Para o PSDB, ‘governo acabou’ e saída é julgamento da chapa

Júnia Gama 

20/05/2017

 

 

Tucanos ainda ocupam quatro ministérios, mas podem romper

Diante da disposição do presidente Michel Temer de não renunciar em meio à crise instalada no governo com a delação do empresário Joesley Batista, o PSDB passou a mirar o processo de cassação da chapa presidencial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como saída mais viável para uma transição rápida e que deixe menos sequelas no país.

O julgamento da chapa está previsto para o dia 6 de junho, e a cúpula tucana já se articula com ministros da Corte para evitar que eventuais pedidos de vista atrasem o processo.

Há, no PSDB, um sentimento generalizado de que o governo Temer chegou ao fim, embora o partido ainda ocupe quatro ministérios na Esplanada. A análise entre as principais lideranças do partido é que o melhor seria a renúncia do presidente. Assim, haveria transição rápida. A cúpula tucana não descarta conversar com o presidente nos próximos dias para dizer que sua situação se tornou insustentável.

— A coisa está traçada. Não é descartado dizermos ao presidente que não é possível mais, precisamos encontrar uma saída para não parar o Brasil e refletir com ele sobre a conjuntura e ajudar no processo de transição. Se ele achar que tem condição de continuar, ele não contará conosco no governo — afirma um senador do PSDB.

QUEDA ATÉ A SEMANA QUE VEM

As lideranças tucanas avaliam, no entanto, que Temer deu demonstrações, nas horas que seguiram as revelações, de que não pretende abrir mão do cargo e que irá se “entrincheirar” no Palácio do Planalto, junto a auxiliares que têm interesses pessoais em permanecer no poder para manter o foro privilegiado, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral), ambos envolvidos na Lava-Jato. Daí a ideia de sensibilizar os ministros do TSE para que promovam um julgamento rápido, que proporcione desfecho menos “doloroso” para a crise.

— O governo acabou. O que estamos fazendo é tentar encontrar saída negociada para abreviar o sofrimento. Fazer agora uma debandada é acabar literalmente com governo e ameaçar de morte as reformas, porque o PSDB é o principal elemento da base. Como próximos passos, vemos ou a renúncia ou o julgamento no TSE. Alguns no partido entendem que o julgamento é menos traumático, seria a saída honrosa por se tratar de uma decisão judicial — argumentou um tucano.

Para outro parlamentar do PSDB, que participa das articulações do partido neste momento, o ideal seria Temer renunciar até a semana que vem. Isto evitaria o aumento da pressão popular e da instabilidade política:

— O ideal seria até semana que vem ele sair. Mas não sei se isso será viabilizado, ele talvez se agarre ao osso. O entorno dele, com Padilha e Moreira, vai orientá-lo a resistir. Preocupa porque teremos um presidente fragilizado com movimento de rua crescente e o Congresso em frangalhos. Isso vai para o campo das ameaças institucionais. Mas Temer terá encontro dia 6 no TSE — disse essa liderança tucana.

Caso o TSE determine o afastamento do presidente, a Constituição diz, em seu artigo 81, que, “ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei”. Há, no entanto, um debate jurídico sobre a possibilidade de que o tribunal determine a organização de eleições diretas, com base no Código Eleitoral.

O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), divulgou nota ontem afirmando que pediu aos ministros para permanecerem até a análise do conteúdo das gravações. Mas já há consenso de que é preciso fazer a transição.

 

O globo, n.30602 , 20/05/2017. País, p. 10