Petrobras pretende colocar à venda 30 ativos até o fim do ano 
João Sorima Neto 
06/06/2017
 
 
Estatal quer se desfazer da Braskem e estuda rever intervalo de reajuste da gasolina

-SÃO PAULO- A Petrobras deve colocar à venda até o fim do ano cerca de 30 ativos como parte de seu plano de desinvestimentos. Metade deles será oferecida nos próximos três meses, segundo o presidente da estatal, Pedro Parente, e o diretor de Relações com Investidores, Ivan Monteiro. A Braskem deve ser incluída entre os empreendimentos dos quais a Petrobras pretende se desfazer. A estatal tem como sócia na petroquímica a Odebrecht, que tem 50,1% do capital votante.

— A Braskem faz parte do setor petroquímico e nosso plano prevê a saída deste segmento. Portanto, a Braskem também está incluída — explicou Monteiro, em evento com investidores.

Até o fim do próximo ano, a Petrobras pretende levantar US$ 21 bilhões com a venda de ativos. Em maio, ela havia anunciado a intenção de vender a polêmica refinaria de Pasadena, no Texas, e sua participação na Petrobras África. A estatal também busca se desfazer de parte de sua fatia na BR Distribuidora.

Sobre Pasadena, Parente reafirmou que a empresa já identificou interessado no empreendimento, mas a venda ainda depende da aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU). Sobre a BR Distribuidora, Monteiro afirmou que o modelo de desinvestimento na empresa ainda não foi definido. Em entrevista ao GLOBO, o representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da BR, Bruno Paiva, defendeu que um IPO (abertura de capital no mercado) seria mais interessante em termos financeiros do que a venda de participação.

— A Petrobras ainda não definiu o modelo de desinvestimento da participação da BR. Houve uma recuperação muito forte do mercado de renda variável no Brasil e o país tem despertado a atenção de investidores. O que posso dizer é que nossa equipe tem a obrigação de apresentar todas as alternativas, o que será feito no momento adequado — disse Monteiro.

ESTATAL QUER ADERIR AO NÍVEL 2 DA BOLSA

Parente disse ainda que a empresa pode rever o intervalo nos reajustes de combustíveis. Desde que divulgou sua nova política de preços, a estatal tem feito ajustes praticamente mensais:

— A nova política de preços prevê não praticar valores abaixo do mercado internacional. Mas a periodicidade mensal não lida adequadamente com duas variáveis (câmbio e preço do petróleo) que mudam diariamente. Estamos avaliando se de fato seria recomendável alguma mudança, mas não temos nada definido — disse.

A Petrobras protocolou na B3 (ex-BM&FBovespa) um pedido de adesão ao sistema de governança Programa Destaque em Governança das Estatais. Com isso, a empresa quer se tornar a primeira estatal a operar dentro de regras rígidas de governança estabelecidas pela Bolsa, caso tenha seu pedido aprovado pela B3.

A petrolífera também informou que já iniciou o processo de adesão ao nível 2 de negociação de empresas na Bolsa, que exige elevado nível de governança das companhias. Hoje, a Petrobras está no nível mais básico.

A imagem da Petrobras foi duramente arranhada junto aos investidores depois que a estatal tornou-se o centro das investigações da Operação Lava-Jato. No encontro de ontem com investidores, em São Paulo, Parente e toda a diretoria da empresa fizeram um balanço das mudanças implementadas nos últimos três anos para tentar reverter este quadro.

— Em 2014 e 2015, enfrentamos a crise ética da Lava-Jato, além da crise econômica. Tudo isso levou a empresa a uma parada de arrumação, criando mecanismos de governança. Este ano, queremos perenizar os ganhos desde processo — disse Parente, destacando que o objetivo é tornar a empresa mais ágil, sem prejuízo dos controles internos.

Segundo ele, o processo para aderir ao sistema de governança de estatais da Bolsa levou mais de um ano e foi liderado pelo seu Conselho de Administração. Agora, dependerá da aprovação da B3. Já o trâmite de negociação de ações no nível 2 está sendo iniciado agora.

A adesão a níveis com regras mais rígidas de negociação, continuou, traz benefícios de imagem para a empresa, mas principalmente a melhoria dos custos de captação de recursos. Parente disse que o mercado já deu um sinal de reconhecimento ao trabalho de melhora na governança da petrolífera. Em sua última emissão de dívida, em maio, a taxa de juro para os U$ 4 bilhões captados foi menor que o da última captação com grau de investimento pela Petrobras.

— Isso é um reconhecimento do mercado aos esforços da empresa — disse Parente.

46 CARGOS OCUPADOS POR INDICAÇÃO POLÍTICA

Perguntado pelos investidores quantos cargos por indicação do governo ainda existem na Petrobras, Parente respondeu que de um total possível de 165, apenas 46 estão ocupados por indicação política neste momento.

Entre as medidas para melhorar a governança da Petrobras, o presidente do Conselho de Administração, Nelson Carvalho, citou o fato de que todos os membros do colegiado são independentes.

— Atualmente, há uma cadeira vaga no Conselho, que tem dez membros. Contratamos uma consultoria para encontrar uma pessoa com perfil em questões de estratégia, buscando nomes não só no Brasil — disse Carvalho.

 

O globo, n. 30619, 06/06/2017. Economia, p. 19