Valor econômico, v. 17, n. 4238, 18/04/2017. Brasil, p. A4

IBC-Br surpreende e sugere 1º tri mais positivo

 

Tainara Machado
Eduardo Campos

 

O desempenho mais forte do comércio e dos serviços neste início de ano levou à revisão do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Em fevereiro, o indicador, que procura reproduzir o desempenho mensal do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 1,3%, enquanto o dado de janeiro foi revisto de uma queda de 0,26% para uma alta de 0,62%. Com a surpresa positiva confirmada pelo IBC-Br, vários economistas melhoraram as estimativas para o PIB do primeiro trimestre. A GO Associados, por exemplo, passou a projetar uma alta de 0,9%, ante estimativa anterior de crescimento de 0,3%, enquanto o Santander revisou o dado trimestral de 0,3% para 0,6%.

O Itaú, que estima crescimento de 0,5% da economia no período, em relação ao quarto trimestre, também deve elevar o número. "A dúvida é para quanto", diz o economista Artur Passos. A equipe do banco aguarda seminário que será organizado pelo IBGE hoje, no Rio, no qual o instituto deve apresentar as mudanças metodológicas nas pesquisas (ver IBGE apresenta mudanças em pesquisas).

Na semana passada, o IBGE anunciou uma mudança significativa nos dados de janeiro do comércio e de serviços - de queda de 0,7% para alta de 5,5% e recuo de 2,2% para aumento de 0,2%, nessa ordem. O Banco Central incorporou essas informações ao IBC-Br e revisou o índice de janeiro de queda de 0,26% para alta de 0,62%. Em fevereiro, o indicador registrou crescimento de 1,3%, acima da média das projeções coletadas pelo Valor Data, de 0,6%. A assessoria de imprensa do BC afirmou que o efeito das revisões concentrou-se no primeiro mês do ano e que "dados preliminares do IBC-Br antecipavam desempenho positivo para o resultado de fevereiro".

Para Passos, do Itaú, a reavaliação feita pelo IBGE aproximou os índices de janeiro dos modelos de projeção do banco e de outros indicadores coincidentes, como as vendas de veículos e nos supermercados. "Os sinais mais amplos são de melhora da atividade econômica. Temos sinais de recuperação, o que não é fruto só da revisão metodológica", diz ele.

Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, também ressalta que, com as revisões, os dados divulgados pelo IBGE mostram um retrato mais condizente com outros indicadores, que sugerem estabilização da atividade econômica. "Aquele tombo da Pesquisa Mensal de Serviços [em janeiro, de 2,2%], enquanto a indústria mostrava comportamento um pouco melhor, inflação estava desacelerando, não combinava com os fundamentos", diz.

A Tendências também colocou um viés positivo em sua estimativa de alta de 0,1% do PIB para o primeiro trimestre, mas ainda não mudou a projeção, porque não está claro como as mudanças metodológicas nas pesquisas mensais serão incorporadas às Contas Nacionais Trimestrais.

Para a GO Associados, que revisou a estimativa de PIB de 0,3% para 0,9%, a nova série da pesquisa de serviços está mais "colada" à realidade. Já no caso das vendas no varejo, em que a mudança foi mais brusca, diz o economista Luiz Castelli, o dado é mais "estranho".

Para o Santander, "a magnitude da revisão das séries causou certo estranhamento, especialmente no que diz respeito aos dados do varejo. Ainda que já esperássemos crescimento da atividade econômica no primeiro trimestre, as mudanças sugerem uma elevação acima do apontado pela maioria das variáveis antecedentes e coincidentes". O banco passou a projetar alta de 0,6% para o PIB no primeiro trimestre, mas manteve estimativa de crescimento de 0,7% no ano.

