Odebrecht cita R$ 451 mi para políticos investigados

Daniel Bramatti e Marcelo Godoy

13/04/2017

 

 

Lava Jato. Valor corresponde a pagamentos mencionados por executivos e ex-executivos da empreiteira a investigados; maior parte foi por obras e contratos com o governo federal

 

 

 

Os crimes que serão investigados nos 76 inquéritos da lista do ministro Edson Fachin envolvem pagamentos a políticos que chegam a R$ 451,049 milhões. Desse total, os delatores da Odebrecht dizem ter repassado R$ 224,6 milhões por obras e contratos nos governos federal, estaduais e municipais e R$ 170 milhões por medidas provisórias, emendas parlamentares e resoluções legislativas que atendiam aos interesses da empreiteira.

O inquérito que envolve as maiores propinas que a empreiteira afirma ter pago é o da compras das medidas provisórias 470/2009 e 613/2013. A primeira, segundo a acusação da Procuradoria-Geral da República, motivou o pagamento de R$ 50 milhões para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, e em razão da segunda a empreiteira relatou ter desembolsado R$ 100 milhões para a campanha de reeleição da presidente, em 2014.

A Odebrecht contabilizou ainda o pagamento de R$ 7 milhões no Congresso para a aprovação das MPs. Ao todo, segundo a empreiteira, R$ 4 milhões foram distribuídos aos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), mais R$ 2 milhões ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e aos deputados Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambas as MPs favoreciam a Braskem, uma das empresas do grupo Odebrecht. A 470 alterava a forma de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a 613 concedia incentivos tributários a empresas químicas.

 

Custo. Em seu depoimento, o empresário Marcelo Odebrecht disse que não era incomum na edição de MPs o governo deixar “pontas soltas”. “Às vezes, até a Receita colocava de propósito. E a gente tinha de ajustar via relator no Congresso. Isso aumentava o famoso custo Congresso.”

Para aprovar uma resolução no Senado que favoreceria a Braskem, por exemplo, os delatores da Odebrecht afirmaram à Procuradoria da República que pagaram R$ 4 milhões a Jucá e R$ 500 mil a Delcídio Amaral, então senador pelo PT.

Em outro caso, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) recebeu, segundo os delatores, R$ 661,5 mil para apresentar emendas em quatro MPs do interesse do grupo. Por fim, Renan e Jucá teriam recebido R$ 5 milhões pela MP 627/2013, que beneficiava subsidiárias da Odebrecht no exterior.

O segundo maior desembolso relatado pela Odebrecht envolve a obra da usina Santo Antônio, em Rondônia. A empresa diz que foram distribuídos R$ 50 milhões para os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), Sandro Mabel (PP-GO) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), além de Jucá.

O terceiro maior caso investigado é o de pagamentos relacionados a obras viárias do governo de São Paulo, envolvendo o senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, cujos pagamentos somados chegam a R$ 36,2 milhões.

Do total de recursos citados nos inquéritos nem tudo saiu dos cofres da Odebrecht. Alguns pagamentos foram feitos em parceria com outras empreiteiras, quando havia interesse em comum em jogo.

 

Outro lado.Os políticos citados nos 76 inquéritos negam irregularidades. Presidente do Senado, Eunício Oliveira afirmou que a Justiça “tem maturidade e firmeza para apurar e distinguir a verdade das mentiras”. Por meio de nota, Renan e Aloysio afirmaram que vão esperar o teor das investigações para se manifestar. Jucá disse que em suas campanhas eleitorais atuou “dentro da legislação”.

Serra afirmou que, com a quebra dos sigilos das delações, será possível demonstrar a correção de sua conduta. Kassab e Maia disseram confiar na Justiça e que depoimentos de colaboradores não são provas. O deputado Carlos Zarattini criticou a “divulgação espetaculosa e midiática” e disse que “inquérito não significa julgamento”.

Os deputados Lúcio Vieira Lima e Arlindo Chinaglia, o ex-parlamentar e atual assessor da Presidência, Sandro Mabel, e o advogado de Cunha, Ticiano Figueiredo, não foram localizados. Dilma não se pronunciou. 

 

RANKING DAS OPERAÇÕES INVESTIGADAS

 

 Os beneficiários e os valores dos repasses de dinheiro citados nos 76 inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, do STF

 

Total R$ 451 milhões

 

PT - 204,9 milhões

PMDB - 113,7 milhões

PSDB - 52,2 milhões

PP - 20,9 milhões

PT E PARTIDOS ALIADOS - 17 milhões

DEM - 7,6 milhões

PT E PRB - 7,0 milhões

SD - 1,7 milhões

PSB - 1,6 milhões

PMDB E PSD – 1 milhões

PTC - 900 mil

PRB - 600 MIL

PC DO B - 400 MIL

PTB - 200 MIL

PPS - 200 MIL

 

 

EM REAIS

 

