Senador é alvo de seis inquéritos no STF

18/05/2017

 

 

Aécio é investigado por caixa 2 em campanha e propina em obras de Minas

 

O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, que teve mais de 51 milhões de votos na última eleição presidencial, é alvo de seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal, cinco deles decorrentes da delação de ex-executivos da Odebrecht. O tucano foi acusado de organizar um cartel entre empreiteiras na licitação das obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, que abriga a sede do governo local, e de receber propina em troca da obras. Os delatores também o apontaram como beneficiário de vantagens indevidas em contratos do setor energético. E ele também será investigado por receber e pedir doações por caixa 2 em campanhas eleitorais. Ainda há um outro inquérito no STF que investiga a participação do senador mineiro em desvios nos contratos de Furnas, estatal do sistema Eletrobrás.

 

PROPINA E FRAUDE NA CIDADE ADMINISTRATIVA

Os delatores Sérgio Luiz Neves e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-dirigentes da Odebrecht, disseram em delação que no início de 2007 Aécio, então recémempossado para o segundo mandato de governador de Minas Gerais, teria organizado esquema para “fraudar processos licitatórios mediante organização de um cartel de empreiteiras”, para a construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais, sede do governo mineiro, com o objetivo de “obter propinas decorrentes dos pagamentos das obras”. O inquérito está no STF e apura uma propina de R$ 5,2 milhões. A assessoria de Aécio afirma que o pagamento de R$ 5,2 milhões “não existiu” e que as obras “foram conduzidas de forma absolutamente correta”. “O edital foi previamente submetido ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas e as obras auditadas em tempo real por uma empresa independente, sem que qualquer irregularidade fosse constatada”, afirmou a assessoria.

 

PROPINAS NO SETOR ELÉTRICO

Aécio será investigado por suposto recebimento de vantagens indevidas da Odebrecht, que tinha por objetivo obter ajuda em empreendimentos como os do Rio Madeira e nas usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Segundo o delator Henrique Valladares, os valores pagos em cada prestação giravam em torno de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, sendo pagos por meio do setor de propinas da companhia. Aécio era identificado como “Mineirinho”. Marcelo Odebrecht relatou ainda que o senador tinha “forte influência na área energética, razão pela qual o Grupo Odebrecht concordava com expressivos repasses financeiros em seu favor”. A assessoria do tucano afirmou que obras de energia mencionadas por Marcelo (Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira), foram conduzidas pelo governo federal, do PT, sem, portanto, qualquer interferência do governo de Minas.

 

CAIXA 2 NA PRÉ-CAMPANHA

Com base na delação dos ex-executivos da Odebrecht, a PGR vai investigar o senador e presidente do PSDB por corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro por supostas doações por caixa 2 para a campanha de 2014. Marcelo Odebrecht afirmou ter colaborado com aproximadamente R$ 5 milhões para a pré-campanha de Aécio à Presidência, valores não declarados oficialmente ao TSE. A assessoria de Aécio negou que ele tivesse recebido R$ 5 milhões na précampanha tucana. “Na verdade, os valores foram doados integralmente durante a campanha eleitoral e estão devidamente declarados ao TSE”, afirmou a assessoria.

 

CAIXA 2 PARA ALIADOS A PEDIDO DO SENADOR

Em outro inquérito, Aécio também será investigado por ter pedido doações por caixa 2 para sua campanha e de aliados. São citadas campanhas de vários parlamentares, entre eles o senador Antônio Augusto Anastasia (MG). A assessoria do senador Aécio informou que “delatores são unânimes em declarar que as doações (ao PSDB) não implicaram em ato ilícito de contrapartida ou propina” e que “tais valores não existiram”.

 

DOAÇÕES POR CAIXA 2 AO SENADOR ANASTASIA

O presidente do PSDB também será investigado num inquérito que apura doações ilegais para a campanha de seu aliado, o senador Antônio Anastasia, ao governo mineiro em 2010. Com base nos depoimentos dos ex-executivos da Odebrecht, dois pagamentos serão alvo da investigação. Um de 2010, de R$ 5,475 milhões. E outro em 2009, de R$ 1,8 milhão. Nos dois casos, os pedidos de doação teriam sido feitos por Aécio Neves. A respeito disso, assessoria do senador também disse que “delatores são unânimes em declarar que as doações (ao PSDB) não implicaram em ato ilícito de contrapartida ou propina” e que “tais valores não existiram”.

 

LISTA DE FURNAS

O senador tucano é alvo ainda de outro inquérito no STF que investiga a distribuição de propinas de contratos em Furnas, uma das estatais do setor elétrico que integram o sistema Eletrobras. Segundo a investigação, o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo era indicado por Aécio para comandar o esquema de corrupção e os recursos desviados eram divididos entre o PT e o senador tucano. A eventual participação de Aécio no esquema que desviava dinheiro de Furnas foi apontada por dois delatores da Lava-Jato: o doleiro Alberto Youssef e o exsenador Delcídio Amaral (PT). Por nota, a assessoria de imprensa do senador disse que “Aécio Neves é o maior interessado na realização das investigações porque o aprofundamento delas provará a absoluta correção de seus atos”.

 

O globo, n.30600 , 18/05/2017. PAÍS, p. 5