O comportamento de supermercados e de tecidos e vestuário, dentro do varejo, foi o que mais causou dúvida entre os economistas. Para Carlos Pedroso, do Banco de Tokyo, as variações expressivas de 8,1% e 12,8% para os dois grupos em janeiro, respectivamente, surpreenderam. O banco manteve estimativa de 0,4% para o PIB no primeiro trimestre, com viés de alta. "Mas preferimos aguardar os dados do mês de março", afirmou.

Flavio Serrano, do banco Haitong, avalia que distorções sempre vão aparecer quando o IBGE decide revisar a base de cálculo, o que pode levar a uma leitura equivocada sobre o comportamento da atividade. Para ele, os dados mais fortes de serviços e varejo podem ter efeito sobre o cálculo do PIB, mas isso não muda a avaliação de que o país estaria testando o fundo do poço. "Assim, essa revisão cria a falsa ilusão de que agora a economia está recuperando, quando, na verdade, está se estabilizando", diz o economista, que espera retomada modesta da atividade nos próximos meses, com intensificação a partir do segundo semestre do ano. A projeção do banco está em revisão, mas o Haitong esperava desempenho "ligeiramente acima de zero" no primeiro trimestre.

Já para Gustavo Arruda, do BNP Paribas, a revisão das séries aumentou a convicção de que a recessão ficou para trás. O banco manteve a estimativa de crescimento de 0,6% no trimestre.

Para o Itaú, apesar da surpresa com as revisões, a expectativa de crescimento no primeiro trimestre está muito mais calcada no forte desempenho do setor agropecuário e na indústria, com o carregamento estatístico positivo. Comércio e serviços, diz Passos, dão sinais de estabilização, com melhora da renda real em função da queda da inflação e sinais menos desanimadores no mercado de trabalho.

Sergio Vale, da MB Associados, ressalta que a recuperação do setor agropecuário, que deve puxar a atividade neste início de ano, não tem efeito isolado apenas sobre esse componente do PIB. Nos cálculos da consultoria, a cadeia de negócios do setor tem peso de quase 24% no PIB atualmente. "Crescer nas magnitudes que estamos vendo ocorrer leva a um efeito em cadeia de renda e consumo nas regiões em que o agronegócio tem peso, como já ocorreu em outros momentos no passado". Para ele, a revisão do IBGE reforçou a expectativa de crescimento de 0,7% do PIB no trimestre e de 1% no ano.

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Analistas voltam a cortar projeções para IPCA em 2017 e 2018

 

Ana Conceição
Alessandra Saraiva

 

Os participantes do mercado continuaram a reduzir as expectativas para a inflação ao consumidor neste e no próximo ano, enquanto os preços no atacado seguiram em forte queda. O boletim Focus, divulgado pelo BC, mostrou que a mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu - pela sexta semana consecutiva - de 4,09% para 4,06% em 2017. Para 2018, recuou de 4,46% para 4,39%. A mediana para 12 meses teve leve queda, de 4,60% para 4,59%.

Entre os analistas Top 5 de médio prazo, grupo que mais acerta projeções nesse horizonte, a previsão é que o IPCA feche o ano em 4,03%. Na semana anterior eles estimavam 4,11%. A estimativa para 2018 permanece em 4,25%. Assim como o mercado em geral, esse segmento do Focus manteve a expectativa de que a taxa Selic atinja 8,5% ao fim deste ano e fique nesse nível até o fim de 2018.

Também publicado ontem, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) teve deflação de 0,76% este mês, menor taxa desde janeiro de 2009, quando recuou 0,85%. Em março, o indicador da FGV subiu 0,05%. No primeiro quadrimestre, o índice aumentou 0,30%, e 3,89% nos 12 meses encerrados em abril.

O dado sucedeu um fechamento também bastante favorável de março, período em que o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) teve redução de 0,38%, resultado mais baixo para o terceiro mês do ano desde 2009 (-0,84%). O IGP-DI é apurado entre o primeiro e o último dia de cada mês, ao passo que o IGP-10 é calculado com base nos preços coletados entre os dias 11 do mês anterior e 10 do mês de referência.

