Aécio - Repetidos pedidos de ajuda financeira

Manoel Ventura 

20/05/2017

 

 

Delator afirma que investidas começaram em 2014, depois de a JBS ter sido principal doadora eleitoral

No depoimento de delação premiada à Procuradoria-Geral da República (PGR), Joesley Batista, dono da JBS, relata seguidos pedidos de dinheiro feitos pelo senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e por pessoas ligadas a ele.
Joesley afirma que conheceu Aécio em 2014, durante a campanha presidencial. No ano seguinte, relata o empresário, “ele continuou precisando de dinheiro” e repassou R$ 17 milhões para o político por meio da compra de um prédio indicado por Aécio.

— Conheci ele (Aécio) na campanha de 2014. Nós fomos o maior doador da campanha dele. Em 2015, ele seguiu precisando de dinheiro. Através da compra de um predinho em Belo Horizonte, esse dinheiro chegou na mão dele. Foi R$ 17 milhões. Foi o Aécio que indicou um amigo. Mas esse dinheiro chegou na mão dele — afirmou o delator.

Joesley relata ainda que, em 2016, Aécio pediu R$ 5 milhões para pagar dívida com advogados.

— Aí começou as investigações em cima de mim e eu chamei esse amigo dele, o Flávio Carneiro, e pedi, pelo amor de Deus, para parar de me pedir dinheiro. Eu pedi ao Flávio: “Flávio, pede o Aécio lá… Ele me pediu R$ 5 milhões para pagar advogado, mas eu não posso, estou sendo investigado”. Aí ele falou com o Aécio, que parou de me ligar.

Já neste ano, conta o empresário, a irmã de Aécio, Andrea Neves, pediu R$ 2 milhões também para quitar débitos com advogados. Andrea foi presa pela Polícia Federal na quinta-feira, em decorrência da delação do dono da JBS.

— Ela (Andrea) disse que o Aécio mandou me procurar porque precisava de R$ 2 milhões para pagar advogado. Eu avisei que, no fundo, nós precisávamos arrumar, maquiar, fazer uns contratos fictícios para dar ar de legalidade do que a gente tinha feito em 2014 na campanha, que tinha um monte de coisa ilegal que a gente fez na campanha.

Diante de mais uma negativa de Joesley, Aécio se reuniu pessoalmente com o empresário, em um hotel em São Paulo. Segundo o delator, na ocasião, Aécio pediu R$ 2 milhões e ofereceu ao empresário que indicasse um nome para uma diretoria da Vale.

— Ele (Aécio) queria os R$ 2 milhões (...) Eu expliquei que não dava para pagar advogado e sugeri pagar em dinheiro. Ele perguntou como, e eu disse que, se fosse pessoalmente, eu mesmo pagava. Mas ele nominou que seria o primo dele, Fred.

AÉCIO: NÃO HÁ ATO CONTRA A LAVA-JATO

O diretor da JBS disse que a irmã do senador, Andrea Neves, afirmou que precisava de R$ 40 milhões para comprar um apartamento da mãe, no Rio de Janeiro. No depoimento, ele disse que chegou a se encontrar com Andrea em uma escola.

No entanto, após o encontro com Aécio, o senador afastado disse que esquecesse essa questão dos R$ 40 milhões pedidos pela irmã.

Sobre pedido de pagamento pela defesa na Lava-Jato, a defesa de Aécio afirma que fez pedido de empréstimo ao empresário. Ontem, em nota, o senador afastado falou sobre as acusações de obstrução de justiça e negou que tenha agido para atrapalhar a operação Lava-Jato.

Em conversas que manteve com o empresário Joesley Batista, dono da JBS e autor das gravações, Aécio fala sobre tentativas de evitar punições a quem praticou o caixa 2 e também da aprovação do projeto de abuso de autoridade como forma de frear os investigadores. Os diálogos foram incluídos no despacho de 48 páginas do ministro do STF Edson Fachin sobre o afastamento do tucano de suas funções como senador.

“Não existe qualquer ato do senador Aécio Neves, como parlamentar ou presidente do PSDB, que possa ter colocado qualquer empecilho aos avanços da Operação Lava-Jato. Ao contrário, como presidente do partido, o senador foi um dos primeiros a hipotecar apoio à operação. Manifestar posições em relação a propostas legislativas é algo inerente à atividade parlamentar, o que possibilitou inclusive a introdução no texto sobre abuso de autoridade de sugestões feitas tanto pelo senhor procurador-geral, como pelo juiz Sérgio Moro, a exemplo da retirada do texto do chamado crime de hermenêutica, de cujo entendimento o senador participou intensamente”, diz a nota divulgada pela assessoria de Aécio.

Na nota, o tucano comenta trecho que trata de controle sobre delegados federais.

“Em relação aos comentários feitos em conversa privada sobre delegados da Lava-Jato, o senador emitiu uma opinião em face da demora da conclusão de alguns inquéritos. O senador jamais agiu ou conversou com quem quer que seja no sentido de criar qualquer tipo de empecilho à Operação Lava-Jato ou à Polícia Federal, que sempre teve seu trabalho e autonomia apoiados pelo senador em suas agendas legislativas, e também como dirigente partidário. Fato que pode ser verificado nas diversas oportunidades em que ele se pronunciou publicamente em apoio à instituição e na defesa no Orçamento da União da garantia dos recursos necessários para o cumprimento das atividades de polícia”.

 

O globo, n. 30602, 20/05/2017. País, p. 14