Impeachmnt - JBS pagou votos pró-Dilma

Carolina Brígido

20/05/2017

 

 

Joesley Batista afirmou que comprou apoio de cinco deputados à então presidente na votação do processo contra ela na Câmara

“Foi uma situação constrangedora. Eu disse: ‘João, faz o seguinte, cinco deputados por R$ 3 milhão (sic), você pode comprar, por minha conta. Trinta, eu não dou conta de comprar. Compra cinco lá por minha conta’” Joesley Batista

Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal, o dono da JBS, Joesley Batista, disse que negociou o pagamento de R$ 15 milhões para serem distribuídos a cinco deputados. Em troca do dinheiro, eles votariam contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no plenário da Câmara dos Deputados. A negociação teria sido feita por meio do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), que teria pedido o dinheiro. O delator admitiu ter pago apenas R$ 3 milhões do total prometido. Ele contou que até hoje o parlamentar telefona para ele cobrando o pagamento do restante do valor.

— Ah, esses dias, ele me mandou uma mensagem. Aí, eu não respondi o WhatsApp dele — revelou o empresário.

Segundo o delator, Bacelar, que era contrário ao impeachment, foi até a casa dele no sábado anterior à votação na Câmara e disse que estava “desesperado”. O parlamentar teria pedido o pagamento de R$ 5 milhões a 30 deputados, totalizando R$ 150 milhões. Joesley teria se recusado a pagar a quantia pedida, mas disse que aceitou disponibilizar R$ 15 milhões, a apenas cinco deputados da lista apresentada. O delator contou que conferiu, durante a votação transmitida pela televisão, que todos os deputados comprados tinham de fato votado contra o impeachment.

— Foi uma situação constrangedora. Eu disse: “João, faz o seguinte, cinco deputados por R$ 3 milhão (sic), você pode comprar, por minha conta. Trinta, eu não dou conta de comprar. Compra cinco lá por minha conta" — disse o empresário.

Joesley afirmou aos investigadores que ouviu de Bacelar que o ex-ministro dos Transportes Antônio Carlos Rodrigues, também do PR, tinha pago a dívida com os deputados. Caberia ao empresário ressarcir o valor, que deveria ser repassado por meio de Bacelar. O delator disse que nunca recebeu qualquer pedido de pagamento do ex-ministro.

— Ele me disse que o PR já tinha pago e tinha que ressarcir o Antônio Carlos. Não sei se é verdade. O Antônio Carlos não me procurou, e também não procurei ele — declarou Joesley.

O delator disse aos investigadores que não se lembrava do nome dos deputados da lista.

Como se sabe, os pagamentos não foram suficientes para impedir que o processo prosseguisse. Por 367 votos favoráveis e 137 contrários, a Câmara aprovou a autorização para que o caso fosse remetido ao Senado. Houve sete abstenções e somente dois ausentes dentre os 513 deputados. A sessão durou 9 horas e 47 minutos.

 

O globo, n. 30602, 20/05/2017. País, p. 13