A operação Carne Fraca, da Polícia Federal, pode ter contribuído para melhorar a oferta de itens na pecuária atacadista, disse Salomão Quadros, superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Com peso de 60% nos IGP-10, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 1,29% em abril, após recuo de 0,12% em março. O IPA de produtos agropecuários ampliou sua retração de 0,55% para 3,43%, ao passo que o índice industrial deixou alta de 0,04% e diminuiu 0,51%.

Os frigoríficos diminuíram a demanda junto aos pecuaristas, o que acabou por elevar oferta e derrubar os preços das carnes ao produtor como um todo. Para Quadros, é possível que os demais IGPs deste mês tenham resultado muito próximo ao do IGP-10, porque os preços agrícolas e de itens de pecuária devem continuar a mostrar quedas expressivas, contribuindo para reduzir preços no atacado.

Entre os produtos que mais contribuíram para o recuo ao produtor estão preços de peso na formação da inflação do atacado, como soja (-8,23%); milho (-12,33%); e mandioca (-10,30%). O superintendente lembrou as recentes notícias sobre safra recorde de grãos, principalmente soja, que derrubou as cotações.

Na pecuária, tiveram redução de preços itens como aves (0,22% para -3,07%); suínos (5,55% para -7,60%); e bovinos (-1,79% para -1,75%), o que, de acordo com Quadros, não se deve somente à Operação Carne Fraca. No setor agrícola, há um "espalhamento" de quedas e de desacelerações de preços, disse, o que pode conduzir a uma futura desaceleração nos preços do varejo, avaliou o economista.

Responsável por 30% do IGP-10, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) acelerou a 0,42% em abril, ante 0,32% em março. Quatro das oito classes de despesa do índice registraram alta. É o caso de alimentação (0,11% para 0,92%), saúde e cuidados pessoais (0,50% para 0,84%), educação, leitura e recreação (0,01% para 0,22%) e despesas diversas (0,56% para 0,64%). "Podemos dizer, no entanto, que o que contribuiu para a aceleração de preços no varejo foram os alimentos mais caros", diz Quadros.

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Superávit comercial chega a US$ 17,8 bi no ano

 

A balança comercial registrou superávit de US$ 1.829 bilhão na segunda semana de abril. De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), o resultado decorre de exportações de US$ 4,075 bilhões e importações de US$ 2,246 bilhões no período.

Na primeira quinzena do mês (nove dias úteis), a balança acumula superávit de US$ 3,422 bilhões e, no ano, o saldo positivo chega a US$ 17,840 bilhões.

As exportações acumuladas nas duas primeiras semanas de abril subiram 26,6% na comparação com a média diária registrada no mesmo mês do ano passado. As vendas diárias de US$ 973,3 milhões subiram impulsionadas pelas três categorias de produtos.

O embarque de semimanufaturados cresceu 32,5% para US$ 121,7 milhões, em média por dia, por conta de açúcar em bruto, celulose, óleo de soja em bruto, ouro em formas semimanufaturadas e produtos semimanufaturados de ferro e aço.

A venda de manufaturados subiu 25,7% para US$ 341,5 milhões, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, açúcar refinado, hidrocarbonetos e seus derivados halogenados e aviões.

As exportações brasileiras de produtos básicos aumentaram 25,6% para US$ 485,8 milhões, por conta, principalmente, de soja em grão, minério de ferro, petróleo em bruto, minério de cobre e carne suína.

As importações acumuladas durante este mês também subiram 12,9% em relação a abril de 2016 para US$ 593,1 milhões, pela média diária. Nesse comparativo, cresceu o volume de gastos feito pelo país, principalmente, com filamentos e fibras sintéticas (55,2%), combustíveis e lubrificantes (52,4%), borracha e obras (37,6%), equipamentos eletroeletrônicos (36,7%) e plásticos e obras (26,6%).