OAS pagou propina a Alves em conta de Temer

Jailton de Carvalho 

08/06/2017

 

 

Segundo MP, R$ 500 mil foram destinados ao ex-ministro

-BRASÍLIA- Uma conta do presidente Michel Temer foi usada para intermediar o pagamento de uma propina de R$ 500 mil da empreiteira OAS ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves durante a campanha eleitoral de 2014, sustenta a Procuradoria da República do Rio Grande do Norte nas investigações sobre fraudes nas obas da Arena das Dunas, em Natal. O caso resultou na prisão de Henrique Alves e na emissão de um novo mandado de prisão preventiva contra Eduardo Cunha, já preso em Curitiba. Os investigadores afirmam que a OAS pagou propina camuflada de doação eleitoral em 11 de setembro de 2014. No mesmo dia, o dinheiro foi transferido para o diretório estadual do PMDB e, depois, repassado ao ex-ministro que, no período, concorria ao governo do estado.

VIAGENS A BRASÍLIA

“A propósito, saliente-se que um dos repasses de valores ilícitos da OAS para a campanha de Henrique Eduardo Lyra Alves a Governador do Rio Grande do Norte em 2014, objeto de apuração no caso, foi de início pago justamente ao candidato a Vice-Presidente Michel Temer, que transferiu os valores ao Diretório Estadual do PMDB no Rio Grande do Norte, que os direcionou a Henrique Eduardo Lyra Alves”, afirma o procurador Rodrigo Telles de Souza no pedido de prisão de Henrique Alves e de Cunha, entre outros suspeitos de desviar dinheiro da Arena das Dunas, o estádio construído para transformar Natal em uma das cidades sede da Copa de 2016. Ao todo, Henrique Alves teria recebido mais de R$ 7 milhões de propina da OAS e de mais três outras empreiteiras.

O procurador mencionou as transações entre Temer e Henrique Alves para demonstrar que o ex-ministro mantém estreitos laços com políticos influentes, entre eles o atual presidente. No documento, Telles informa que, mesmo depois de deixar o Ministério do Turismo sob acusação de corrupção, Henrique Alves tem viajado com frequência a Brasília para contatos políticos. “Tal situação aponta no sentido de que Henrique Eduardo Lyra Alves persiste atuando na mesma esfera de atividades na qual foram praticados os crimes ora investigados. O quadro se mostra mais preocupante se se considera que, exatamente em 2016, até os dias de hoje, o partido político de Henrique Eduardo Lyra Alves, o PMDB, assumiu a Presidência da República, após processo de impeachment da anterior Chefe do Executivo nacional”, escreve o procurador.

Para o procurador, a extensa rede de influência seria um dos motivos que justificariam a prisão do ex-ministro. A Justiça Federal considerou consistente a argumentação e mandou Henrique Alves para a prisão. O procurador também informa que, em 2015, quando percebeu o avanço das investigações da Operação Lava-Jato, o ex-ministro fechou uma conta que mantinha na Suíça e transferiu todo o saldo para outras contas secretas nos Emirados Árabes Unidos e no Uruguai. A conta teria sido abastecida com o equivalente hoje a R$ 2,7 milhões. O dinheiro foi depositado pela Carioca Engenharia a pedido de Eduardo Cunha. Os recursos seriam parte da propina paga pela empreiteira a partir de fraudes nas obras do Porto Maravilha, no Rio. A manobra do ex-ministro teria sido bemsucedida.

Pelas investigações do Ministério Público, as fraudes no Arena das Dunas resultaram num superfaturamento de R$ 77 milhões na construção do estádio.

 

O globo, n. 30621, 08/06/2017. País, p. 4