JOESLEY, O DELATOR

Danielle Nogueira

18/05/2017

 

 

Dono da maior empresa de proteína animal do mundo, executivo e seu grupo são alvo de 5 operações da PF

Há pouco mais de uma década, o herdeiro do maior frigorífico brasileiro passaria despercebido no noticiário. Mas Joesley Batista, o empresário que delatou que o presidente Michel Temer apoiou a compra do silêncio do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conforme o site do GLOBO revelou ontem, já estampava nos últimos meses o noticiário por suspeitas de irregularidades nos negócios, que vão de pagamento de propina a favorecimento em aportes do BNDES. Joesley preside a holding J&F, controladora de empresas tão distintas como a JBS (dona das marcas Friboi e Seara e maior empresa de proteína animal do mundo) e a Eldorado, do ramo de celulose

Em público, ele nega as irregularidades. Mas Joesley, seu irmão Wesley Batista ou suas empresas se tornaram alvo de ao menos cinco operações da Polícia Federal em menos de um ano. Na mais recente delas, a Operação Bullish, deflagrada na semana passada, o empresário é investigado por transações envolvendo a JBS e o BNDES que teriam causado prejuízo de R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos.

Nascido em Formosa, pequena cidade de Goiás, Joesley acompanhava seu pai, José Batista Sobrinho (cujas iniciais dão nome à empresa), nos negócios desde jovem. A família fundou nos anos 1950 a Casa de Carne Mineira, que, apesar do nome, era sediada em Anápolis, no interior goiano. O açougue pegou carona na construção de Brasília, época em que abastecia os refeitórios das grandes empreiteiras envolvidas nas obras da nova capital. Nas décadas seguintes, iniciou um processo de aquisição de frigoríficos, tornando-se uma companhia de atuação nacional.

Mas foi na gestão de Joesley que a JBS se internacionalizou. Sua atuação na presidência executiva, entre 2006 e 2011, quando passou o bastão para Wesley, marca a consolidação do conglomerado como o maior processador de carne bovina do mundo. Foram várias as aquisições, entre elas a compra das americanas Swift e da Pilgrim’s Pride. No Brasil, Joesley capitaneou a compra de todas as unidades de carne bovina do grupo Bertin.

Boa parte das aquisições teve ajuda do BNDES, dentro da estratégia adotada então pelo banco de escolha dos “campeões nacionais”. Foram mais de R$ 5 bilhões em apoio financeiro, especialmente por meio de compras de participações ou de títulos de dívida. Desde sua consolidação internacional, o JBS viu seu faturamento anual saltar de R$ 4 bilhões (2007) para mais de R$ 160 bilhões. Suas fábricas exportam para mais de 150 países.

Joesley também passou a ser conhecido fora dos limites do setor agropecuário. O conglomerado que lidera é dono das marcas Havaianas, dos produtos de limpeza Minuano e do banco Original. E passou a circular com desenvoltura no meio político. Seu grupo foi um dos maiores doadores da campanha eleitoral de 2014, para diversos partidos. Só para a chapa Dilma e Temer foram mais de R$ 50 milhões.

 

VIAGEM COM DOLEIRO E CASAMENTO DE CELEBRIDADE

O crescimento dos negócios fez a fortuna de Joesley e de seus irmãos aumentar. Com exceção de José Batista Sobrinho Júnior, que ensaiou carreira política e deixou a J&F, Joesley, Wesley e as três irmãs têm igual participação na holding, ao lado do pai. Mas, diferentemente deles — com exceção de Wesley, que também está no dia a dia das empresas do grupo e faz algumas aparições públicas, os demais são avessos à mídia —, Joesley se tornou figurinha fácil em eventos sociais.

Seu casamento com a ex-apresentadora da Band Ticiana Villas Boas teve show de Ivete Sangalo e da dupla Bruno e Marrone. A festa foi tema de reportagens em revistas de celebridades, com destaque para o vestido Chanel de Ticiana, que nas semanas anteriores ao matrimônio viajou quatro vezes a Paris para fazer provas de roupa.

Com Ticiana, Joesley teve seu quarto filho, batizado com seu nome e que hoje tem dois anos. Os três primeiros, Murilo, Munir e Monize, são de um relacionamento anterior. Joesley tem 44 anos.

Com um jatinho à disposição, Joesley — que não costuma tirar férias — aproveita feriados prolongados para fazer viagens ao exterior a lazer. Em uma delas passou alguns dias no Caribe acompanhado de Fábio Cleto, ex-executivo da Caixa Econômica Federal, e do doleiro Lúcio Funaro, apontado como interlocutor do ex-deputado Eduardo Cunha. O passeio veio à tona na delação de Cleto, que acusa executivos da Eldorado (empresa do grupo de Joesley) de lhe terem pago propina para liberar recursos do FI-FGTS, administrado pela Caixa.

As relações suspeitas com Cleto e outros nomes envolvidos em esquemas de corrupção fizeram Joesley ou suas empresas se tornarem alvo da LavaJato. Desde julho de 2016 o executivo é investigado pela PF em três operações — Sépsis, Greenfield e Cui Bono — que apuram suspeitas de pagamento de propina para liberação de recursos do FI-FGTS e investimentos de fundos de pensão de estatais nas empresas do grupo. Este ano, o conglomerado foi alvo de mais duas operações: Carne Fraca, que apura irregularidades em frigoríficos, e Bullish.

Joesley — que viajava quando a Operação Bullish eclodiu — continuava no exterior até ontem. Sua volta ao Brasil estava prevista para o dia 22 de maio, para depoimento à PF em Brasília.

O globo, n. 30600 , 18/05/2017. PAÍS, p. 7