Odebrecht diz que repasse de R$ 13 mi era para Lula

Fausto Macedo / Luiz Vassallo / Julia Affonso / Fabio Serapião

11/04/2017

 

 

Lava Jato. Empreiteiro afirma em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro que os recursos em espécie sacados por ex-assessor de Antonio Palocci foram para o petista

 

 

Ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht confirmou ontem em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o “amigo” registrado na planilha de propinas milionárias da empreiteira.

Marcelo Odebrecht afirmou ainda que “Italiano” – alcunha também lançada na planilha – é uma referência ao ex-ministro Antonio Palocci e “Pós Itália”, ao ex-titular da Fazenda Guido Mantega.

As informações foram divulgadas pelo site O Antagonista e confirmadas pelo Estado. Ao citar valores, conforme relatos, Marcelo Odebrecht disse que R$ 13 milhões em espécie sacados pelo ex-assessor de Palocci, Branislav Kontic, ou “Programa B”, entre 2012 e 2013, foram entregues a Lula.

A defesa do petista nega taxativamente seu envolvimento em qualquer tipo de ilegalidade.

O empreiteiro foi interrogado durante duas horas e meia em ação penal na qual é réu junto com Palocci – ambos cumprem prisão preventiva em Curitiba.

Marcelo Odebrecht falou ainda sobre os R$ 4 milhões que teriam sido repassados ao Instituto Lula e na soma de R$ 12,4 milhões supostamente investida na compra do prédio do Instituto.

Também abordou a cifra de R$ 50 milhões em propinas para Mantega que teriam sido usados na campanha da presidente cassada Dilma Rousseff.

No depoimento ele praticamente reiterou o que já havia dito à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como delator da Lava Jato, Marcelo Odebrecht se obrigou a responder a todas as perguntas, diferentemente da primeira vez em que foi ouvido por Moro, ainda em 2016.

Na ocasião, limitou-se a entregar esclarecimentos por escrito, não respondeu a nenhuma indagação do magistrado e acabou condenado a 19 anos e quatro meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro do esquema de propinas e cartel na Petrobrás.

Nesta ação Marcelo Odebrecht e Palocci são réus ao lado de outros 13 acusados. Segundo o Ministério Público Federal, o ex-ministro da Fazenda e Casa Civil teria recebido propinas de R$ 128 milhões da empreiteira.

Relatório da Polícia Federal entregue ao Ministério Público Federal e a Moro já havia cravado que o “amigo” da planilha de corrupção era uma alusão a Lula. Ainda segundo O Antagonista, o empreiteiro confirmou a Moro que tentou avisar o governo Dilma do risco de que a Lava Jato pudesse chegar à conta secreta do marqueteiro João Santana. Disse que foi até o México alertar pessoalmente a então presidente, mas ela não demonstrou preocupação.

Marcelo Odebrecht afirmou no interrogatório que Palocci era “o intermediário” e “o principal interlocutor” da empresa com o governo Lula.

Ele confirmou uma doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula em 2014. O recurso, disse, saiu da conta corrente que supostamente o petista tinha com a empreiteira e foi registrado na “Planilha Italiano”, subplanilha “Amigo”. Marcelo Odebrecht afirmou que, por meio de uma empresa laranja, a empreiteira comprou o terreno que serviria para abrigar a sede da entidade.

 

Defesa. Em nota, a assessoria do ex-presidente afirmou que o instituto “funciona em uma casa adquirida em 1991 pelo antigo IPET, que depois seria Instituto Cidadania e depois Instituto Lula”. “O instituto jamais teve outra sede ou terreno.” Conforme o comunicado, o ex-presidente Lula “jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso será provado na Justiça”. “Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como ‘amigo’, que nem essa planilha nem esse apelido são de sua autoria ou do seu conhecimento, por isso não lhe cabe comentar depoimento sob sigilo de Justiça vazado seletivamente e de forma ilegal”, diz a nota. 

 

Audiência. Marcelo Odebrecht durante sessão da CPI da Petrobrás em Curitiba, em 2015

 

Online

Moro lamentou o vazamento do depoimento de Odebrecht, ‘transmitido online’ pelo site O Antagonista. Representantes do MP, policiais federais e advogados mostraram, por iniciativa própria, seus celulares, para provar que não eram os responsáveis pelas informações divulgadas.

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Relator da cassação de Cunha vai para suplência do Conselho de Ética

Daiene Cardoso

11/04/2017

 

 

No lugar de Marcos Rogério (RO), DEM indica Elmar Nascimento (BA),que deve ser escolhido presidente do colegiado

 

 

Considerado um dos membros mais experientes do Conselho de Ética da Câmara, o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi “escanteado” pelo partido na disputa para a presidência do colegiado. Rogério, que já estava em campanha informal por votos, foi indicado inicialmente pelo DEM para a vaga de titular, mas a sigla recuou e ele acabou ficando na suplência. O Conselho será instalado hoje.

O titular do partido nos próximos dois anos na comissão será Elmar Nascimento (DEM-BA), que criticou o trabalho do grupo no processo de Cunha.

Às vésperas da divulgação da lista dos políticos delatados por ex-executivos da Odebrecht, deputados revelaram uma articulação para eleger à presidência do colegiado um parlamentar mais “chapa-branca”, mais velho e menos “midiático”.

Nos bastidores, deputados falam em “blindagem” do conselho.

“Isso é blindagem, é um absurdo”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Sandro Alex (PSD-PR) lamentou que Rogério esteja impedido de continuar como titular.

“Ele é um componente importante no conselho. Me espantei com a saída dele”, disse. Como suplente, Rogério poderá relatar processos disciplinares, mas não poderá assumir posição de comando.

Nascimento deve ser escolhido hoje presidente do Conselho.

Segundo relatos, o deputado teria sido procurado com uma “missão especial”: a candidatura.

Há dúvidas se petistas e tucanos votarão nele. Ao marcar a sessão para hoje, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acelerou o trâmite de instalação para evitar que o nome de Nascimento sofresse desgaste.

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), alegou que a bancada optou no colegiado pelo mesmo critério de rodízio da Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Rogério, que está em missão oficial em Washington, afirmou que será “o melhor suplente que puder”. “Todos que forem para o conselho precisam ter consciência do seu papel em defesa da Casa e não de quem responde a acusações”, disse.

Nascimento nega que blindará os futuros investigados. “Minha bíblia são a Constituição e o Regimento”, afirmou.

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Deputados são alvo de inquérito no STF

Rafael Moraes Moura / Breno Pires

11/04/2017

 

 

Indicados para o Conselho de Ética da Câmara, os deputados Kaio Maniçoba (PMDB-PE) e Laerte Bessa (PR-DF) são alvo de inquéritos no STF sob acusação de falsidade ideológica e calúnia, respectivamente.

No caso de Maniçoba, o Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco o acusa de ter assumido, em 2013, o cargo de ouvidor da Sudene, omitindo em seu termo de posse e em anexo a informação de que já ocupava cargo público. O advogado Marcos Lira, defensor de Maniçoba, disse que o parlamentar já foi submetido a dois inquéritos administrativos e foi absolvido nos dois.

Quanto a Laerte Bessa, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), apresentou queixa-crime contra o deputado, acusando-o de praticar os crimes de calúnia e injúria.

Procurado, o deputado não quis se pronunciar. 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45101, 11/04/2017. Política, p. A4.