Crise é como ‘mar em fúria’, afirma comandante da Marinha

Eduardo Barreto

10/06/2017

 

 

Ao lado de Temer, Eduardo Bacellar compara momento a tempestade

 

Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgava se cassaria o mandato do presidente Michel Temer, o comandante da Marinha, Eduardo Bacellar, atacava em um evento na capital a “crise profunda” que “assola” e “ameaça” o país. A seu lado na cerimônia estava justamente Temer.
— Hoje assistimos ao país ser assolado por crise profunda e multifacetada. Assim como as tempestades dos mares em fúria trazem perigo ao navio, ameaça destruir o sonho de grande nação que podemos e devemos alimentar — disse o chefe da Marinha.

 

TRÊS INVESTIGAÇÕES

Temer é investigado por três crimes no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro responsável por este e os outros inquéritos da Lava-Jato na Corte, Edson Fachin, seria agraciado com a Ordem do Mérito Naval, mas não foi à cerimônia. O colega Luis Roberto Barroso também faltou. Já Alexandre de Moraes, ministro indicado por Temer para o STF há três meses, compareceu.

O almirante de esquadra Bacellar disse também que o Brasil eliminará “posturas arcaicas” e reafirmou o compromisso da Marinha com a Constituição. O militar afirma reconhecer a gravidade da crise, mas defende que os brasileiros sempre serão superiores a essas instabilidades.

— Haveremos de vencer, eliminando posturas arcaicas e lutas que nos paralisam e dividem.

O discurso de Eduardo Bacellar ainda alertou para riscos à segurança externa, argumentando que não deve haver ilusão sobre o assunto.

— Não podemos nos iludir com a sensação de segurança externa e perenidade da paz — declarou.

Em 19 de abril, em entrega de condecorações do Exército, com Temer, foi a vez do chefe dessa Força criticar os “incontáveis escândalos de corrupção” por que passa o país. O comandante Eduardo Villas Bôas lamentou a “aguda crise moral”.

No discurso, que foi lido pelo mestre de cerimônias, Michel Temer se limitou a elogiar a trajetória da Marinha.

Prometida para maio, a proposta de reforma previdenciária dos militares deve ser finalizada em junho, segundo o ministro da Defesa. Ontem, Raul Jungmann disse que o projeto vai “muitíssimo bem”. No entanto ainda não há previsão para a data de envio da reforma ao Congresso.

— Mesmo que a gente tinha tido um delay (atraso), não tenha conseguido em maio, o que quero transmitir a vocês é que caminha muitíssimo bem. E nós temos condições, creio eu, de encerrá-la (a reforma) em junho — declarou Jungmann, emendando que nesta semana o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, lhe disse que a elaboração do projeto está “otimamente bem”.

Jungmann afirmou ainda que o governo não definiu quando enviará a reforma previdenciária das Forças Armadas ao Congresso. O Palácio do Planalto remeteu ao Congresso Nacional a reforma da Previdência geral — que não contempla militares — em dezembro, após sucessivos atrasos.

 

O globo, n.30623 , 10/06/2017. PAÍS, p. 9