Governo buscou um nome mais próximo aos empresários

Matha Beck, Letícia Fernandes, Cassia Almeida e Ramona Ordoñes 
27/05/2017
                                                                          

 

-BRASÍLIA E RIO- Cada vez mais enfraquecido, o presidente Michel Temer perdeu ontem um dos nomes de grife de sua equipe econômica, a economista Maria Silvia Bastos, e nomeou para a presidência do BNDES um amigo pessoal, o atual presidente do IBGE, Paulo Rabello de Castro. Essa solução caseira foi adotada porque, ao tentar escolher, às pressas, um substituto para Maria Silvia, Temer e seus principais ministros da área econômica, Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento, pasta à qual o BNDES é subordinado), não conseguiram encontrar um nome que fosse respaldado imediatamente por entidades empresariais de peso, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que vinha fazendo duras críticas à ex-presidente do banco.
— O presidente precisa de apoio do PIB (Produto Interno Bruto) agora — afirmou ao GLOBO um interlocutor do governo.

FIESP NÃO SE PRONUNCIA

Procurada, a Fiesp não quis se pronunciar sobre a escolha de Paulo Rabello. Outras entidades empresariais elogiaram a escolha e destacaram a importância de o BNDES ser mais ágil na definição de seus projetos. Os empresários cobram incentivos à economia em um momento em que o PIB precisa se recuperar.

Em vídeo divulgado ontem à noite na página do IBGE no Facebook, Paulo Rabello diz que “foi convocado no fim da tarde pelo presidente Michel Temer e que vai para o banco com o desafio de “juntar pessoas, cumprir missões e melhorar o ambiente econômico, devolver mais confiança para o setor produtivo, principalmente para o machucado setor industrial brasileiro”.

Maria Silvia era uma das estrelas da área econômica. Com ela, o governo dava ao banco credibilidade e uma resposta às críticas de que Temer não tinha mulheres em cargos de primeiro escalão. Por isso, a saída agora, em meio a uma crise política aguda, é especialmente negativa para o Palácio do Planalto, comentou a fonte.

Quando escolheu a economista para o cargo, Temer também quis dar força a Henrique Meirelles. Havia vários candidatos dispostos a assumir o comando do banco. Mas a palavra final foi do ministro da Fazenda, que teria maior controle sobre a política fiscal. O BNDES foi um dos instrumentos do governo Dilma Rousseff para a prática das pedaladas (empréstimos de bancos públicos ao Tesouro) e para tentar turbinar o PIB.

Em meio aos rumores de que outros integrantes do governo poderia entregar seus cargos, na sequência de Maria Silvia, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, garantiu que permanece no cargo enquanto forem mantidas as condições que foram acertadas quando ele assumiu a estatal, em junho do ano passado. O mandato de Parente termina em abril de 2019.

— Tenho um compromisso com a Petrobras. Enquanto eu puder desenvolver nosso trabalho com as condições que combinei, sigo aqui — disse Parente.

Em nota, o Palácio do Planalto informou que Paulo Rabello começa a trabalhar já na semana que vem. Em um curto comunicado enviado pelo IBGE, Rabello, que ficou à frente do instituto por 11 meses, afirmou que assumia a presidência do BNDES como um “ibegeano”: “Não recuo diante de missão difícil”.

OPOSIÇÃO NO IBGE

Na última quarta-feira, em entrevista ao “Valor”, ele disse que o ambiente na economia “não melhorou”. Perguntado sobre uma possível interferência do IBGE para produzir dados mais favoráveis para o governo em meio à crise política, o economista disparou:

— Que se dane o governo. Não tô aqui nem para produzir dados bons nem dados ruins para ninguém, os dados são o que são.

Na segunda-feira, Paulo Rabello se reunirá com o conselho diretor do órgão e, mais tarde, participará da cerimônia de aniversário de 81 anos do instituto e do lançamento da Agência IBGE de Notícias, que foi sua criação.

Ainda não foi anunciado o novo presidente do IBGE. À frente do instituto, Paulo Rabello não foi bem aceito pelos funcionários, por ser um nome de mercado, sócio da SR Ratings e da RC Consultores. No início do mês, o Sindicato Nacional dos funcionários protocolou uma representação no Ministério Público Federal contra o economista.

 

O globo, n. 30609, 27/05/2017. Economia, p. 23