Lava-Jato prende ex-banqueiro ligado a Cunha

Amanda Audi, Gustavo Schmitt e Cleide Carvalho 

27/05/2017

 

 

Nova fase da operação investiga propina na Petrobras para compra de campo de petróleo na África

-CURITIBA E SÃO PAULO- A 41ª fase da Lava-Jato levou para a prisão, em Curitiba, o ex-banqueiro José Augusto Ferreira dos Santos, dono do BVA, banco que foi à falência em 2013. Santos é suspeito de ter atuado como intermediário de propina e teve prisão temporária decretada depois que documentos da Suíça mostraram que ele era sócio do operador João Augusto Rezende Henriques, ligado ao PMDB. Ele se entregou no fim da tarde de ontem, acompanhado por advogados.
Santos e Henriques, que já foi condenado na Lava-Jato, eram sócios na offshore Stingdale Holdings, constituída no Panamá. A conta da empresa na Suíça recebeu US$ 1,1 milhão em 2012 de uma das contas por onde passou dinheiro de propina do contrato fechado pela Petrobras para explorar um campo de petróleo em Benin, na África. A operação de ontem foi batizada pela Polícia Federal de “Poço Seco”, já que a estatal teve prejuízo no negócio e não achou petróleo no local. A aquisição desse bloco de exploração já levou à condenação do ex-deputado federal Eduardo Cunha a 15 anos de prisão, acusado de ter recebido US$ 1,5 milhão em propina. Cunha está preso.

Em depoimento, Santos afirmou que abriu a offshore com Henriques para operar um fundo de opções de óleo no mercado futuro. Disse que investiu US$ 1,4 milhão no negócio e que era o beneficiário econômico da conta na Suíça, mas desconhecia os pagamentos vinculados a contratos da Petrobras.

Santos também é sócio majoritário da FA2F Participações (antiga Itatiba Assessoria), que tem como administrador um filho de Henriques. A empresa teve sigilo bancário e fiscal quebrados depois que a forçatarefa da Lava-Jato descobriu que ela recebeu, entre 2010 e 2012, R$ 31,3 milhões de empreiteiras envolvidas no cartel da Petrobras — Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS.

PORTO MARAVILHA

O ex-banqueiro é também dono de uma conta no banco BSI, na Suíça, em nome da offshore Penbur Holding, que recebeu 1,1 milhão de francos suíços de um dos dirigentes da Carioca Christiani Nielsen Engenharia, Ricardo Pernambuco, um dos delatores da Lava-Jato. O empresário disse que os pagamentos nessa conta foram feitos por indicação de Eduardo Cunha e envolviam acertos de propina do Porto Maravilha, no Rio.

Outro delator, Flávio Freitas, disse ter se encontrado com Santos a pedido do lobista Milton Lyra de Oliveira Filho, que seria ligado ao senador Renan Calheiros e alvo na 35ª Fase da Lava-Jato. Na delação de Flávio Machado, da Andrade Gutierrez, Santos é também citado por ter sido indicado por Romero Jucá para acertos de propina da obra de Angra III, da Eletronuclear.

Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o envolvimento de Santos não significa que ele tenha atuado como representante do BVA. As contas de Santos e da FA2F foram bloqueadas.

A propina de Benin atingiu US$ 34,5 milhões, e a investigação da 41ª fase busca identificar quem se beneficiou com US$ 10 milhões pagos a Henriques.

Segundo o Ministério Público Federal, uma das pessoas foi o ex-gerente da área Internacional da Petrobras, Pedro Xavier Bastos, que recebeu US$ 4,8 milhões numa conta na Suíça. Ele teve prisão preventiva decretada e suas contas foram bloqueadas. Num primeiro depoimento, ele negou conhecer Henriques. Em dezembro, prestou novo depoimento e disse que recebeu a quantia como “prêmio”.

Também está sendo investigada Fernanda Luz, filha do lobista Jorge Luz, que segue preso em Curitiba e é apontado como operador do PMDB. Ela recebeu US$ 131,5 mil em 2011 por meio de uma empresa nos Estados Unidos.

Outra empresa situada nos EUA, a Osco Energy, de três irmãos brasileiros, recebeu US$ 550 mil. Apenas um deles, Fábio Casalicchio, foi levado coercitivamente a depor.

Os outros dois, Guilhermes Casalicchio e Carlo Luigi Casalicchio , moram nos EUA.

 

O globo, n. 30609, 27/05/2017. País, p. 9