Palocci diz estar disposto a revelar 'nomes e operações'

Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fausto Macedo

21/11/2017

 

 

Em depoimento a Moro, ex-ministro dos governos Lula e Dilma afirma também que pode apresentar ‘fatos’ de ‘interesse’ da Lava Jato

 

 

 

Em processo inicial de negociação de um acordo de delação premiada com a Procuradoria- Geral da República e a Polícia Federal, o ex-ministro Antonio Palocci ofereceu ao juiz Sérgio Moro “um caminho” que fará “bem ao Brasil” com informações de interesse da Operação Lava Jato.

“Fico à sua disposição hoje e em outros momentos porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o senhor quiser. Se o senhor estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o senhor determinar, eu, imediatamente, apresento todos esses fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser, certamente, do interesse da Lava Jato”, disse ele a Moro.

Palocci é o primeiro político da alta cúpula do PT a indicar que pode fechar um acordo de delação premiada. A possibilidade chegou a preocupar o mercado financeiro nesta semana pelo rumor de que o ex-ministro possa envolver nomes ligados a instituições bancárias.

Preso desde setembro do ano passado, Palocci disse que a Lava Jato “realiza uma investigação de importância”. “Acredito que posso dar um caminho, que, talvez, vá dar um ano de trabalho, mas é um trabalho que faz bem ao Brasil.” O ex-ministro da Fazenda (governo Lula) e da Casa Civil (primeiro governo Dilma) foi interrogado em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva relacionados à obtenção, pela Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás.

Segundo a denúncia, entre 2006 e 2015, Palocci estabeleceu com executivos da empreiteira “um amplo e permanente esquema de corrupção” destinado a assegurar o atendimento dos interesses do grupo empresarial no governo.

O Ministério Público Federal aponta que, como deputado, chefe da Casa Civil e integrante do Conselho de Administração da estatal, Palocci interferiu para que o edital de licitação lançado pela petroleira e destinado à contratação de 21 sondas fosse formulado e publicado de forma a assegurar que a Odebrecht não apenas obtivesse os contratos, mas que também firmasse tais acordos com margem de lucro pretendida.

 

‘Italiano’. Palocci afirmou que não iria “dizer que nada corresponde à realidade” ao responder sobre a suspeita de ser o “Italiano” registrado na planilha de conta corrente da Odebrecht. Segundo o ex-ministro, Marcelo Odebrecht “nunca” o chamou de “Italiano”. “Vou dizer que eu jamais orientei ou organizei pagamentos ou operei caixa 2 junto ao Marcelo (Odebrecht).

Jamais isso aconteceu.” Palocci ainda contestou valores tidos como propina paga ao PT durante campanhas eleitorais. “Digo mais. Do que eu sabia, porque não lidava com isso, do que eu sabia dos recursos de campanha e de dívidas de campanha com marqueteiros, parece- me que esses valores são bem diferentes do que eu tinha de informações.”

 

Caixa 2. O ex-ministro também afirmou, assim como Marcelo Odebrecht já declarou à Justiça, que o caixa 2 é prática ilícita recorrente em qualquer campanha política. “Todo mundo sabe que teve caixa 2 em todas as campanhas.” Palocci não apontou, especificamente, para nenhuma disputa eleitoral.

“Eu não me sinto em condições de falar o que todo mundo está falando, que nada existiu, que tudo foi aprovado nos tribunais.

Não, todo mundo sabe que teve caixa 2 em todas as campanhas.

Não vou mentir sobre coisas”, disse o ex-ministro.

Palocci afirmou que nunca pediu recurso para a empresa enquanto foi ministro. “Nunca pedi recurso para sondas, nunca, jamais. Aliás, um dado a mais. A Sete Brasil (empresa que teria intermediado contratação pela Odebrecht de sondas com a Petrobrás) é uma empresa privada, é propriedade de bancos. Não sei como um agente público poderia pedir apoio. Nunca pedi recursos fora do Brasil e nunca pedi ou operei caixa 2, mas ouvi dizer que existia em todas as campanhas, isso é um fato”, disse o ex-ministro a Moro.

 

Paraná. O ex-ministro Antonio Palocci presta depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba

 

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“Todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui estão à sua disposição o dia que o senhor quiser. Se o senhor estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o senhor determinar eu, imediatamente, apresento todos esses fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser, certamente, do interesse da Lava Jato.”

Antonio Palocci

EX-MINISTRO AO JUIZ SÉRGIO MORO

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Cunha recebeu mesada por três anos, diz delator

Luiz Vassallo / Julia Affonso / Ricardo Brandt

21/11/2017

 

 

Benedicto Júnior, da Odebrecht, detalha propina a ex-deputado por liberação de recursos do FGTS a porto no Rio

 

 

O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior afirmou, em delação premiada, que a empreiteira pagou R$ 19,7 milhões ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que o peemedebista exercesse influência sobre a liberação de recursos do FI-FGTS para obras do Porto Maravilha, no Rio. Os pagamentos, segundo o delator, foram feitos por meio de 36 parcelas de R$ 547 mil cada uma, pagas entre 2011 e 2014.

A delação da Odebrecht é a terceira que aponta esquema de corrupção envolvendo Cunha na Caixa Econômica Federal. O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, entregou ao Ministério Público Federal uma tabela com 22 depósitos no total de US$ 4.680.297,05 também correspondentes ao Porto Maravilha.

O ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, homem forte de Cunha dentro da instituição financeira, também relatou que o peemedebista cobrava comissões variáveis de 0,3%, 0,5% ou de até mais de 1% dos repasses feitos pelo fundo. Uma delas teria chegado a R$ 52 milhões.

Benedicto disse ter se reunido em 2011 com Cunha, no escritório político do então deputado, onde o peemedebista teria pedido as propinas. Os valores exigidos pelo parlamentar foram discutidos em reunião entre as integrantes da Concessionária do Porto Maravilha – OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia.

De acordo com o delator da Odebrecht, teria ficado claro que, “a partir dos pagamentos concretizados, haveria apoio do deputado Eduardo Cunha para eventuais liberações futuras do FI-FGTS para o Porto Maravilha, no Rio”.

No sistema Drousys, utilizado pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – o “departamento de propina” da empreiteira – para controlar o pagamento de vantagens indevidas, Cunha tinha o apelido de “Caranguejo”. Procurada, a defesa de Cunha não se manifestou até a conclusão desta edição.

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Renan critica ‘arrastão’ da força-tarefa

Julia Lindner

21/04/2017

 

 

Réu no Supremo Tribunal Federal, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), voltou a criticar os responsáveis pela Operação Lava Jato. Em discurso na tribuna do plenário, ontem, Renan afirmou haver um “arrastão para desmoralizar homens públicos de bem”.

“Denúncias precárias e pedidos de abertura de novos inquéritos surgem exatamente quando o Congresso se debruça sobre o projeto de lei que pune o abuso de autoridade e busca soluções para a sangria salarial provocada pelos auxílios inconstitucionais auferidos pelos membros do Ministério Público”, disse.

Anteontem, três procuradores da Lava Jato publicaram vídeo com críticas ao relatório apresentado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) sobre a lei do abuso. Renan, autor do projeto, disse que a iniciativa “deforma a realidade e confunde a população”.

Requião propôs um substitutivo à proposta alternativa do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com diversas alterações.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45111, 21/04/2017. Política, p. A6.