Título: Angela Merkel diz não
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Fonte: Correio Braziliense, 26/01/2012, Economia, p. 19

Em Davos, a chanceler alemã descarta aporte de recursos ao fundo de resgate europeu

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, descartou ontem a hipótese de elevar os recursos do fundo de resgate da Zona do Euro. Segundo ela, é preciso restaurar a confiança perdida nas políticas dos governos do bloco econômico, para acalmar os mercados financeiros. Merkel reforçou ainda que uma maior integração do bloco seria uma solução para a crise de dívida que afeta os 17 países da moeda comum.

Em discurso durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Merkel lançou farpas contra os críticos do fundo de resgate europeu que pedem a injeção de mais recursos para que o instrumento torne-se crível. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, fez um apelo a Berlim defendendo que o fundo de resgate europeu temporário e permanente fossem combinados para que os recursos atingissem 1 trilhão de euros.

"Agora eles dizem: "Deveria ser o dobro do que é agora; se for o dobro, nós acreditamos em vocês". Outros dizem: "Deveria ser três vezes maior, só então realmente acreditaremos em vocês." E eu sempre me pergunto o que é esse crível e o que não é mais crível", retrucou Merkel. "O que não queremos na Alemanha é uma situação em que nós prometemos algo que não podemos cumprir. Porque se a Alemanha se comprometer com algo que não pode entregar e os mercados (financeiros) atacarem de maneira violenta, aí, então, a Europa estará vulnerável", emendou a chanceler.

Antes de o evento ser inaugurado oficialmente por Merkel, o pessimismo sobre o futuro econômico deu o tom do debate sobre o estado do capitalismo, realizado na abertura do fórum. O desemprego foi a principal preocupação demonstrada pelos palestrantes. A secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC), Sharan Burrow, recordou que há mais de 200 milhões de pessoas sem emprego no mundo e 45 milhões que entram no mercado de trabalho a cada ano.

Para David Rubenstein, co-fundador e diretor do fundo de investimentos americano Carlyle, o Ocidente precisa reconhecer que "temos alguns problemas graves". "Creio que teremos de três a quatro anos para melhorar o modelo econômico vigente e se não o fizermos perderemos a oportunidade de competir com o capitalismo do mercado emergente", afirmou. O diretor-executivo da Alcatel-Lucent, Ben Verwaayen, lembrou que os países emergentes vêm aproveitando as oportunidades. "Se formos ao Brasil, teremos uma visão muito diferente de onde está o mundo, assim como se formos à Índia", disse.