A descontrução de Dilma 

Eduardo Bresciani e Carolina Brígido 

13/05/2017

 

 

Os vídeos da delação premiada de João Santana e Mônica Moura expõem detalhes da conduta da ex-presidente Dilma Rousseff e demonstram o conhecimento dela sobre pagamentos irregulares em sua campanha e a preocupação de que tudo viesse à tona na Operação Lava-Jato. De acordo com os relatos, Dilma sugeriu ao casal transferir uma conta no exterior da Suíça para Cingapura — o que, segundo especialistas, configura crime de obstrução à Justiça —, avisou sobre sua iminente prisão e tratou diretamente de caixa dois, prometendo até pagar antecipadamente em 2014.

Mônica contou que eram recorrentes os pedidos para mudar a conta do casal da Suíça para outro país. Era por esse meio que eles recebiam os pagamentos ilegais da Odebrecht. A publicitária disse que não faria isso de jeito nenhum, por não considerar que fazia algo errado. Em 2015, a sugestão de Dilma foi para transferir tudo para o país asiático.

— Ela sugeriu uma vez que a gente mudasse para Cingapura, que ela ouviu falar que era um lugar muito seguro, que a Suíça já estava muito (visada) — afirmou a empresária.

A delatora contou ainda que o casal foi avisado por telefone pela própria ex-presidente sobre os mandados de prisão contra eles na Lava-Jato. — Recebemos um e-mail dela de que precisava de um telefone seguro para falar comigo ou com o João, que ela tinha um telefone seguro no Alvorada. Estávamos na República Dominicana, era seguro o fixo da Dominicana. O João falou com ela nesse telefone na noite do dia 21 de fevereiro, ou do dia 20. E fomos avisados que foi visto um mandado de prisão assinado contra a gente. Não fizemos nada, ficamos esperando. No dia 22 estourou a operação. Estávamos esperando — diz Mônica.

— A presidente ligou para vocês? — questiona uma investigadora.

— A presidente liga para a gente, fala com o João. Fala pessoalmente — afirmou a delatora.

Mônica conta detalhes sobre como foi a criação de contas de e-mails secretos para que o casal pudesse ser avisado sobre o avanço das negociações. Ela afirma que o nome “Iolanda” usado no primeiro e-mail foi sugerido por Dilma como referência à mulher do general Costa e Silva, presidente na ditadura militar. Os dois delatores relatam que, dias antes da prisão, a presidente mandou um e-mail cifrado para alertar sobre o avanço da investigação. O email foi registrado em cartório por advogados, quando o casal estava preso, no ano passado.

Santana disse que, em maio de 2014, almoçou com Dilma no Alvorada e que ela teria prometido que os pagamentos clandestinos da campanha à reeleição seriam feitos antecipadamente.

O casal contou ter demorado a receber recursos da campanha de 2010 e teria ficado com um débito de R$ 25 milhões em caixa 2 que não foi pago devido ao avanço da Lava-Jato.

Mônica relatou gastos de R$ 170 mil em “favores” para Dilma. O casal bancou uma assessora pessoal (R$ 4 mil mensais) e o cabeleireiro Celso Kamura.

 

 

O globo, n. 30595, 13/05/2017. País, p. 3