Brasil quer ampliar comércio de maior valor agregado para a Ásia

Vivian Oswald 

19/06/2017

 

 

Na China, ministro Aloysio Nunes monta estratégia para a região

-PEQUIM- Na sua primeira viagem desde que o PSDB confirmou que permanecera no governo Temer o ministro das Relações Exteriores, o tucano Aloysio Nunes Ferreira, desembarcou na China com a missão de dar o pontapé inicial para um plano estratégico ambicioso específico para a Ásia, a primeira política desenhada pelo Itamaraty exclusivamente para este lado do mundo, disse o ministro ao GLOBO. Para isso, convocou durante o final de semana um primeiro encontro com embaixadores em quatro países-chave da região: China, Japão, Índia e Cingapura.

A ideia é buscar investimentos e comércio de alto valor agregado na A' sia, que se tornou o novo centro de dinamismo econômico global e já representa 40% do comércio exterior brasileiro. Mas não se trata apenas de aumentar as vendas do que já se exporta. O objetivo é apresentar uma imagem inovadora do país, criar o Made in Brazil para a Ásia

‘JÁ CHEGA TARDE', DIZ ANALISTA

A avaliação do ministro é a de que a Ásia é uma região em que o Brasil pode inovar e, justamente por isso, oferece mais do que qualquer outra uma perspectiva de futuro. O plano deve englobar China, Japão, Índia e os países do Sudeste Asiático.

- Não nos conhecem muito bem – disse o chanceler.

Nunes Ferreira ouviu de seus embaixadores durante mais de três horas a lista das oportunidades e dificuldades nos mercados em que representam o Brasil. O novo plano, que o ministro quer que seja uma marca registrada da sua gestão, deve explorar a grande capilaridade do ltamaraty na Ásia para reverter em ação a sua presença. Ele também se reuniu com o presidente da Aliança Agro- Brasil, Marcos Jank, que está baseado em Cingapura e representa entidades exportadores do agronegócio brasileiro na Ásia.

-É uma grande ideia, que já  chega tarde. Outros países já montaram as suas rotas para a Ásia há muito tempo. As ações já estão acontecendo. Faltava um arcabouço estrutural mais sólido. As regiões apontadas no plano são prioritárias para a agricultura- disse Jank.

Considerada a última fronteira a ser explorada, é na Ásia que se concentra hoje a maior parte das riquezas e da população do planeta. As exportações do Brasil para a Ásia em 2016 somaram US$ 74 bilhões, ou 40% do que o país vendeu para o resto do mundo. É aí que o governo está querendo apostar. O superávit do Brasil com a China de janeiro a maio já supera o saldo positivo na balança que o país teve com chineses ao longo de todo o ano passado. A China é a segunda maior economia do mundo, o Japão, a terceira, a Índia a sétima, e Cingapura a 33ª. Juntos, os quatro países somam um PIB (Produto Interno Bruto, soma de tudo o que é produzido ao londo de um ano) de US$ 17,82 trilhões.

— Queremos criar uma nova narrativa para o Brasil para projetar, a partir da inovação e da criatividade, o estilo de vida brasileiro, a arquitetura, o design e outros produtos e serviços de alto valor agregado — disse outro participante do encontro.

O que se quer é explorar uma região em que não existem ideias preconcebida ou já consolidadas sobre o Brasil.

— A Ásia, embora conectada por canais diplomáticos e econômicos e também por fluxos migratórios, manteve-se relativamente distante, sem que fosse objeto de política específica ou pensamento no Brasil. De certa forma, a mudança do mundo antecipou-se a nossa ação — disse um dos integrantes do encontro.

O ministério deve funcionar como uma espécie de fio condutor das novas ações e das iniciativas que já têm sido feitas. Neste momento, há um road show da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que está acontecendo na Ásia. Em uma primeira etapa, deve-se investir em um grande mapeamento, que já está sendo feito pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

— Para abrir caminho pelo Estado para as pequenas e médias empresas brasileiras, por exemplo. A interlocução em algum momento passa pelo aval do Estado nestes países — disse um embaixador que estava no encontro.

Nunes Ferreira participa da reunião dos ministros das Relações Exteriores do Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China) em Pequim, de onde parte para a Rússia para acompanhar a visita bilateral do presidente Michel Temer ao país.

 

O globo, n. 30632, 19/06/2017. Economia, p. 16