Odebrecht teria pedido ajuda para persuadir Dilma a barrar Lava-Jato

Eduardo Bresciani 

13/05/2017

 

 

Empresário acharia que publicitário poderia convencer a ex-presidente

-BRASÍLIA- Segundo a delação de Mônica Moura, o empresário Marcelo Odebrecht pediu a ela que seu marido, o marqueteiro João Santana, procurasse Dilma Rousseff para tentar anular provas da Operação Lava-Jato. Mônica contou que como o marido não concordou ela própria levou o pedido a Dilma, mas que a presidente demonstrou irritação com Marcelo e rechaçou a ideia.

Mônica afirma que Marcelo mandou um motorista pegá-la no hotel em que estava para a reunião que ocorreu na casa dele em São Paulo. Ele teria reclamado que Dilma não dava a devida importância aos seus alertas sobre o avanço da LavaJato. O empresário teria dito que já tinha alertado a ex-presidente que os pagamentos feitos a Santana no exterior a vinculariam ao caso, mas que Dilma se recusava a interferir. Segundo a delação, Marcelo disse que procurou Mônica dizendo que talvez a ex-presidente desse atenção se o alerta fosse feito pelo marqueteiro.

— Ele (Marcelo) queria que João convencesse ela naquele momento a mandar José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, a tentar invalidar o acordo de cooperação, algumas provas da Suíça que vieram naquela época, eu vou tentar explicar pelo que entendi, que tinham conseguido algumas provas e informações lá da Suíça direto para cá, mas souberam que não tinha sido feito pelo trâmite normal, que foi através do Ministério da Justiça com o Ministério da Justiça de lá. E isso poderia invalidar essas provas. Ele queria que João conversasse com Dilma, que José Eduardo tinha que entrar para invalidar essas provas — disse Mônica.

Ela conta que o marido se recusou a levar o recado a Dilma porque sabia que ela não iria atender. Após ter sido procurada por outro emissário de Marcelo, Mônica falou com Dilma.

— Ela falou o que o João achou que ela ia falar: “Eu não posso fazer nada disso, eles são loucos, eles acham que eu posso fazer o quê? Não posso fazer nada, não posso me meter nisso” — relatou a delatora.

 

O globo, n. 30595, 13/05/2017. País, p. 5