ATRÁS DAS GRADES - Irmã e primo de Aécio vão para presídio

SILVIA AMORIM

 MIGUEL CABALLERO

JAILTON CARVALHO

19/05/2017

 

 

Andrea Neves e Frederico Pacheco foram presos em casa; Polícia federal apreende R$ 2 milhões em busca

A Polícia Federal apreendeu grande quantidade de dinheiro, celulares, um tablet e documentos na casa do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e em mais 40 endereços de pessoas ligadas a ele e ao presidente Michel Temer (PMDB). Na mesma operação, a polícia prendeu Andrea Neves e Frederico Pacheco Medeiros, irmã e primo do senador, e mais outras seis pessoas suspeitas de receberem suborno da JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista.

O deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR), que está retornando dos Estados Unidos, foi afastado do mandato. Ex-assessor de Temer, Loures é acusado de intermediar em nome do presidente uma propina R$ 480 milhões, que seria paga pela JBS ao longo de 20 anos.

Durante a operação, a PF apreendeu R$ 2 milhões. A polícia não especificou, no entanto, o local onde o dinheiro foi encontrado. Os policiais ainda cumpriram mandado de busca e apreensão na fazenda de Aécio no município de Cláudio, interior de Minas. Uma viatura com quatro policiais chegou à Fazenda da Mata, ao amanhecer, e recolheu documentos. A Fazenda da Mata fica próxima ao aeródromo de Cláudio, em outra propriedade da família do senador, e sobre o qual pesa contra Aécio a acusação de têlo transformado em um aeroporto particular.

Pela influência que sempre teve na carreira política do senador Aécio Neves, a irmã mais velha do tucano, Andrea Neves foi o destaque das prisões realizadas ontem na operação deflagrada pela Lava-Jato. Presa no início da manhã em sua casa num condomínio de alto padrão em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, a primogênita dos Neves passou metade do dia na sede da Polícia Federal na capital mineira. Policiais tentaram colher o depoimento de Andrea, suspeita de ter tratado com o empresário do grupo JBS, Joesley Batista, a entrega de R$ 2 milhões a Aécio, mas ela preferiu ficar em silêncio.

 

ADVOGADO DIZ QUE PRISÃO É “DESARRAZOADA"

Mais acostumada aos bastidores da política do que aos holofotes, a irmã do senador entrou e saiu do prédio da PF tentando esconder o rosto no banco de trás da viatura policial. O advogado dela, Marcelo Leonardo, não quis falar sobre a condição emocional de sua cliente, e classificou como “desarrazoada” a prisão preventiva expedida pelo Supremo Tribunal Federal.

— Ela é réu primária, tem bons antecedentes, residência fixa e família constituída. Por isso a prisão é absolutamente desarrasoada — disse o advogado Marcelo Leonardo.

Depois de passar por exames no Instituto Médico Legal, Andrea foi levada à única penitenciária feminina de Belo Horizonte, a Estevão Pinto. Ela ficará em uma cela individual de 2,50 metros por 2,30 metros, com cama, vaso sanitário e chuveiro em uma ala separada do pavilhão principal. Terá direito a quatro alimentações diárias, banho de sol e visitas. No fim da tarde, a polícia divulgou fotos de Andrea já fichada e usando uniforme do presídio.

O governo de Minas Gerais não divulgou o número de detentas nem de vagas na unidade, mas, como a maioria do sistema prisional no país, o complexo penal Estevão Pinto sofre com a superlotação. Em janeiro deste ano, presas lideraram um motim na penitenciária por conta das condições precárias.

A defesa não soube informar ontem quando deverá pedir a liberdade de Andrea, alegando que ainda não havia tido acesso às investigações. Num breve comentário sobre a situação jurídica da irmã de Aécio, Leonardo sinalizou qual deverá ser a linha de defesa.

— Uma relação de caráter pessoal sem vínculo com a administração pública seja dela ou do irmão foi usada por quem estava negociando delação para obter benefícios. É mais um problema da delação no Brasil — afirmou.

A tese foi a mesma usada pelo senador mineiro. Na casa de Andrea, policiais apreenderam dois celulares e um computador.

O advogado afirmou ainda que Andrea tem uma filha que vive em Londres e, portanto, seria natural que tivesse passagem comprada para o destino. Mas ele não soube dizer se ela tinha planos de viajar por esses dias.

 

BUSCA NA CASA DE AÉCIO EM BRASÍLIA

O apartamento que Aécio possui no bairro Anchieta, na zona sul de Belo Horizonte, foi objeto de mandado de busca e apreensão. Na ocasião, o imóvel estava vazio e um chaveiro teve que ser chamado para abrir a porta. Um primo do senador, Frederico Pacheco, que teve cargo na gestão de Aécio no governo de Minas e foi um dos coordenadores da campanha presidencial do tucano em 2014, também foi preso e teve sua casa vistoriada. Ele foi levado para a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana.

Frederico é primo distante de Aécio. Eles conviveram na infância e parte da juventude em Cláudio, mas o vínculo das últimas décadas o levou para o círculo mais íntimo do político mineiro. A discrição sempre foi uma de suas marcas.

No início da noite de ontem a Polícia Federal foi até um escritório que Andrea tem no centro de Belo Horizonte atrás de documentos que teriam sido ocultados da operação pela manhã. Segundo reportagem do jornal “O Tempo", policiais federais receberam uma denúncia de que um caminhão chegou por volta das 7 horas ontem no local e descarregou diversas caixas no escritório.

Eram seis horas da manhã em ponto, quando policiais tentavam, sem sucesso, iniciar uma busca na casa de Aécio Neves na capital federal. A busca foi pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e autorizada pelo STF.

Só quinze minutos depois, quando os investigadores já começavam cogitar a possibilidade de arrombar a porta principal que uma voz respondeu a uma chamada no interfone a abriu um portão lateral para passagem dos investigadores. Sem esboçar qualquer reação, o senador também acompanhou as buscas em cada um dos cômodos da casa.

A ação durou menos de duas horas. Os policiais deixaram a casa levando sacolas com celulares, pelo menos um tablet e documentos. Aécio teria tentado demover os policiais da ideia de levar um de seus celulares. Disse que o equipamento era novo, sem uso. Mas os policiais não se convenceram com as explicações e incluíram o equipamento da lista de bens apreendidos.

O globo, n.30601 , 19/05/2017. País, p. 12