Valor econômico, v. 17, n. 4238, 18/04/2017. Empresas, p. B9

Daniel Dantas processa Citibank em Nova York

 

Rodrigo Carro

 

Uma novela que parecia encerrada - envolvendo Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, e Citibank, seu sócio na Brasil Telecom (BrT), que em 2008 foi comprada pela Oi - ensaia ganhar um novo fôlego. Dantas alega, em uma ação que tramita na justiça de Nova York, que ele e Dorio Ferman, também fundador do banco, foram "perseguidos, coagidos, processados fraudulentamente, presos, difamados e quase levados à falência" pelo Citibank.

Para isso, acusa também altos funcionários do governo do PT, usando a Lava-Jato como base de sua argumentação. No centro da discussão está o acordo que encerrou a disputa societária na Brasil Telecom, em 2008. O acordo entre os sócios da operadora - grupo que à época incluía Opportunity, Citibank e fundos de pensão estatais - permitiu que a BrT fosse vendida à Oi. A operação era crucial para a criação - com as bênçãos do governo federal - de uma campeã nacional no setor de telecomunicações.

De acordo com a petição inicial apresentada pelo escritório Boies, Schiller & Flexner à Corte Distrital dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York, Dantas teria sido avisado repetidamente de que não deveria se opor à criação da "supertele" verde e amarela - como era chamada a operadora brasileira. Como parte do acordo para encerrar a disputa societária na BrT, o Opportunity recebeu R$ 1 bilhão.

No modelo adotado pelo Brasil para a privatização do setor de telecomunicações, em 1998, o país foi dividido em três grandes áreas e uma mesma empresa não podia deter concessões em duas delas. Para não infringir a regulação, a BrT foi adquirida pelo Credit Suisse, que funcionou como comissionário (na prática, um intermediário) na operação de venda da operadora, lembra uma fonte que acompanhou de perto a transação, mas prefere não ter seu nome divulgado.

Dantas alega ter sido coagido a assinar o acordo entre sócios que permitiu a venda da BrT à Oi e vai mais longe ao afirmar que o governo brasileiro chegou a perseguir os juízes brasileiros que não compactuavam com seus interesses. "A Brasil Telecom foi um importante prêmio. O PT e seus aliados estavam ansiosos para explorar a Brasil Telecom para fins políticos e privados", argumentam os advogados de Dantas. O juiz responsável pelo caso deu prazo até 26 de abril para o Citibank responder às alegações do Opportunity. Para a instituição financeira americana, a ação "não tem fundamento".

O Opportunity, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou que deu entrada na ação em 17 de fevereiro, pleiteando "nada além do [seu] direito". O banco não quis detalhar qual seria o valor da indenização pretendida do Citibank. "[O banco] pediu à Justiça que examine os fatos, julgue os méritos e determine os valores do ressarcimento", informou a assessoria por e-mail. O Opportunity também não esclareceu quais seriam as novas evidências que serviram de base para a ação na Justiça americana. "As alegações e provas serão apresentadas ao Judiciário em seu devido tempo. Muitas evidências têm sigilo legal e, por isso, não podem ser disponibilizadas à imprensa", concluiu a instituição financeira.

Procurada para comentar o processo em curso, a Oi optou por não se manifestar sobre o assunto.