrigava a empresa a fazer investimentos desvantajosos. A delação do herdeiro é fulminante também para duas outras figuras de proa do petismo: Antonio Palocci e Guido Mantega. “Os dois morrem”, resume um integrante do Ministério Público, segundo o qual “não restará outra possibilidade de defesa” para o “Italiano” que não seja propor colaboração judicial para entregar a cadeia de comando dos favores que prestou e do dinheiro e distribuiu.

 

A LISTA 1

Janot deve evitar denúncias em ‘pacote’ da Odebrecht

Em fase de finalização dos procedimentos que encaminhará ao Supremo Tribunal Federal, Rodrigo Janot deve jogar na retranca e repetir o que fez em 2015: até agora não há nenhuma denúncia no pacote, só pedidos de abertura de inquérito. O procurador-geral da República quer evitar ser acusado de denunciar políticos com base apenas em delações, e vai pedir a produção de novas provas e a realização de diligências.

 

A LISTA 2

Para MPF, Supremo inviabilizou doação eleitoral como ‘álibi’

Às voltas com a finalização dos pedidos a partir da delação da Lava Jato, a PGR comemorou a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal que tornou réu o senador Valdir Raupp. As novas peças têm um arrazoado longo para sustentar que não importa se a destinação de recursos foi a campanha para determinar o crime, e sim se ele foi fruto de contrapartidas em favores. Os crimes de corrupção e lavagem independem da destinação dada ao dinheiro, dirão as peças.

 

A LISTA 3

Bloco ‘paulista’ de delações atinge tucanos e Kassab

Os tucanos são atingidos com intensidade diferente pelas delações da Odebrecht, principalmente pela de Benedicto Júnior, o BJ, que foi presidente da empreiteira. Embora mencione Geraldo Alckmin, os procuradores ainda não têm segurança sobre a “gravidade da conduta” que será imputada ao governador de São Paulo. Já José Serra será implicado diretamente. O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, é citado em mais de um episódio.

 

ELEIÇÕES 2018

Mais um obstáculo para o PT: procura-se marqueteiro

Além da Lava Jato no calcanhar de Lula, a rejeição recorde ao ex-presidente e o fato de o PT não contar mais com a poderosa máquina pública das últimas campanhas, a nova candidatura do ex-presidente esbarra na dificuldade de encontrar um marqueteiro. Depois da prisão de João Santana, dois nomes da “primeira divisão” das campanhas disseram não a sondagens da cúpula para encarar a empreitada. Um terceiro profissional, das divisões de base, também recusou.

 

ECONOMIA

Meirelles venderá discurso otimista em reunião do G20

O discurso de que o PIB desastroso de 2016 é apenas o “retrovisor” do governo Dilma, ensaiado ontem na reunião do Conselhão, será repetido, com doses maiores de otimismo, por Henrique Meirelles no encontro dos ministros da Fazenda do G20, na Alemanha, semana que vem. O auxiliar de Michel Temer vai defender que “fundo do poço” da crise já passou e que o Brasil é hoje a única grande economia a promover reformas estruturais, com concessões à iniciativa privada e redução dos gastos com a Previdência.

 

GOVERNO

Temer aposta em inauguração de obra para tentar bater bumbo

Temer decidiu transformar a inauguração do Eixo Leste da transposição do Rio São Francisco em um grande acontecimento. Transferiu o evento do próximo sábado para sexta- feira para poder levar parlamentares. Também decidiu fazer duas solenidades: uma para liberar água para o município de Sertânia (PE) e outra para Monteiro (PB). Assim, pretende faturar em dois Estados.

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TSE fará acareação com três delatores

Ex-executivos da Odebrecht serão ouvidos após relatos divergentes sobre doações a campanhas; relator pede a Moro compartilhamento de provas

Por: Rafael Moraes Moura / Beatriz Bulla / Erich Decat / Mateus Coutinho / Ricardo Brandt / Fábio Serapião

 

O ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da ação que apura abuso de poder político e econômico pela chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, reeleita em 2014, decidiu fazer uma acareação entre três delatores da Odebrecht que já prestaram depoimento à Justiça Eleitoral. Segundo informações do TSE, a acareação, marcada para a próxima sexta-feira, às 16 horas, na sede do tribunal, em Brasília, será feita com o herdeiro do grupo e ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e os ex-executivos Hilberto Mascarenhas e Cláudio Melo Filho.

Dos três, apenas Melo Filho viajará a Brasília; Mascarenhas e Marcelo Odebrecht – que está preso – participarão por meio de videoconferência.

