‘FORA, TEMER’ E ‘DIRETAS JÁ’ EM COPACABANA

Chico Otavio

29/05/2017

 

 

Com músicos e artistas no palanque, como Caetano Veloso e Milton Nascimento, manifestação reúne multidão na Avenida Atlântica

Parlamentares criticaram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, por não analisar pedidos de impeachment de Michel Temer

Caetano Veloso, Milton Nascimento e outros nomes da música estiveram em ato na Praia de Copacabana que pediu a renúncia de Michel Temer e a realização de eleições diretas. Segundo os organizadores, partidos de esquerda e movimentos sociais, o evento reuniu 100 mil. A PM não fez estimativa. Ao som de Caetano Veloso, cantando “Podres poderes”, partidos políticos e movimentos sociais de oposição ao governo Temer esperam ter iniciado ontem, na Praia de Copacabana, uma jornada de atos pelo Brasil a favor das eleições diretas antecipadas para presidente. Os organizadores pretendiam repetir cenas do movimento das Diretas Já, de 1984, mas na manifestação na Avenida Atlântica, entre as ruas Siqueira Campos e Figueiredo Magalhães, o público só mostrou força quando músicos mais famosos, liderados por Caetano e Milton Nascimento, subiram no trio elétrico para cantar seus hits.

Nas contas dos organizadores, cerca de 100 mil pessoas foram ao ato, no momento de pico, no fim da tarde. A PM do Rio não faz estimativa. Se o clima não ajudou — ventava e fazia frio na orla coberta por névoa —, por outro lado não houve provocações que marcaram atos de movimentos de esquerda na cidade. Embora os parlamentares presentes tenham defendido estratégias, no Congresso e na Justiça, para abreviar o mandato de Temer, eles reconhecem que dificilmente elas vão prosperar sem mobilização popular.

Durante as seis horas de manifestação, em que os discursos políticos se alternavam com shows, os gritos mais ouvidos foram “Fora, Temer” e “Diretas já”. Muitos manifestantes vestiam camisas com a estampa da campanha de 1984, desenhada por Henfil. Bandeiras, balões e faixas de partidos e entidades sindicais coloriam o ambiente, predominando a cor vermelha. No carro de som, o ator Wagner Moura, mestre de cerimônia do ato, se dizia convencido de que os presentes faziam história:

— Nós que estivemos na rua contra o golpe que levou Temer à Presidência, agora temos o segundo round. Não é possível Temer continuar, nem esse Congresso escolher o substituto. Pode não ser ilegal, mas é imoral e ilegítimo. E o ovo da serpente são essas reformas, trabalhista e previdenciária.

Atrás do carro, políticos explicavam os caminhos para concretizar o “Fora, Temer”. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) lamentou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tenha se sentado em cima dos pedidos de impeachment. Molon disse que o parlamento, composto por deputados investigados na Lava-Jato, não tem legitimidade de escolher o sucessor de Temer. O senador Lindbergh Faria (PT-RJ) disse acreditar que um projeto de lei, estabelecendo eleições diretas, será aprovado quarta-feira na comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Já parte do público disputava selfies com artistas como Daniel Oliveira, Sophie Charlotte, Gregório Duvivier, Maria Casadevall, Antonio Pitanga, Osmar Prado, Cristina Pereira. O ato conquistou definitivamente o público quando as principais atrações subiram ao trio. Mano Brown, Criolo e Maria Gadu foram os primeiros. E o ápice foi quando Caetano e seu violão atacaram de “Podres poderes”, “Alegria, alegria”, “Um índio”, emocionando os presentes. O cantor pediu, várias vezes, “Fora, Temer”. Milton fez com Caetano um dueto para “Paula e Bebeto”, cantando em seguida “Coração de estudante” e “Nos bailes da vida”.

Os organizadores encerraram o ato dizendo que, em São Paulo, domingo que vem, o público será maior.

 

O globo, n. 30611 , 29/05/2017. PAÍS, p. 4