Em História, pede-se visão cronológica

Isabela Palhares

11/04/2017

 

 

Solução para área que teve mais críticas no processo de construção da base ainda não é consenso; conteúdos locais vão chegar a 40% da grade

 

 

 

ensino de História, área que foi alvo de críticas durante a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), deverá ocorrer na ordem cronológica. Nas discussões, venceu o chamado método tradicionalista.

Hoje, como o Brasil não tem um currículo nacional, as escolas seguem diretrizes municipais e estaduais e material didático de livre escolha. Alguns colégios também consideram conteúdos cobrados em avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Para a consultora em educação Ilona Becskehazy, a linha cronológica faz sentido. “O mundo antigo, com mitologias, castelos e príncipes, atrai as crianças pequenas. Conforme elas crescem, vão ganhando maturidade para entender melhor a realidade atual. Quanto mais moderna e contemporânea é a história, mais ferramentas são necessárias para entendê-la.” A proposta, porém, também recebeu críticas. “No fundo, o novo documento reproduz muito do que, nos últimos anos, os currículos, as propostas pedagógicas e os livros didáticos mais tradicionais sugerem para os alunos. É uma perspectiva cronológica, mais preocupada com exemplos convencionais do que com uma formação e conhecimentos mais amplos”, afirmou Roberto Catelli, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com ele, faltou ousadia para pensar em outra forma de trabalhar a disciplina, valorizando conceitos importantes para a formação do cidadão.

“Sinto falta de uma abordagem que permita formular e refletir sobre períodos históricos. Não adianta apenas conhecer um conjunto de informações.” Quando a primeira versão da base foi lançada, em setembro de 2015, a área de História recebeu críticas. As Revoluções Industrial e Francesa e a história das civilizações grega e egípcia não constavam no texto, e o modelo dava maior ênfase na história da África e das Américas.

Agora, parte das questões foi resolvida e, por outro lado, a história africada aparece de maneira mais tímida. Desde 2003, o ensino de história e cultura africana e indígena é obrigatório nas escolas brasileiras. Catelli destaca que há referência às sociedades africanas, mas na forma tradicional em que costumam aparecer. “A relação com a cultura brasileira surge de forma muito eventual”, apontou.

A cultura africana está novamente no documento na parte de Educação Física, com brincadeiras, jogos e danças a serem aprendidos pelos alunos do 1.º ao 9.º ano do fundamental.

A expectativa é de que o currículo de História incorpore o maior porcentual de parte diversificada.

Isso porque a base deixa livre para que Estados e municípios complementem 40% do conteúdo a ser ensinado na educação básica. O Rio Grande do Sul, por exemplo, pode priorizar a Revolução Farroupilha, enquanto São Paulo pode dar mais ênfase à Revolução Constitucionalista.

 

Mudanças. Outra alteração é a exclusão do ensino religioso nesta terceira versão da base. O Ministério da Educação alegou respeitar a legislação que determina que o tema seja optativo nas escolas e destacou que é competência das secretarias estaduais e municipais definir a regulamentação.

A versão anterior estabelecia diretrizes para o ensino religioso em todo o fundamental e defendia que a escola poderia “contribuir para a promoção da liberdade religiosa e dos direitos humanos, com práticas pedagógicas”.

 

Apresentação. O ensino religioso acabou excluído da terceira versão da Base Nacional Comum Curricular

 

Popular

Doze milhões de sugestões foram enviadas pela internet, após a publicação da 1ª versão. Foi a consulta pública com o maior número de participações já feita.

 

CURRÍCULOS PELO MUNDO

CUBA

Tem formato mais centralizador: documento do governo define o que ensinar e como ensinar, com carga horária específica

 

EUA

Sofreu forte oposição. Para iniciar o processo, o país definiu apenas padrões para Inglês e Matemática

 

PORTUGAL

Não define como ensinar, mas detalha objetivos de aprendizagem

 

FINLÂNDIA

É um dos que dão mais autonomia às escolas, tendo a base como um norte

 

BRASIL

Conselho Nacional de Educação vai analisar o documento até o fim deste ano. Base do ensino médio ainda será apresentada

 

ÁFRICA DO SUL

Respeita a identidade de grupos culturais. No fundamental, prevê o aprendizado de 11 idiomas

 

COREIA DO SUL

Enfatiza o estímulo ao talento individual

 

AUSTRÁLIA

Descreve 80% do conteúdo, que é obrigatório. Entre as áreas de aprendizagem, inclui tecnologias

 

 

PRINCIPAIS DEFINIÇÕES

Inglês

Língua inglesa será o idioma estrangeiro obrigatório no ensino fundamental. Versão anterior da base deixava a escolha da língua a cargo das redes de ensino, municipais e estaduais.

 

Competências

Estudantes devem desenvolver dez competências gerais, tanto cognitivas quanto socioemocionais, que incluem a curiosidade intelectual, uso de tecnologias digitais e valorização da diversidade dos indivíduos.

 

Matemática

Passa a ter maior foco na resolução e no entendimento de problemas do que em técnicas a serem decoradas ou repetidas.

 

Ciências

A base incorporou no ensino exemplos práticos e próximos da realidade do aluno – como questões ligadas à saúde e observações na rotina. E atrelou o conteúdo a problemas atuais.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45097, 07/04/2015. Metrópole, p. A14.