Saldo do PT - Contas de Dilma e Lula: US$ 150 milhões

Eduardo Barretto 

20/05/2017

 

 

Delator afirma que, segundo Guido Mantega, ex-presidentes sabiam e recebiam até extratos da propina

Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff sabiam de duas contas, em seus nomes, com US$ 150 milhões de propina da JBS, disse o dono da empresa em delação à Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo Joesley Batista, Guido Mantega, exministro da Fazenda dos governos petistas, disse que levava extratos bancários dessas contas de propina para Lula e Dilma. Em troca dos recursos, a JBS teria benefícios no governo e no BNDES. Os recursos teriam ficado em contas de Joesley, entre 2009 e 2014, e tudo, em torno de US$ 150 milhões, foi gasto na campanha de 2014.
— Quando terminou o governo Lula, no primeiro negócio que nós fizemos no governo Dilma, eu fui depositar na conta, e ele (Mantega) disse: “Não, não, não. Agora tem que abrir outra conta". Eu falei: “Por que abrir outra conta?”. Ele disse: “Não, não, não. Esta conta aqui é a conta do Lula. Esta aqui tem que abrir uma para a Dilma". Aí eu falei: “Ué, Lula e Dilma? Eles (Lula e Dilma) sabem disso? Curioso, né?”. Aí ele falou: “Não, sabem sim. Eu falo tudo para eles" — declarou Joesley em colaboração premiada. E emendou: — Tanto que eu sempre ia lá no ministério, sei lá, quando passava um certo período, um, dois, três meses, eu sempre pedia para levar o extrato e levar para o Guido. Ele pegava e dizia ele que ia mostrar para o Lula e para a Dilma.

De acordo com Batista, no governo Lula, quando Mantega presidia o BNDES, ele pagava propina por um intermediário, chamado de “Victor”, que seria amigo do ex-ministro. Victor recebia 4% de propina sobre os aportes do BNDES à JBS, como empréstimos. Até 2009, esses 4% seriam em torno de US$ 70 milhões.

“OUTRAS DUAS CONTINHAS”

A partir de 2009, o acerto passou a ser direto com Mantega, afirmou o delator. O petista não teria estipulado percentuais de propina. Deixou isso a cargo de Joesley. O ex-ministro teria orientado o empresário a não lhe entregar a propina. Pediu para que abrisse uma conta e deixasse as quantias lá, e, quando ele precisasse, avisaria. Segundo o relato, a conta aberta a partir de 2011, no governo Dilma, chegou a ter US$ 80 milhões. Já a conta Lula, que já estaria em funcionamento, chegou a ter US$ 70 milhões, totalizando o valor de US$ 150 milhões.

— Eu sempre achei que era dele (Mantega), da pessoa física, pessoalmente. Ao longo do tempo, no final, quando chegou em 2014, o dinheiro foi usado todo na campanha da Dilma.

Joesley relata ainda aos investigadores que ele já tinha as duas “continhas”, e ele mesmo as administrava. Antes de 2014, ele diz que só fez, a pedido de Mantega, duas “movimentaçõezinhas”. Uma seria de US$ 5 milhões e outra, de US$ 20 milhões.

DILMA E LULA NEGAM

A ex-presidente Dilma Rousseff disse ontem que são “inverídicas” as afirmações do empresário Joesley Batista, que em depoimento contou que havia contas no exterior, para pagamento de propina, cujos beneficiários eram a própria petista e o ex-presidente Lula. Dilma disse que não tem contas no exterior. A nota divulgada pela assessoria afirma que “Dilma rejeita delações sem provas ou indícios e que a verdade vira à tona”.

A assessoria de imprensa da ex-presidente acrescentou que ela nunca autorizou a abertura de empresas em paraísos fiscais. “Dilma jamais tratou ou solicitou de qualquer empresário ou de terceiros doações, pagamentos e ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos. E jamais teve contas no exterior. Nunca autorizou, em seu nome ou de terceiros, a abertura de empresas em paraísos fiscais. Reitera que jamais autorizou quaisquer outras pessoas a fazê-lo”, diz a nota.

A defesa de Lula afirma que “os próprios trechos vazados à imprensa não decorrem de qualquer contato com o ex-presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados.”

“A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares foi — ilegalmente — devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos — bancário, fiscal e contábil — foram levantados e nenhum valor ilícito foi encontrado, evidenciando que Lula é inocente. Sua inocência também foi confirmada pelo depoimento de mais de uma centena de testemunhas já ouvidas — com o compromisso de dizer a verdade — que jamais confirmaram qualquer acusação contra o ex-presidente.”

“A referência ao nome de Lula nesse cenário confirma denúncia já feita pela imprensa de que delações premidas somente são aceitas pelo Ministério Público se fizerem referência — ainda que frivolamente — ao nome do ex-presidente.”

OS EX-PRESIDENTES NAS DELAÇÕES DA JBS

 

 

O globo, n. 30602, 20/05/2017. País, p. 12