AVAL PARA PRESSÃO - Temer autorizou Joesley a ser mais firme com Meirelles

Gabriela Valente 

Guilherme Amado

19/05/2017

 

 

Dono da JBS pediu para recorrer ao nome do presidente quando precisasse convencer ministro da Fazenda a defender interesses de suas empresas
 
 Na reunião que teve com Michel Temer, o empresário Joesley Batista pediu e recebeu aval do presidente para poder ser “mais firme” com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao tratar de assuntos de interesse da JBS.
 

Joesley diz que Meirelles é resistente a algumas conversas e pede autorização para usar o nome de Temer nas conversas com o ministro.

— Queria ter alguma sintonia contigo pra poder falar com ele e ele não jogar: ah não, o presidente não deixa... “Ô Henrique, você é um banana, pô? Você não manda porra nenhuma?”. Eu falei com ele pelo Cade. O presidente do Cade ia mudar, né, mudou, sei lá, botou alguém aí.

Temer questiona se já houve a mudança. Joesley diz que sim, e que tentou interferir na nomeação.

— Aí eu falei: ei, pô, o presidente do Cade tem que botar. “Ah, isso aí não...” Quer dizer o seguinte, resumindo, que eu também não sei se é hora de mexer alguma coisa porque dentro do contexto geral, também não quero importunar ele... Eu trabalhei com ele quatro anos. Se eu for mais firme com ele, “pô, Henrique, tem que..” eu acho que ele corresponde.

Joesley pergunta ao presidente se pode recorrer ao nome dele ao tratar com Meirelles.

— Se ele jogar para cima de você, eu posso bancar e dizer: Qualquer coisa, eu falo com ele.

A resposta é inaudível, mas o empresário fala “pronto” e diz que não pedirá nada descabido.

— Eu falei para ele: Henrique, é importantíssimo o presidente do Cade ser ponta firme.

Em seguida, Joesley revela outro cargo de interesse: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

— Agora, tá o presidente da CVM para trocar ou não troca. É outro lugar fundamental.

— Você devia falar com ele — responde o presidente da República.

— Isso, mas é que se eu falar com ele. Eu poder dizer: não, peraí — argumenta Joesley.

— Mas pode fazer — avaliza Temer.

— É só isso que eu queria, ter esse alinhamento. Para ele perceber que nós temos.. Mas quando eu digo ir mais firme no Henrique, é isso... esse alinhamento que eu queria ter ... — Tá bom, pode fazer — repete o presidente. Outro exemplo de sintonia entre Temer e Joesley aparece na conversa do empresário com o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), indicado pelo próprio Temer como seu interlocutor, no dia 13 de março. Nesse diálogo, Rocha Loures mostra que o governo estava à disposição dos interesses dos donos do grupo J&F, que controla a JBS e outras empresas.

Joesley diz precisar que “posições-chave” em órgãos órgãos como o Cade, a CVM, a Receita, o Banco Central e a Procuradoria da Fazenda Nacional sejam ocupadas por pessoas que possam destravar negócios das empresas do grupo J&F.

Joesley: “Eu só preciso é resolver meus problemas ... não é que eu gostaria que fosse João ou Pedro...” Loures: “O importante é que resolva. A partir daí, Loures faz uma série de telefonemas na frente de Joesley com interlocutores de alguns desses órgãos, para mostrar o acesso a todos eles.

 
O globo, n.30601 , 19/05/2017. País, p. 7