Título: O peso dos conservadores
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 08/01/2012, Mundo, p. 16

Para confirmar o favoritismo e se tornar o adversário de Barack Obama no pleito de 6 de novembro, Mitt Romney precisa conquistar a confiança dos republicanos radicais. Analistas políticos o apontam como o candidato mais preparado para disputar a Casa Branca

Em grande parte por influência do movimento Tea Party, o Partido Republicano dos Estados Unidos se lançou na campanha 2012 ainda mais inclinado à direita. A defesa fervorosa das plataformas conservadoras por seus eleitores, na última semana, quase tirou seu pré-candidato líder de pesquisa da corrida presidencial. Considerado moderado, Mitt Romney ficou apenas oito votos à frente de um pouco conhecido Rick Santorum no caucus de Iowa e viu que, para conquistar a confiança e o apoio dos republicanos, precisará sobreviver às desconfianças dos mais radicais.

Para muitos analistas políticos norte-americanos, Romney é apontado como o mais preparado e aquele com maiores chances de enfrentar o presidente democrata, Barack Obama, nas eleições de 6 de novembro. Experiente em temas econômicos e único a se manter na liderança nas pesquisas de intenção de voto, Romney entrou na campanha como favorito. Isso, no entanto, não significa que ele não precisará suar sua camisa dentro do próprio partido para concorrer à Casa Branca. Dono de um perfil mais moderado, o pré-candidato encontrou pelo caminho um recrudescimento dos discursos de direita entre os republicanos, muito em função da atual situação econômica dos Estados Unidos.

Segundo o cientista político Wayne Moyer, do Grinnell College (Iowa), há nesse momento uma grande desconfiança do eleitorado com relação a um governo que remeta ao período da fundação do país. "Ela é sempre mais forte quando a economia não vai bem", afirma. Para ele, o movimento conservador Tea Party, que se destacou no meio da crise econômica, é uma manifestação desse sentimento. A pré-candidata representante dessa tendência, Michele Bachmann, anunciou sua saída da corrida após o mau desempenho em Iowa, mas o Tea Party ainda pode influenciar a disputa republicana se manifestar apoio a algum dos pré-candidatos.

Se o resultado apertado do caucus de Iowa deu um susto em Romney, a próxima etapa, as primárias de New Hampshire, na terça-feira, deverá ser conquistada com facilidade, como apontam as pesquisas de opinião. O desafio mesmo será a fase seguinte, das primárias da Carolina do Sul, no dia 21. Para seguir em frente, o perfil moderado de Romney precisará resistir a esse estado conservador e desbancar definitivamente seus competidores. A Carolina do Sul tem histórico de disputas políticas agressivas e também de escolher aquele que acaba vencendo na convenção nacional.

Para atravessar a fase mais difícil dentro das prévias, o ex-governador de Massachusetts tem passado um bom tempo enfatizando quão conservador e à direita ele é, no esforço de conquistar o apoio decisivo do partido. A cientista política Mellissa Miller, da Universidade Estadual Bowling Green (Ohio), pondera que essa fase prévia de escolha dos candidatos, de caucuses e primárias, é sempre marcada pela radicalização das ideologias dos partidos, uma vez que quem realmente participa são os eleitores mais engajados, algo que também ocorre entre os democratas. "Como resultado, os candidatos que brigam pela nomeação do Partido Republicano tentam se mostrar mais para essa parcela dos eleitores", explica. "Em alguns casos, eles enfatizam suas credenciais conservadoras e inclinadas à direita, mais até do que realmente são."

Estável Mesmo sem causar grande entusiasmo no Partido Republicano, Romney é unanimidade entre os analistas para disputar a vaga do partido nas presidenciais deste ano. Uma das principais razões, a mesma que o levou a entrar na campanha como favorito, é o fato de ele liderar as pesquisas de opinião sem oscilações. Apesar de não ter um grande crescimento, ele também nunca despencou, ao contrário dos outros pré-candidatos.

Combinado a isso, o ex-governador tem a seu favor uma grande capacidade de arrecadação de recursos para sua campanha. Esse aspecto deverá fazer muita diferença nos próximos meses, com a sucessão de primárias estaduais. Na impossibilidade de comparecer e fazer campanha em todos os estados, os pré-candidatos precisarão investir muito em propaganda na televisão. "Ele é o único candidato com condições para fazer campanha nessas condições", opina Miller. O cientista político Tim Werner pondera que Romney não é o melhor nome para unificar a legenda, mas é o pré-candidato para o qual os republicanos votarão "de maneira massiva" em uma disputa com Obama, em novembro. "Romney será o nome do partido, mas se ele vai unificar a legenda, isso é bem diferente", diz.

A falta de entusiasmo com o candidato pode criar um outro problema para Romney. Segundo Moyer, há uma grande chance de boa parte dos republicanos não irem votar em 6 de novembro, como apontam algumas pesquisas. Se o cenário de Iowa se repetir, o fato poderá fazer toda diferença em uma eleição apertada.

Duas perguntas para - Mellissa Miller, cientista política

Se Mitt Romney for o candidato dos republicanos, quem poderia ser seu vice? É difícil dizer um nome específico, mas ele precisa escolher um candidato com uma forte plataforma em política externa, como o presidente Barack Obama fez em 2008 (quando convidou o senador Joe Biden para ser seu vice). Um bom conhecimento nessa área seria o critério número 1 para a escolha e para balancear a chapa, já que sua grande experiência é na área econômica.

E quais seriam os outros critérios? Mitt Romney tem uma grande experiência em administração, já que foi governador do estado de Massachusetts. O que ele não tem é experiência no Congresso. Então ele deveria escolher alguém com experiência em legislar, principalmente nos temas de política externa. E para compensar seu perfil moderado, deveria escolher alguém com fortes credenciais conservadoras. Isso seria fundamental para que ele ganhasse o voto dos mais radicais.