PF investiga corrupção no Ministério da Agricultura

Jailton de Carvalho e Eliane Oliveira 

17/05/2017

 

 

Esquema envolveria frigoríficos e empresas de laticínios em cinco estados

Servidores do Ministério da Agricultura foram alvo, ontem, de duas operações realizadas pela Polícia Federal, que identificou esquemas de corrupção. Na primeira delas, chamada Operação Lucas, funcionários são suspeitos de receber suborno para manipular processos administrativos de interesse de frigoríficos e empresas se laticínios. Líderes do grupo teriam movimentado R$ 3 milhões entre 2010 e 2016. Na Operação Fugu, a PF identificou a importação de peixe adulterado, que vinha da China e do Vietnã.

Na Operação Lucas, a PF expediu dez mandados de prisão e 16 de condução coercitiva de funcionários e representantes de empresas acusadas de corrupção. Os policiais também efetuaram busca e apreensão em 36 endereços dos investigados. Uma das pessoas presas foi a ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Tocantins, Adriene Carla Floresta Feitosa. Para a polícia, ela teria articulado as supostas fraudes na fiscalização.

A PF afirmou que as investigações reforçam as suspeitas sobre a fiscalização do Ministério da Agricultura identificadas pela Operação Carne Fraca. Mas deixou claro que, desta vez, não há indícios de adulteração de carnes e outros produtos. As fraudes estariam relacionadas a atrasos no andamento de processos administrativos e na cobrança de multas.

MINISTÉRIO AFASTA SERVIDORES

Só um dos chefes da fiscalização teria tido um aumento de patrimônio de 200%. Ele é suspeito de receber mesadas para favorecer empresas com o afrouxamento da fiscalização. Pelo menos 120 policiais estão mobilizados para cumprir os mandados em São Paulo, Pernambuco, Maranhão, Pará e Tocantins, este último base das investigações.

“A investigação começou após denúncia de que frigoríficos e empresas de laticínios fiscalizadas teriam sido favorecidas em processos administrativos, por meio do retardamento na tramitação e anulação de multas”, explica a PF.

Na Operação Fugu, empresas catarinenses foram alvo da polícia, e cinco funcionários do alto escalão do Ministério da Agricultura de Santa Catarina foram afastados do cargo. Há indícios de corrupção e eles teriam dificultado a fiscalização nas empresas que cometiam as irregularidades.

Em viagem à Arábia Saudita, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, divulgou uma mensagem informando que afastará “imediatamente” os servidores envolvidos no esquema de corrupção descoberto pela Operação Lucas.

“Já sabíamos que outros casos viriam à tona, uma vez que, após a Operação Carne Fraca, aumentamos o rigor nas apurações internas, fornecendo inclusive material de apoio à PF e ao MP”.

Mais tarde, em um novo comunicado, o Ministério da Agricultura informou que todos os servidores envolvidos na ação foram afastados preventivamente por 60 dias e os que possuem cargos em comissão, exonerados das funções.

 

O globo, n. 30599, 17/05/2017. Economia, p. 20