Governo quer fortalecer controle sobre custo de obras públicas

Fabio Graner

22/04/2017

 

 

O governo deve anunciar até o próximo mês uma portaria criando grupo de trabalho interministerial para definir uma estratégia nacional de implantação de uma ferramenta que controla os custos e todo o processo de construção. Ao tornar precisos os cálculos de necessidades e custos de insumos e produtos usados em obras, o sistema de Modelagem de Informação na Construção (BIM, na sigla em inglês) é uma plataforma digital vista como um caminho para diminuir os aditivos contratuais em obras públicas, reduzir desperdícios e dar mais eficiência ao gasto.

O grupo interministerial deve ainda este ano formular a "estratégia nacional do BIM". O secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Igor Calvet, no entanto, disse ao Valor que a implantação efetiva do sistema no Brasil levará alguns anos. Ele cita como exemplo o Reino Unido, que só depois de cinco anos tornou obrigatória o uso da ferramenta nas obras do governo, levando a redução de custo da ordem de 33% nas obras e diminuição de 50% no tempo de execução dos projetos.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, tem sido o interlocutor do governo nesse processo de buscar massificar o BIM. Para ele, o sistema vai gerar uma verdadeira "revolução" no setor e no gasto público. "Ele vem para dar maior eficiência, maior transparência. No limite, vai permitir que o cidadão, em qualquer lugar, olhar pela internet como está funcionando o processo de um terminal de passageiros em construção lá em Natal", argumentou.

Segundo ele, a ferramenta facilitará muito a vida do Tribunal de Contas da União (TCU), que poderá usar o sistema para monitorar as obras. "Não tem como ter algo mais transparente que isso para fiscalizar", disse. "O sistema não permite gambiarras."

A ideia da indústria é que a portaria criando o grupo interministerial seja assinada no Encontro Nacional da Indústria da Construção, que começa em 24 de maio. Alinhada com o governo, o setor quer que a implantação seja feita "gradativamente", diz Martins, permitindo que em cinco anos esteja massificada. O executivo defende a criação de linha de crédito para viabilizar a implantação nas empresas do setor, mas a proposta ainda não está em discussão no governo.

Martins explica que a ferramenta permitirá não só calcular precisamente os custos conforme o tipo de material a ser usado, mas também segundo outros critérios, como a capacidade de vedação de som de uma janela, a adequação de uma porta para determinado ambiente e o gasto adicional ou a menor de cada opção.

Mas ele ressalta que é preciso envolver não só as construtoras, mas toda a cadeia produtiva de fornecedores, que deverão abastecer a chamada "biblioteca BIM". Trata-se de uma plataforma na qual estarão catalogados uma série de produtos utilizados na construção, não só com especificações técnicas, mas também com os preços. Além disso, o serviço público terá que ser treinado para usá-la.

 

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4240, 22/04/2017. Brasil, p. A4.