Leonardo Picciani cobrou 4,5% de propina, diz delator

Thiago Herdy 

06/11/2017

 

 

Repasse serviria para a Prole obter contratos de publicidade no Ministério da Saúde

-BRASÍLIA- Em outra parte do acordo de colaboração premiada, Renato Pereira afirma que o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, cobrou 4,5% de propina para que a Prole, empresa do marqueteiro, pudesse participar dos contratos de publicidade do Ministério da Saúde, órgão sob influência do PMDB desde 2015. Pereira diz, inclusive, ter conseguido reduzir para 3% a comissão a ser paga, depois de encontrar-se com Picciani no apartamento do ministro, na Barra da Tijuca. Mas, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e alterações no Ministério, o negócio não foi adiante.

A informação sobre o percentual de propina chegou ao marqueteiro em 2015, depois que ele indicou as agências Propeg e Nacional Comunicação (antiga Agência Nacional) para prestarem serviços de publicidade ao governo do Rio.

O delator afirma que o dono da Propeg, Fernando Barros, o informou de uma distribuição desigual de serviços de publicidade entre agências licitadas, daí a necessidade de bom relacionamento com os políticos com poder de decisão sobre o encaminhamento de trabalhos. Pereira diz que, nessa ocasião, Barros teria confessado ter pagado 4,5% a Picciani para garantir um lote mínimo de trabalhos no ministério.

Entre 2007 e 2017, a Propeg faturou R$ 546,3 milhões em contratos da área de Saúde do governo federal. O valor representa 42% do total faturado pela agência nos últimos dez anos com o governo: quase R$ 1,3 bilhão.

MINISTRO: “MENTIRAS SEM PROVAS”

Em nota, Picciani disse que as acusações do delator “são fantasiosas” e “mentiras de quem quer se livrar da cadeia acusando outros sem provas”. Ele confirmou ter se encontrado com Pereira, embora não se recorde “o local nem quem solicitou que o atendesse”. O ministro negou que tivesse influência em contratos no Ministério da Saúde ou que conhecesse Fernando Barros. A Propeg também negou a acusação. Segundo a empresa, “ninguém da agência tem relação com Picciani”. O presidente da Nacional Comunicação, Paulo de Tarso, negou as acusações de Pereira.

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Agência pagou por serviços eleitorais a Marta Suplicy

06/11/2017

 

 

Segundo delator, CDN assumiu despesas em contrapartida por contrato com pasta da Cultura

-BRASÍLIA- Renato Pereira contou no acordo de colaboração premiada ter recebido pagamentos da agência CDN Comunicação por serviços prestados à pré-campanha de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, no primeiro semestre de 2015. O delator sustenta que sua contratação foi uma contrapartida da CDN por contrato de consultoria assinado com o Ministério da Cultura (Minc) durante a gestão de Marta, no ano anterior. Entre 2014 e 2017, a CDN recebeu R$ 25,7 milhões do Minc.

O marqueteiro disse ter sido procurado em dezembro de 2014 por Renato Ganhito, atual vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da CDN, que dizia falar em nome de Marta. Ganhito intermediou encontros de Pereira com a senadora na casa dela, em São Paulo, no ano seguinte, para discutir o cenário e prepará-la para as eleições, de acordo com o relato.

Segundo o delator, a empresa Ideia Inteligência (atual Ideia Big Data), de Maurício Moura, formatou pesquisas de opinião, em custo estimado entre R$ 160 mil e R$ 180 mil, pagos pela CDN. Pereira diz ter cobrado R$ 70 mil por seus serviços.

Os resultados do trabalho foram apresentados em reunião na casa de Marta, em maio de 2015, com a presença do marido dela, Márcio Toledo, segundo o relato. O delator apresentou à Procuradoria-Geral da República três notas fiscais emitidas por sua empresa Rumo Norte, referentes ao serviço prestado à CDN.

Marta foi ministra da Cultura entre setembro de 2012 e novembro de 2014. O contrato foi assinado com a CDN em maio de 2014 e teve o primeiro pagamento liberado em setembro.

A Ideia Inteligência confirmou ter sido contratada pela CDN para “realizar uma rodada de pesquisa quantitativa e qualitativa” e disse que “o serviço foi prestado e os impostos referentes, recolhidos”.

A CDN também confirmou a contratação dos serviços de análise da “viabilidade da senadora eleitoralmente”, mas negou se tratar de contrapartida pelo contrato com o Minc, assinado mediante “concorrência pública, um ano antes”. Marta Suplicy não comentou o caso. O Minc disse estar disposto a colaborar com as investigações.

 

O globo, n. 30772, 06/11/2017. País, p. 3