● PT e aliados - PT - 150 milhões

● José Serra - PSDB - 35,7 milhões

● Guido Mantega e PT - PT - 22 milhões

● Valdir Raupp e funcionários de Furnas - PMDB - 20 milhões

● Gilberto Kassab - PSD - 20 milhões

● Eduardo Cunha - PMDB - 20 milhões

● Guido Mantega - PT e partidos aliados - 17 milhões

● Eduardo Paes - PMDB - 16 milhões

● Blairo Maggi - PP - 12 milhões

● Romero Jucá e Sandro Mabel - PMDB - 10 milhões

● Eliseu Padilha, Moreira Franco, - PMDB - 10 milhões

● Eduardo Cunha e Paulo Skaf e Arlindo Chinaglia - PT - 10 milhões

● Vários políticos do PMDB - PMDB - 9,6 milhões

● Aécio Neves e Antonio Anastasia - PSDB - 7,3 milhões

● Marcos Antonio Pereira - PT e PRB - 7 milhões

● Edison Lobão - DEM - 5,5 milhões

● Jucá e Renan - PMDB - 5 milhões

● Carlos Zarattini e Cândido Vacarezza - PT - 5 milhões

● Lindbergh Farias - PT - 4,5 milhões

● Romero Jucá - Duas Operações distintas - PMDB - 4 milhões - 150 mil

● Romero Jucá e Renan Calheiros - PMDB - 4 milhões

● Julio Lopes - PP - 4 milhões

● Pedro Paulo Teixeira - PMDB - 3,3 milhões

● Paulo Bernardo - PT - 3,2 milhões

● Eliseu Padilha - PMDB - 3,2 milhões

● Ivo Cassol e João C. G. Ribeiro - PP - 3 milhões

● Aécio Neves - PSDB - 3 milhões

● Jorge Viana e Tião Viana - PT - 2 milhões

● Eunício Oliveira - PMDB - 2 milhões

● Marco Maia e diretores do Trensurb - PT - 1,8 milhão

● Yeda Crusius - PSDB - 1,7 milhão

● Paulinho da Força - Duas Operações distintas - SD - 700 mil - 1 milhão

● Ciro Nogueira - PP - 1,6 milhão

● Nelson Pellegrino - PT - 1,5 milhão

● Maguito Vilela e Daniel C. Vilela - PMDB - 1,5 milhão

● Helder Barbalho - PMDB - 1,5 milhão

● Marco Maia - PT - 1,3 milhão

● Fernando Bezerra Coelho - PSB - 1 milhão - 200 mil

● Betinho Gomes, José Feliciano e Vado da Farmácia - PSDB - 1 milhão

● Lúcio Vieira Lima - PMDB - 1 milhão

● Eduardo Braga e Omar Aziz - PMDB e PSD - 1 milhão

● Rodrigo Maia e Cesar Maia - DEM - 950 mil

● Jutahy Junior - PSDB - 850 mil

● Renan Calheiros e Renan Filho - PMDB - 800 mil

● Fernando Collor de Mello - PTC - 800 mil

● Cássio Cunha Lima - PMDB - 800 mil

● Carlos Zarattini - PT - 661 mil

● José Dirceu, Zeca Dirceu e aliados - PT - 600 mil

● João Paulo Papa - PSDB - 600 mil

● Bruno Araújo - PSDB - 600 mil

● Humberto Costa - PT - 592 mil

● José Carlos Aleluia - DEM - 580 mil

● Beto Mansur - PRB - 550 mil

● Katia Abreu - PMDB - 500 mil

● Delcídio Amaral - PT - 500 mil

● Décio Lima e Ana Paula Lima - PT - 500 mil

● Dalírio Beber e Napoleão Bernardes - PSDB - 500 mil

● Aloysio Nunes - PSDB - 500 mil

● Fábio Faria, Robinson Mesquita de Faria e Rosalba Ciarlini Rosado - PSD - 450 mil

● Zeca do PT e Delcídio Amaral - PT - 400 mil

● Ricardo Ferraço - PSDB - 400 mil

● Daniel Almeida - PC do B - 400 mil

● Vital do Rêgo - Ligado ao PMDB - 350 mil

● Inocêncio Oliveira - DEM - 300 mil

● João Carlos Bacelar - PR - 250 mil

● Mário Negromonte - PP - 200 mil

● Lídice da Mata - PSB - 200 mil

● Heráclito Fortes - PSB - 200 mil

● Edvaldo Brito - PTB - 200 mil

● Arthur Maia - PPS - 200 mil

● Alfredo Nascimento e Milton Monti - PR - 200 mil

● Onyx Lorenzoni - DEM - 175 mil

● Maria do Rosário - PT - 150 mil

● Rodrigo Maia - DEM - 100 mil

● Paulo Lustosa - PP - 100 mil

● Antônio Brito - PSD - 100 mil

● Vicente Cândido - PT - 50 mil

● Vander Loubet - PT - 50 mil

● Celso Russomanno - PRB - 50 mil

● Cacá Leão - PP - 50 mil

● Vicentinho - PT - 30 mil

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45103, 13/04/2017. Política, p. A4.