Valor econômico, v. 17, n. 4238, 18/04/2017. Política, p. A6

Temer resiste a demitir ministros citados na Lava-Jato

 
Bruno Peres
Andrea Jubé

 

O presidente Michel Temer classificou como "estarrecedor" o conjunto de informações revelado nos últimos dias na megadelação da Odebrecht. Defendeu as reformas, propôs que sejam votadas primeiro a Trabalhista e em seguida a da Previdência, apresentou detalhes do relatório final com as mudanças da previdência e reafirmou sua política de demissão de ministros de acordo com o andamento dos processos judiciais.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, ontem pela manhã, Temer disse considerar "muito provável" que alguns integrantes do primeiro escalão do governo fiquem desconfortáveis em meio a denúncias e peçam saída do cargo. Sua intenção, porém, é manter os critérios segundo os quais somente caso se torne réu o auxiliar será afastado definitivamente. Temer disse considerar a apresentação de denúncia uma "prova robusta", razão pela qual o ministro teria, nessa fase, um afastamento temporário.

"Não vou demitir ou exonerar simplesmente porque alguém falou do outro. Quando houver provas robustas, e a prova robusta mais evidente se dá pela hipótese da denúncia, daí é que eu começo a tomar providências", disse o presidente.

"O Brasil não pode parar, nós temos reformas pela frente. Já fizemos muita coisa no país neste menos de um ano que eu estou à frente do governo e temos que fazer muito mais. É estarrecedor, mas não deve ser paralisador. Não pode paralisar as atividades do Brasil", disse Temer na entrevista à rádio. À noite, ao conceder entrevista ao telejornal "SBT Brasil", o presidente reiterou. "O Brasil não vai parar. O Brasil tem instituições sólidas. Não vamos deixar que uma delação qualquer paralise o país", completou o presidente em entrevista veiculada à noite no "SBT Brasil".

Na entrevista ao SBT, Temer repetiu o que dissera à TV Bandeirantes, que o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha agiu por "vingança" do PT ao deferir o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, mas ressaltou que se tratou de um processo "avassalador", que se fosse negado teria recurso ao plenário e que esse episódio da vingança não pode anular o processo de impeachment, conforme chegou a propor a defesa da ex-presidente.

Em uma ofensiva para acelerar o ritmo das reformas, o presidente convidou para café da manhã no Palácio da Alvorada, residência oficial, todos os deputados que integram a base de apoio ao governo na Câmara. Em seguida, receberá senadores no Palácio do Planalto. Os dois encontros, promovidos para a apresentação formal da versão do Congresso à proposta original de reforma da Previdência Social, servirão também para o presidente tentar demonstrar que conta com apoio dos parlamentares ao se colocar à disposição para negociar as propostas apresentadas pelo governo ao Congresso.

Nos próximos dias, Temer ainda deverá participar de solenidades públicas com militares e diplomatas em Brasília. O presidente divulgou nota oficial e gravou video para redes sociais, antes de resolver conceder entrevistas, para contestar acusações envolvendo-o em negociação de recursos repassados da empreiteira para o PMDB e para convocar os aliados a reafirmar compromisso com a votação das reformas.

Temer também afirma acreditar que "muito proximamente" as investigações relacionadas à Lava-Jato avançarão na esfera judicial. Negou aproximação com ex-presidentes para buscar soluções para a política destruída pelas investigações e disse que não existe interferência em um assunto que estás inteiramente entregue ao judiciário.

"Nós vamos caminhar no plano ético fazendo com que as instituições funcionem: Polícia Federal, Ministério Público, Judiciário", afirmou Temer, descartando qualquer espécie de "acordão político" envolvendo a Lava-Jato e um esforço de sobrevivência de partidos políticos. "É absolutamente inviável", disse.

Temer admite que a reforma da Previdência Social é "sem dúvida mais complicada", mas procura demonstrar convicção de que a proposta será aprovada em função das negociações feitas pelo governo, com o acolhimento de sugestões feitas pelos parlamentares.