Petista pechinchava valores na reeleição de Lula, diz delatora

André de Souza 

13/05/2017

 

 

Palocci considerava altos os custos da campanha tocada por Santana e consultava o ‘chefe’

-BRASÍLIA- Em delação premiada, a empresária Mônica Moura relatou que o ex-ministro Antonio Palocci “pechinchou muito” o valor da campanha de reeleição do ex-presidente Lula em 2006, tocada pelo marqueteiro João Santana. Foram várias reuniões até acertar a quantia, paga na maior parte com caixa dois. Segundo Mônica, que é mulher de Santana e cuida das finanças do marido, Palocci dizia que os valores eram altos e que não poderiam ser autorizados por ele, porque precisava conversar primeiro com o chefe, ou seja, Lula.

Mônica contou que Santana aceitou convite de Palocci para fazer a campanha, mas coube a ela fechar a negociação. Mônica e Palocci se encontraram em São Paulo e acertaram o valor de R$ 18 milhões para a campanha no primeiro turno, dos quais apenas R$ 8 milhões seriam pagos oficialmente.

— Essa nossa conversa durou umas três ou quatro reuniões. Porque foi difícil, ele achava caro, voltava e dizia que tinha que conversar com o chefe, que era Lula, porque não podia aprovar um valor daquele. Pechinchou muito — relatou Mônica.

Santana disse que chegou a pedir a Palocci que todos os pagamentos fossem realizados de forma oficial para evitar erros de campanhas passadas. Lula ainda estava se recuperando dos estragos causados pelo mensalão. Passados alguns meses, porém, Palocci disse que estava com dificuldades de pagar pela via oficial e avisou que seria necessário recorrer ao caixa dois da Odebrecht, por meio de contas no exterior.

“ESTREMECIMENTO” ENTRE LULA E DILMA

Santana contou que brincou com Palocci, dizendo saber que a Odebrecht financiava candidatos de direita, mas não de esquerda, como Lula.

— E me surpreende, Palocci, porque até hoje eu sabia que a Odebrecht financiava a direita, Antônio Carlos Magalhães, a Bahia, todo o DEM etc., mas não não sabia que tava... — disse Santana, interrompendo o raciocínio para contar o que ouviu de Palocci: — Não tem uma frase que diz: hay gobierno soy contra? Tem outra que diz: há governo sou a favor. Então fique tranquilo.

Mônica também contou aos procuradores que Lula e Dilma tiveram um “estremecimento” porque ele queria ser o candidato a presidente e ela não aceitou.

— Em 2014, houve um certo estremecimento entre o Lula e a Dilma, acho que isso é do conhecimento de todos. Os jornais especulavam bastante na época. Eles negavam, mas é verdade, porque o Lula queria ser o candidato e a Dilma não aceitou. Ela queria a reeleição — disse Mônica, acrescentando: — Ela se sentia forte. 'Por que que eu não vou?'. Isso era a conversa dela com o João. Eu nunca tive esse tipo de conversa com a Dilma, João é que me contava.

 

O globo, n. 30595, 13/05/2017. País, p. 8