Título: Dilma começa a reforma ministerial
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2012, Política, p. 2/3

Presidente confirma Mercadante no Ministério da Educação no lugar de Haddad, que deixará o governo na próxima terça-feira para disputar as eleições municipais. Um técnico irá assumir Ciência e Tecnologia

A presidente Dilma Rousseff iniciou oficialmente a minirreforma ministerial ao confirmar a indicação de Aloizio Mercadante para a vaga de Fernando Haddad no Ministério da Educação e de Marco Antônio Raupp, atual presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), para substituir Mercadante no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, como adiantou o Correio na edição de terça-feira. A escolha de Raupp foi uma opção técnica da presidente, apesar de a bancada do PT na Câmara preferir o nome do deputado federal Newton Lima (SP).

Mercadante é um dos fundadores da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes), e, segundo especialistas do setor, aproveitou-se do empenho da presidente em promover a chamada "era do conhecimento" e incluiu no nome do ministério a palavra inovação. Já o substituto do petista na pasta é primo distante do senador Valdir Raupp (PMDB-RR), mas sua indicação tem um caráter estritamente técnico. Presidente da Agência Espacial Brasileira, já presidiu também a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em nota divulgada pela ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, Dilma agradeceu "o empenho e a dedicação do ministro Haddad à frente de ações que estão transformando a educação brasileira e deseja a ele sucesso em seus projetos futuros. Da mesma forma, ressalta o trabalho de Mercadante e Raupp nas atuais funções, com a convicção de que terão o mesmo desempenho em suas novas missões", expressou a presidente no documento. Ambos tomarão posse em 24 de janeiro.

Despedida O governo prepara, no entanto, uma despedida de gala para o titular da Educação. Horas antes da reunião ministerial marcada para o final da tarde de segunda-feira, Haddad participará de uma solenidade na qual será anunciada a entrega de um milhão de bolsas do ProUni. Mais do que simbólico, esse é um número que será utilizado como ferramenta política eleitoral. Pesquisas qualitativas realizadas pelo PT de São Paulo há cerca de dois meses mostraram que os avanços no Prouni são vinculados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a Haddad restam os problemas detectados no Enem. O PT quer reverter essa imagem, mostrando que o pré-candidato a prefeito de São Paulo é o responsável pelo ingresso de estudantes carentes nas universidades particulares brasileiras.

Ontem, Dilma mostrou claramente o empenho com o qual participará da campanha à prefeitura de São Paulo. Durante solenidade de inauguração de uma creche em Angra dos Reis (RJ), a presidente ressaltou a competência do ministro da Educação. "É muito importante que eu venha aqui com o ministro Fernando Haddad, um dos grandes ministros deste país na área de educação", disse ela.

Segundo a presidente, quando Haddad afirmou que a educação precisa ser um projeto da creche à pós-graduação, passando pelo ensino básico, pelo ensino técnico e pela universidade, ele "cunhou uma coisa importantíssima para o Brasil, que é o caminho da igualdade de oportunidades", elogiou a presidente.

Nem o governador do Rio, Sérgio Cabral, resistiu à tentação de elogiar o ministro. Apesar de o seu partido ter candidato próprio à prefeitura de São Paulo — o deputado Gabriel Chalita —, Cabral assegurou que, após a redemocratização do país, em 1985, não houve outro ministro da Educação tão eficiente no Brasil. O discurso pró-Haddad serviu para amenizar a relação do governador fluminense com o governo federal, estremecidas pelos embates sobre a distribuição dos royalties do pré-sal.

Enquanto a presidente confirmava as primeiras trocas na Esplanada, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, conversava com o vice-líder do governo na Câmara, Luciano Castro (PR-RR). Ele é cotado para assumir o Ministério dos Transportes, mas a presidente sinaliza que pretende manter o atual ministro, Paulo Sérgio Passos. Quem também esteve no Planalto foi o líder do PP na Câmara, Agnaldo Ribeiro (PB). Ele disse a Ideli "não ser contra" a indicação de Márcio Fortes, presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO), para o Ministério das Cidades no lugar de Mário Negromonte (BA). Fortes, por sua vez, disse que cumpre as ordens da presidente.

Os substitutos

Aloizio Mercadante Assume o Ministério da Educação no lugar de Fernando Haddad. Estava à frente da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação desde o início do governo Dilma. Formado em economia pela Universidade de São Paulo, é professor licenciado da PUC-SP e da Unicamp. Exerceu dois mandatos de deputado federal e um de senador.

Marco Antonio Raupp Será o novo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. Desde março de 2011, exerce a presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB). Graduado em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ocupou cargos importantes no meio científico, como presidente da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).