Faltou trabalho para 26,5 milhões de brasileiros no 1º trimestre

Daiane Costa

19/05/2017

 

 

 

Dos brasileiros em idade ativa, 24,1% estão sem emprego ou trabalhando menos do que gostariam Faltou trabalho para 24,1% das pessoas em idade produtiva no Brasil, o correspondente a 26,5 milhões de pessoas no primeiro trimestre do ano. Essa é a chamada taxa composta da subutilização da força de trabalho — divulgada ontem pelo IBGE —, que agrega os índices de desemprego, desemprego por insuficiência de horas trabalhadas e força de trabalho potencial. No quarto trimestre de 2016, essa taxa foi de 22,2% e, no primeiro trimestre do ano passado, de 19,3%.

A taxa combinada de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e desemprego (pessoas ocupadas com uma jornada de menos de 40 horas semanais, mas que gostariam de trabalhar em um período maior, somadas às pessoas desocupadas) foi de 18,8%, sendo 5,3 milhões subocupados e 14,2 milhões desocupados.

Já a taxa combinada da desocupação e da força de trabalho potencial — que abrange os desocupados e as pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho, ou que procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar —, foi de 19,3%, o que representa 21,3 milhões de pessoas.

A taxa de desocupação, que ficou em 13,7%, aumentou em todas as regiões do país no primeiro trimestre deste ano, em relação ao quarto trimestre do ano passado. No Norte, subiu de 12,7% para 14,2%; no Nordeste, de 14,4% para 16,3%; no Sudeste, de 12,3% para 14,2%; no Sul de 7,7% para 9,3%; e no Centro-Oeste, de 10,9% para 12,0%.

Entre os estados, a Bahia tem o maior índice de desemprego, de 18,6%. O Rio também encerrou o primeiro trimestre acima da média nacional, em 14,5%, alta em relação ao último trimestre do ano passado, quando ficou em 13,4%, e ao mesmo período de 2016 (10%). A menor taxa está em Santa Catarina (7,9%).

Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, ressalta que os dados mostram que o aprofundamento da crise do mercado de trabalho é generalizado:

— Os 26 milhões de pessoas subutilizadas refletem um aumento generalizado em todas as unidades da federação, capitais e regiões metropolitanas do país. Dentro dessa taxa estão os desocupados, grupo que cresceu em todas os unidades da federação na comparação com o último trimestre do ano passado e em relação ao primeiro trimestre de 2016.

 

PERCEPÇÃO DE MELHORA AFETADA

A bomba que se abateu sobre o governo Temer pode adiar a recuperação do mercado de trabalho, que era prevista por analistas para a segunda metade deste ano. Isso porque a incerteza que se abateu sobre o mercado vai atrasar a recuperação econômica, inibindo investimentos e, consequentemente, contratações.

— Sem dúvida a percepção de melhora é afetada, e a recuperação do mercado de trabalho vai demorar mais a acontecer, com risco de nem ocorrer no curto prazo — analisa Silvio Campo Neto, economista sênior da Tendências Consultoria.

O rendimento médio real dos trabalhadores ficou acima da média do Brasil (R$ 2.110) nas regiões Sudeste (R$ 2.425), CentroOeste (2.355) e Sul (R$ 2.281) e abaixo no Nordeste (R$ 1.449) e no Norte (R$ 1.602).

Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas Públicas do FGV/IBRE, ressalta que a estabilização das demissões pode ficar para ano que vem:

— Dependendo do tempo que se demore a resolver a questão política, pode ser que a taxa não se reverta este ano. E a partir do momento que o mercado melhora, mais pessoas que tinham desistido de procurar passam a buscar trabalho, pressionando a taxa.

O globo, n.30601 , 19/05/2017. Economia, p. 28