Produção industrial cresce menos que o esperado

Daniela Amorim e Maria Regina Silva

05/04/2017

 

 

Indústria teve alta de 0,1% em fevereiro, enquanto mercado previa 0,7%; para analistas, resultado reforça que retomada da economia será muito lenta

 

 

A indústria brasileira teve ligeiro crescimento de 0,1% na passagem de janeiro para fevereiro, depois de um recuo de 0,2% na produção no mês anterior, segundo dados divulgados ontem, 04, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de positivo, o desempenho do último mês frustrou expectativas de analistas de que o setor ajudasse na recuperação da atividade econômica de forma mais contundente neste início de ano. Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast apontava uma expectativa de crescimento de 0,7% no mês.

Os resultados reforçam que o processo de retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será lento, observou o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo. “O cenário de crescimento lento reforça o afrouxamento monetário”, disse, prevendo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve acelerar o ritmo de corte na taxa básica de juros, de 0,75 ponto porcentual para 1 ponto porcentual no encontro deste mês.

Numa avaliação mais dura, a corretora Gradual Investimentos diz que os dados da indústria confirmam o drama do setor e que seria ingenuidade tentar apontar bons indícios na pesquisa de fevereiro.

“Se observarmos a variação acumulada da série da produção física - ou seja, em termos reais por excelência -, teremos a péssima certeza que não saímos do lugar desde 2002”, apontou o economista-chefe da corretora, André Guilherme Perfeito, em relatório.

A indústria brasileira ainda opera 18,9% abaixo do pico de produção registrado em junho de 2013. A base de comparação depreciada ajudou a impulsionar os resultados da produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis em fevereiro, disse o IBGE.

A fabricação de bens de capital cresceu 2,9% em fevereiro de 2017 ante o mesmo mês do ano anterior, enquanto a produção de bens de consumo duráveis saltou 19,8% no período.

 

Comparação. “A base de comparação do setor industrial, em especial para essas duas categorias econômicas, registrava taxas negativas mais acentuadas. Os segmentos que tiveram queda importante no início de 2016 acabam tendo no início de 2017 uma expansão mais acentuada, como as atividades de máquinas e equipamentos, veículos automotores, produtos eletrônicos, máquinas e aparelhos elétricos”, justificou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Em bens duráveis, houve expansão na fabricação de automóveis e eletrodomésticos, enquanto a produção de bens de capital foi mais puxada por equipamentos para o setor agrícola. “Isso caminha na esteira dessa safra recorde esperada para este ano. Então, acaba tendo destaque importante para colheitadeiras, todo esse aparato para o setor agrícola”, lembrou Macedo.

A indústria havia recuado 11,5% no primeiro bimestre do ano passado. No primeiro bimestre deste ano, houve avanço de 0,3%. “O que tem de novo é que alguns segmentos importantes, alguns relacionados a bens duráveis, vêm de alguma forma melhorando seu nível de estoques. Mas a situação não está normalizada, o que faz com que um comportamento mais positivo num mês seja seguido por uma queda no mês seguinte”, ponderou Macedo.

 

No mesmo lugar

“Se observarmos a variação da série da produção física teremos a péssima certeza que não saímos do lugar desde 2002.”

André Guilherme Perfeito

ECONOMISTA-CHEFE DA GRADUAL

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Ritmo de crescimento vai se acelerar, diz Meirelles

Mariana Durão e Vinícius Neder

05/04/2017

 

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que projeta um crescimento de 2,7% no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre deste ano ante o quarto trimestre de 2016. A expectativa do ministro é que o Brasil comece o ano de 2018 crescendo a ritmo de 3%.

“O crescimento vai se acelerando durante o correr do ano e devemos entrar em 2018 com crescimento em ritmo acima de 3%”, disse Meirelles, após fazer discurso na cerimônia de abertura da Laad 2017, feira de negócios do setor de defesa, no Rio.

“O País está voltando a crescer, saindo dessa recessão, que de fato foi a maior da história. O importante é que aproveitamos essa crise e o País se motivou para tomar as medidas necessárias para voltar a crescer de forma sólida”, afirmou.

O ministro comentou também sobre os cortes no Orçamento.

Meirelles explicou que o Ministério da Fazenda não usou os recursos dos precatórios que foram depositados pela União, mas que ainda não foram sacados pelos beneficiários, por que faltou autorização do Tribunal de Contas da União (TCU).

“Devido a normas do TCU, são receitas que ainda não podem ser contabilizadas, porque não ocorreram e ainda não há documentação, licitações e decisões judiciais liberando os recursos.

Como a nossa abordagem é seguir estritamente as normas, os regulamentos e as leis, ainda não registramos essas receitas e contingenciamos despesas, visando assegurar o cumprimento da meta fiscal.”

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45095, 05/04/2017. Economia, p. B5.