Uma das razões para a acareação pode ter sido o fato de os delatores terem dado versões divergentes sobre doações e repasses das empreiteira para campanhas políticas.

Melo Filho confirmou ao ministro do TSE o que já havia relatado em seu acordo de delação premiada, de que Temer participou de uma reunião no Palácio do Jaburu e solicitou a Marcelo Odebrecht doações para o PMDB na campanha de 2014.

Em depoimento à Justiça Eleitoral na semana passada, Marcelo Odebrecht, no entanto, disse não se recordar de Temer ter pedido R$ 10 milhões diretamente.

O herdeiro da empreiteira confirmou o jantar no Jaburu e disse que o encontro era sobre tratativas para as doações ao PMDB nas eleições de 2014, mas disse que não houve pedido expresso de valores por Temer.

Segundo Marcelo, o encontro serviria para confirmar que parte da doação ao partido seria destinada à campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. O pagamento foi negociado, conforme Marcelo, entre Melo Filho e o ministro Eliseu Padilha, e o acerto do valor foi feito após a saída de Temer do local.

Skaf disse que “jamais” recebeu doação não contabilizada.

 

Valores. Delatores também citaram valores repassados pela empreiteira. Mascarenhas disse em depoimento ao TSE anteontem que o Setor de Obras Estruturadas da empreiteira, conhecido como “departamento da propina”, pagou US$ 3,4 bilhões em caixa 2 entre 2006 e 2014. Já o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou que repasse de R$ 21 milhões para PROS, PC do B e PRB.

 

Documentos. Além de decidir fazer a acareação com os delatores da empreiteira, o ministro Herman Benjamin solicitou a colaboração do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância da justiça, para que compartilhe com o tribunal documentos que tenham relação com “a ocorrência de eventual abuso de poder político e econômico na campanha eleitoral da chapa Dilma-Temer em 2014”.

Não é a primeira vez que TSE pede a colaboração de Moro.

Em fevereiro de 2016, atendendo a uma solicitação da corte eleitoral, o juiz da Lava Jato informou que, em uma das sentenças da operação, ficou “comprovado o direcionamento de propinas acertadas no esquema criminoso da Petrobrás para doações eleitorais registradas”.

Na ocasião, enviou notas fiscais, registros de transferências bancárias e recibos eleitorais de doações feitas ao PT oficialmente, no total de R$ 4,3 milhões, que, segundo a sentença da Lava Jato, serviram para ocultar “propinas”. Agora, a Corte Eleitoral quer saber se a investigação em primeira instância identificou também indícios de abuso de poder político.

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Executivo relata compra de apoio para campanha

Por: Rafael Moraes Moura / Beatriz Bulla

 

Em depoimento prestado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), anteontem, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar afirmou que a empreiteira pagou R$ 7 milhões para PROS, PC do B e PRB. Segundo ele, a quantia total de R$ 21 milhões – R$ 7 milhões para cada legenda – foi repassada via caixa 2 para garantir apoio político e tempo de TV das siglas à chapa que unia PT e PMDB na campanha de 2014.

Conforme relatos de presentes à audiência, Alexandrino disse ao ministro Herman Benjamin, relator no TSE da ação que pode levar à cassação da chapa Dilma-Temer, que o ex-ministro Edinho Silva, então tesoureiro da campanha, intermediou os pagamentos. Em nota, Edinho afirmou que a declaração é “um absurdo, sem nexo e sem lastro com a realidade”. “Jamais pedi doações que não fossem legais”, disse.

 

Defesas. A direção nacional do PROS afirmou que “ratifica que suas movimentações financeiras estão dentro dos parâmetros estabelecidos pela Justiça Eleitoral”. O PRB negou ter recebido qualquer dinheiro proveniente de caixa 2 da Odebrecht e afirmou que “em nenhuma circunstância qualquer membro do partido foi autorizado a receber recursos desta natureza”. O PC do B disse que não vai se pronunciar enquanto não tiver informações de fontes oficiais sobre o assunto.

A defesa do presidente Michel Temer afirmou que somente após o término das oitivas será possível avaliá-las, já que houve contradições entre testemunhas.

A defesa de Dilma não foi localizada. A Odebrecht afirmou que não comentaria o assunto.

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Temer diz não se preocupar com lista

 

O presidente Michel Temer afirmou ontem à noite que a lista de Rodrigo Janot de investigados na Lava Jato não o preocupa. “Se eu for me preocupar com isso, não faço mais nada”, disse ele em um restaurante em Brasília.