Maria Lima e Cristiane Jungblut
08/06/2017
“A cada dia é um fato novo, não vai parar de ter fato novo nunca. Isso vai mudando a cabeça dos senadores e deputados”
Tasso Jereissatti
Presidente interino do PSDB
— A cada dia é um fato novo, não vai parar de ter fato novo nunca. Isso vai mudando a cabeça dos senadores e deputados. Segunda-feira é o limite do PSDB — disse o presidente interino, Tasso Jereissatti (CE), depois de uma manhã e tarde tomada por reuniões com deputados e senadores.
Diante do agravamento da situação do governo, começou a crescer entre os deputados do partido a ameaça de que a eventual manutenção da aliança com Temer levará alguns parlamentares a deixarem o PSDB. Nesse cenário, Tasso decidiu que a reunião da Executiva do partido, segunda-feira, será ampliada, com a participação de todos os governadores, deputados, senadores, ministros e presidentes de diretórios estaduais. A ideia é que todos tenham direito a fala, mas ao final apenas os integrantes da Executiva votarão sobre o rompimento.
— Daqui para lá pode ter coisa nova. Estou preocupado com esse novo roteiro do TSE. Se absolver Temer e Dilma, a casa cai — disse Tasso.
Ele explicou que há um caldeirão no partido, e que sua preocupação é que o PSDB saia coeso dessa situação, por isso era preciso aguardar a decisão do TSE. Até segunda-feira Tasso irá conversar com governadores e dirigentes do PSDB para chegar a um consenso sobre a decisão.
— Não precisamos de cargos ou ministérios para continuar apoiando as reformas — disse Tasso Jereissatti.
Entre os tucanos, há a percepção de que mesmo que escape do julgamento do TSE, Temer não terá como governar. O maior obstáculo hoje ao desembarque do governo ainda é a posição explícita dos ministros Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Antonio Imbassahy (Governo) em defesa do presidente Michel Temer.
— A percepção é que o TSE vá absolver os dois, Dilma e Temer. Mas aí como será o cotidiano do governo? Não governa, hoje Temer está preocupado em dar explicações sobre o avião, amanhã será outra coisa. Está acuado, é uma situação terrível — disse o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal.
Principais líderes do PMDB de Temer no Congresso, nem o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), nem o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), quiseram se manifestar sobre o episódio do avião.
— Esse assunto não me cabe responder né? Eu não sou portavoz do presidente da República. Sou presidente do Congresso Nacional — respondeu Eunício.
— Não quero falar sobre isso — limitou-se a dizer Renan.
OPOSIÇÃO FARÁ NOVA DENÚNCIA
Deputados da base aliada minimizaram o fato de o presidente Michel Temer ter usado o jatinho, mas nos bastidores consideraram “um desastre” as explicações do Palácio do Planalto a respeito. A avaliação, até entre os mais fiéis, é que Temer vem errando sempre que dá respostas às denúncias envolvendo o empresário Joesley Batista.
O deputado Beto Mansur (PRB-SP), que tem ido frequentemente ao Palácio do Planalto, defendeu Temer.
— Não tem problema. Às vezes você pega uma carona num avião e isso não quer dizer que você vá favorecer alguém. O ministro Teori Zavascki estava num avião (que pertencia ao empresário Carlos Alberto, que também morreu), sofreu um acidente, infelizmente morreu, e ninguém duvidava da idoneidade dele — disse Beto Mansur.
A oposição, por sua vez, tomou o plenário da Câmara com discursos alertando para as “mentiras de Temer” sobre o uso do avião de Joesley. O líder da Rede, Randolfe Rodrigues (AP), disse que já há muitos pedidos de impeachment contra Temer em tramitação, mas esse novo escândalo pode dar mais força a uma “inevitável” denúncia do STF.
— Vou denunciá-lo mais uma vez a PGR. Mentir é motivo para impeachment e deve constar na inevitável denúncia — disse Randolfe.
O globo, n. 30621, 08/06/2017. País, p. 4