Tucanos paulistas planejam rebelião por saída do governo

Cleide Carvalho 

06/11/2017

 

 

Após FH cobrar desembarque, dirigentes querem unir lideranças estaduais

-SÃO PAULO- A direção paulista do PSDB pretende iniciar, a partir do próximo domingo, quando acontecem as convenções estaduais do partido, um movimento para cobrar o desembarque do governo Michel Temer. Presidente do PSDB em São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias afirma concordar com o diagnóstico feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em artigo publicado ontem no GLOBO, ele escreveu que, se o PSDB não desembarcar do governo em dezembro, os tucanos se tornarão “coadjuvantes na briga sucessória”.

Segundo Tobias, após as eleições internas da semana que vem, os paulistas deverão convocar os outros dirigentes estaduais a se rebelarem contra o apoio a Temer. Líder do partido na Câmara, o deputado Ricardo Tripoli, também de São Paulo, engrossou o coro do apoio ao artigo de FH e declarou que os tucanos já deveriam ter deixado o governo Temer.

No artigo de ontem, FH propõe que, apesar do desembarque, o PSDB deve continuar apoiando as reformas propostas pelo governo.

— O grupo que está no governo não quer sair, mas não pode permanecer a um custo tão alto para o partido. Ou saímos do governo e voltamos à raiz do PSDB, ou vamos caminhar para o suicídio coletivo — disse Tobias, que deve reforçar a defesa desse posicionamento na convenção estadual do próximo domingo.

Segundo ele, a participação no governo Temer, com ministérios secundários, “foi uma decisão tomada em Brasília por 50 deputados” e segue apenas a posição do grupo ligado ao senador Aécio Neves (MG), afastado da presidência do partido desde maio — no mês seguinte, foi denunciado por corrupção passiva e obstrução à Justiça, em decorrência da delação dos executivos da JBS. Tobias afirmou que a decisão sobre os rumos do partido não pode ficar “nas mãos de Brasília”. Ele chegou a comparar a situação atual do partido à do PMDB em 1988, quando um grupo de políticos saiu da legenda para fundar o PSDB.

— A situação é parecida com a do PMDB daquela época. Temos de ouvir a voz da rua, não a dos gabinetes do governo — disse Tobias, acrescentando que a posição do PSDB paulista tem o apoio de Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB nacional.

Líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique tem toda a razão e a experiência de quem foi eleito presidente duas vezes.

— A saída do governo já deveria ter ocorrido — afirmou, acrescentando o partido ingressou no governo e votou pelas reformas para “salvar o país” depois do impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff, mas que não pode permanecer junto com o PMDB.

Tripoli diz que, na Câmara, pelo menos 15 dos 46 deputados do PSDB apoiam o desembarque do partido do governo. O número citado por ele é menor que os votos dados por tucanos favoráveis ao prosseguimento da denúncia contra Temer na Câmara no último 25 — foram 23 votos.

De olho nas eleições de 2018, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin já afirmou repetidas vezes que o mais importante para o PSDB é apoiar as reformas no Congresso e não ter ministro. Procurado ontem, ele não se manifestou. O prefeito de São Paulo, João Doria, também não quis comentar o artigo de FH.

POLÊMICA COM MINISTRA

O PSDB tem quatro ministros: Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Bruno Araújo (Cidades) e Luislinda Valois (Direitos Humanos). Luislinda foi alvo de polêmica ao tentar justificar um pedido para acumular o salário de ministra ao de desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça da Bahia dizendo que sua situação se assemelharia ao “trabalho escravo”. Luislinda recebe R$ 30.400 como aposentada e, se somasse o salário de ministra, receberia R$ 61 mil. O teto do funcionalismo público, porém, é de R$ 33.700.

 

O globo, n. 30772, 06/11/2017. País, p. 4