Procuradoria investiga se Lula usou conta de US$ 80 milhões 
Adriana Mendes 
06/06/2017
 
 
Delator disse que ex-presidente recebeu dinheiro ilegal em conta no exterior

-BRASÍLIA- O procurador da República Ivan Claúdio Marx, do Ministério Público do Distrito Federal, abriu inquérito ontem para investigar suposta doação de US$ 80 milhões para abastecer campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Em delação premiada, o empresário Joesley Batista, da JBS, disse que Lula e Dilma sabiam das contas no exterior.

Segundo a assessoria do MP, o ministro relator da Lava-Jato, Edson Fachin, desmembrou o processo porque entendeu que o caso está relacionado com a Operação Bullish, que investiga irregularidades em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com a JBS. Lula e Dilma não possuem prerrogativa de foro privilegiado.

Na delação, Batista disse que passaram pela conta valores maiores do que o MPF informou investigar. Teriam sido pelo menos US$ 150 milhões. Seriam US$ 70 milhões a Dilma e US$ 80 milhões a Lula, ainda durante o governo, e mais valores em 2014, quando Dilma se reelegeu presidente.

O empresário disse que a conta era usada para fazer repasses de acordo com indicações do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que aparece em outras delações como um dos principais arrecadadores do PT. Todo o dinheiro supostamente movimentado por indicação de Mantega, em troca de benefícios à JBS, teria ficado em contas de JoesDe ley no exterior, de 2009 a 2014.

— Quando terminou o governo Lula, no primeiro negócio que nós fizemos no governo Dilma, eu fui depositar na conta, e ele (Mantega) disse: “Não, não, não. Agora tem que abrir outra conta”. Eu falei: “Por que abrir outra conta?”. Ele disse: “Não, não, não. Esta conta aqui é a conta do Lula. Esta aqui tem que abrir uma para a Dilma”. Aí eu falei: “Ué, Lula e Dilma? Eles (Lula e Dilma) sabem disso? Curioso, né?”. Aí ele falou: “Não, sabem sim. Eu falo tudo para eles” — declarou Joesley Batista em colaboração premiada, sobre as duas contas que somariam cerca de US$ 150 milhões de propina.

acordo com Batista, no governo Lula, quando Mantega presidia o BNDES, ele pagava propina por um intermediário, chamado de “Victor”, que seria amigo de Mantega. Victor recebia 4% de propina sobre os aportes do BNDES à JBS, como empréstimos. Até 2009, esses 4% seriam em torno de US$ 70 milhões, afirma o delator.

PAGAMENTO POR MEIO DE INTERMEDIÁRIO

Na delação, Joesley contou como supostamente teria avisado Dilma das contas. — Eu contei meio que tudo. Disse: "Ô presidenta, ó, tem duas contas. Tem uma que o Guido falou que era sua, outra era do Lula. Já acabou o dinheiro seu e o dinheiro do Lula. Para ela saber que, né, amanhã, se o Lula fosse me cobrar, né. Eu pensava: vai que esse dinheiro é do Lula mesmo, e eu gasto esse dinheiro do Lula, e depois o Lula vem me cobrar e diz: “Ué, o dinheiro era meu, você gastou na campanha”. Por isso que eu fiz questão de ir em todo mundo — afirmou, dizendo ter “certeza” de que Dilma sabia “perfeitamente” das duas contas e dos acordos com o BNDES, ao que ela teria respondido: — Não, é importante fazer, tem que fazer (o repasse de R$ 30 milhões de propina à campanha de Pimentel). Se você puder encontrar o Pimentel... — disse a petista, segundo narrou Joesley Batista. Lula e Dilma negam conhecer qualquer conta que o dono da JBS diz ter mantido no exterior e afirmam que jamais receberam dinheiro ilícito da empresa em bancos fora do Brasil.

 

O globo, n. 30619, 06/06/2017. País, p. 6