Recomeço 

George Vidor 

22/05/2017

 

 

Era para comentar alguns outros sinais de suspiros de recuperação que vêm aparecendo na economia brasileira. A questão do desemprego — face mais dramática de toda essa crise econômica — permanece muito séria, porém em quase todo o Brasil houve mais contratações do que demissões com carteira assinada no mês de abril. Até no sofrido Estado do Rio de Janeiro surgiram números positivos, considerando-se apenas os dados de emprego com carteira assinada no interior. Na capital e na região metropolitana ainda há mais demissões, ainda que o ritmo de dispensas tenha diminuído. Pelo andar da carruagem, em maio as estatísticas poderiam ser melhores.

Mas o Brasil não consegue se livrar da crise política. As denúncias de corrupção não param de surgir. Depois de tudo o que foi revelado pela Operação Lava Jato, esperava-se uma mudança radical na ética dos negócios no Brasil. Mas o que se vê é uma espécie de doença crônica. Nada parece funcionar de maneira correta. Sempre, em alguma instância, há episódio de corrupção, achaque, suborno, deixando a sensação de que somos um país de desonestos. Muitos políticos não se sentem constrangidos com a desonestidade porque acham que representam um povo desonesto.

Não é possível se conformar com isso. A desonestidade e a corrupção não são fatores intrínsecos aos sistemas econômico e político. O processo civilizatório foi criando defesas contra tais desvios que tanto prejudicam a sociedade. São as chamadas instituições. Se elas funcionam, a desonestidade e a corrupção deixam de ser a regra e viram a exceção. O homem é o lobo do homem, escreveu Hobbes, o que na prática significa dizer que precisamos nos defender de nós mesmos.

Neste momento difícil da conjuntura política, as instituições têm de funcionar. O Congresso deveria dar provas disso prosseguindo com as reformas. Com Temer ou sem Temer, são reformas para o país. Simplesmente não é possível conviver com um desequilíbrio tão explosivo na Previdência social. As finanças públicas precisam estar em ordem para que as taxas de juros caiam, e o custo de capital se torne atraente para o sistema econômico voltar a investir. O investimento é a mola propulsora de uma economia. Sem isso, vamos andar em círculo ou para trás.

As reformas são necessárias também para estados e municípios, que perderam a capacidade de investimento. Serviços básicos para a população se deterioram. O pesadelo da falta de segurança pública voltou a assombrar o Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste. No Rio, esse é um pesadelo que anula as principais vocações econômicas da cidade: o entretenimento, o turismo.

Então é hora de pensarmos mais no Brasil e ter esperança. Tomara que isso tudo esteja mesmo passando e que a luz comece a clarear os caminhos que vamos trilhar.

Na serra

Desde janeiro, a Concer — concessionária que administra a rodovia Rio-Juiz de Fora, trecho de maior movimento na BR-040 — tem um novo presidente, o mineiro Marco Ladeira. Assumiu com a missão espinhosa de buscar um termo que reequilibre as contas da concessionária, mantendo simultaneamente a estrada em boas condições de conservação. Uma das suas primeiras iniciativas foi convencer a área de engenharia a voltar a recapear a pista com pisos de concreto, em vez de asfalto, nos trechos da antiga subida. Ladeira diz que tem atendido a todas as solicitações do Tribunal de Contas da União e da ANTT, a agência reguladora do setor. Afirma que a Concer aceita qualquer solução que viabilize a retomada da obra de construção da nova subida da Serra de Petrópolis. Faltam apenas mil metros (de um total de cinco mil) para se concluir o túnel que encurtará significativamente o trajeto. A obra total poderia ser concluída em 18 meses, recomeçando em 30 dias, a partir do momento em que se definir uma solução. Pelo cronograma, restam 45% a fazer. A Concer levou ao TCU e à ANTT documentos mostrando que só foi remunerada em 30%.

O impasse atual não é bom para ninguém. A obra é mais do que necessária, devido ao grande fluxo de caminhões, ônibus e automóveis por um trecho construído em 1928, que não comporta mais tanto movimento. Acidentes são frequentes. Gasta-se mais combustível e tempo. A estrada é federal, sob concessão. Se o governo federal deseja mesmo dar uma ajuda para o Rio de Janeiro neste momento de angústia, uma solução para a retomada da obra seria um alívio.

 

O globo, n. 30604, 22/05/2017. Economia, p. 20