PF investiga JBS por informação privilegiada

Gabriela Valente

João Sorima Neto

10/06/2017

 

 

Em colaboração com CVM, operação leva 3 funcionários da área de Bolsa e câmbio em condução coercitiva

Funcionários que atuam na área de Bolsa e câmbio da empresa foram levados em condução coercitiva Numa ação coordenada com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que fiscaliza o mercado de capitais, a Polícia Federal deflagrou ontem mais uma operação contra a JBS, batizada de Tendão de Aquiles. O objetivo foi apurar se houve uso de informações privilegiadas por parte da JBS e da FB Participações (controladora da JBS que pertence à família Batista) em transações financeiras entre abril e maio de 2017.

Os agentes cumpriram três mandados de busca e apreensão. Foram expedidos ainda quatro mandados de condução coercitiva, pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Segundo O GLOBO apurou, os funcionários levados à sede da PF em São Paulo trabalham na área de operação de Bolsa e câmbio da FB Participações. Só foram cumpridos três mandados de condução coercitiva, já que um funcionário está em viagem no exterior. A PF não divulgou os nomes, mas informou que eles permaneceram calados, por orientação dos advogados da JBS. À tarde, foram liberados.

 

MOODY’S REBAIXA NOTA DE CRÉDITO DA JBS

Diante da notícia, as ações ordinárias (com voto) da JBS caíram 2,67%, a R$ 7,28, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), após terem recuado 5,74% ao longo do dia. Também ontem a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito da JBS, de “Ba3” para “B2”, e a manteve sob revisão para possível novo rebaixamento. Agora, a companhia está quatro degraus distante do “grau de investimento”, o selo de bom pagador.

“O downgrade reflete os constantes riscos relacionados com possíveis casos de litígio no futuro, com a governança da companhia, com o risco de reputação e com as chances de esses riscos afetarem as operações da companhia, o acesso ao mercado e a liquidez”, disse a Moody’s.

 

GRUPO DIZ QUE ENTREGOU MATERIAL PEDIDO

Participaram da operação três equipes da PF, além de seis representantes da CVM. Foram feitas cópias de HDs de vários computadores, já que a Justiça não autorizou a apreensão dos mesmos.

— Por isso, a operação demorou um pouco mais do que o previsto — diz uma fonte a par do assunto.

A investigação apura a venda de ações da JBS na Bolsa pela FB Participações em abril, em período concomitante ao programa de recompra de ações da empresa, reiniciado em fevereiro de 2017. Também investiga a compra de contratos futuros de dólar na Bolsa de futuros e a termo de dólar no mercado de balcão, entre o fim de abril e meados de maio de 2017. Segundo a PF, há indícios de que essas operações ocorreram com o uso de informações privilegiadas, gerando vantagens indevidas no mercado de capitais num contexto em que quase todos os investidores tiveram prejuízos financeiros. A pena para este tipo de crime vai de um a cinco anos de reclusão e multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita obtida.

Em nota, a JBS disse que foram entregues materiais e documentos solicitados pela PF. O inquérito policial foi instaurado um dia após O GLOBO publicar o teor da conversa entre o presidente Michel Temer e o dono da JBS, Joesley Batista. Em 19 de maio, houve a instauração de cinco processos administrativos para apuração dos fatos. Ao todo, o grupo é alvo de 13 processos e inquéritos na CVM.

A JBS adiantou sua defesa numa ação popular que corre na 5ª Vara da Justiça Federal em São Paulo e que pede o bloqueio de R$ 10 bilhões da companhia, por uso de informação privilegiada. O juiz Tiago Bitencourt já determinou o bloqueio de R$ 800 milhões das contas de Joesley Batista referentes ao suposto lucro obtido com venda de dólares às vésperas da divulgação da gravação com Temer. Mas ainda não decidiu sobre os R$ 10 bilhões.

 

GRUPO QUER RENEGOCIAR CONTRATO DE GÁS

A defesa da JBS informou ao juiz que o bloqueio “compromete a capacidade de crédito da companhia”. E nega o uso de informação privilegiada ao ter comprado contratos futuros de dólar antes da divulgação da delação dos controladores. Segundo a JBS, o sigilo sobre a delação era requisito para a homologação.

Quanto à suspensão, pela Petrobras, do contrato de fornecimento de gás à sua usina em Cuiabá, o grupo J&F pretende negociar com a estatal para que ela reveja sua decisão. A Petrobras alega descumprimento de cláusulas anticorrupção do contrato com a Âmbar, empresa do grupo que opera a térmica. Procurada, a Âmbar não se manifestou.

 

O globo, n.30623 , 10/06/2017. ECONOMIA, p. 23