O FATOR ROCHA LOURES

Jailton de Carvalho

Gabriela Valente

04/06/2017

 

 

Prisão do homem de confiança do presidente Michel Temer aumenta pressão sobre o Planalto

 

A Polícia Federal prendeu ontem o exdeputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial da Presidência da República, acusado de receber propina da JBS em nome do presidente Michel Temer. A prisão do ex-assessor deve aumentar ainda mais a pressão sobre o presidente, já fragilizado pelo inquérito em que é investigado por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa e às vésperas do julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE. Loures foi preso por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), e a pedido do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

No despacho, Fachin classifica de “gravíssima” a conduta de Loures, apontado por Janot como a “longa manus” de Temer. O ministro argumenta que só não decretou a prisão de Loures antes porque ele era parlamentar. “Lamento averbar, mas é gravíssima a conduta narrada, considerando-se os valores em pauta e o poder de influência das autoridades envolvidas”, escreveu Fachin.

O ministro também afirma que é legal a conversa gravada por Joesley Batista com o presidente Temer. “A jurisprudência desta Suprema Corte é pacífica no sentido de que é lícita a captação ambiental de conversa feita por um dos interlocutores mesmo sem o conhecimento do outro”. E acrescenta: “Quanto à alegação da ilicitude da gravação em razão de suspeitas de que seu conteúdo teria sido corrompido, compreendo prematura qualquer consideração a respeito diante do fato segundo o qual a perícia oficial ainda não foi concluída. Há confissão sobre a existência e conteúdo da conversa, suficiente para comprovar o fato”.

Loures foi preso logo no início da manhã de sábado, quando estava em casa, em Brasília, na companhia da mulher, grávida de oito meses. O ex-assessor não teria esboçado reação. A visita da polícia não chegou a ser uma surpresa. No dia anterior, numa conversa com advogados, Loures foi informado que a situação era delicada e que ele poderia ser preso, como vinha acontecendo com outros réus da Lava-Jato. O ex-deputado foi levado para uma cela na Superintendência da PF e amanhã deverá ser transferido para a ala federal do presídio da Papuda.

Loures é acusado de receber uma mala com R$ 500 mil da JBS em nome de Temer. O dinheiro seria a primeira parcela de uma propina de R$ 480 milhões a ser paga num prazo de 20 anos, conforme a taxa de sucesso de negócios da empresa. A mala com dinheiro foi entregue a Loures por Ricardo Saud, um dos encarregados de pagar propina em nome de Joesley Batista, um dos donos da JBS.

 

PROPINA FOTOGRAFADA PELA POLÍCIA FEDERAL

A ação foi fotografada e filmada pela Polícia Federal. As investigações tiveram início a partir de uma conversa gravada entre Temer e Joesley Batista no porão do Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março. Depois de ouvir uma série de relatos de crimes narrados por Batista, Temer indicou Loures como interlocutor de extrema confiança para futuras conversas com o empresário. Ele faria o papel que, até recentemente, era do ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Batista perguntou se poderia conversar sobre “tudo” com Loures. O presidente respondeu “tudo”. Não demorou muito e o assessor entrou em cena. Primeiro foi gravado negociando com Batista cargos e decisões estratégicas do governo federal. Dias depois, foi filmado recebendo a mala de dinheiro de Saud. Isto depois de passar por três endereços: uma pizzaria, um café e um restaurante.

Para investigadores, trata-se de um caso de corrupção com um ciclo completo. As provas iriam do registro da conversa de Temer com Batista até o pagamento da propina. A investigação teve ainda duas inesperadas colaborações. Numa ponta, Temer confirmou o conteúdo básico da conversa com o empresário. Na outra, Loures devolveu a mala com R$ 465 mil e, depois, depositou o restante, R$ 35 mil, em juízo. O que foi interpretado como mais uma confissão.

O advogado Cézar Bitencourt, que defende Loures, disse que vai recorrer. Para ele, não havia necessidade da prisão do ex-deputado.

— Ele está preso indevidamente. É desnecessária a prisão. Não tem nenhum fato que autorize a prisão — disse Bitencourt.

 

O globo, n. 30617, 04/06/2017. PAÍS, p. 3