Valor econômico, v. 17, n. 4243, 27/04/2017. Brasil, p. A2

Economistas projetam queda de 1% e IGP-M pode igualar recorde de baixa

 

Estevão Taiar

 

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de abril pode ter igualado o menor dado da série histórica, reforçando ainda mais a tendência de desaceleração da inflação no longo prazo. De acordo com a média das projeções de 18 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o indicador caiu 1% neste mês - mesmo número de junho de 2003, o mais baixo já registrado.

As projeções para o índice de abril, que será divulgado hoje pela FGV, vão de -1,19% até -0,85%. No acumulado de 12 meses, a estimativa média é de alta de 3,49%, menor do que os 4,86% de março. No mês passado, o IGP-M ficou praticamente estável em relação a fevereiro, com alta de 0,01%.

Agora, a tendência é de deflação, influenciada principalmente por itens do atacado, como alimentos e minério de ferro. O Bradesco espera que o recuo desses itens leve a uma queda de 0,99% do IGP-M, o que "deverá reforçar nossa expectativa de continuidade de desinflação". A MCM Consultores tem avaliação parecida a respeito dos motivos da deflação, que nas contas da empresa ficou em 1%.

Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, o minério de ferro vem apresentando " correção de preços" após a alta que se seguiu à eleição de Donald Trump. Ele calcula que isso e a "safra agrícola muito forte" levaram o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) a recuar 1,45% em abril. O IPA responde por 60% do IGP-M.

Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por outros 30%, deve ter crescimento modesto de 0,34%, nos cálculos de Castelli. Ao contrário do atacado, os alimentos podem apresentar alta "com caráter sazonal" no varejo, assim como os medicamentos.

Mas, ainda que o IPC tenha crescido em abril, a tendência é que o varejo continue pouco pressionado nos próximos meses, à medida que os preços em queda do atacado sejam repassados.

Dono dos outros 10% do peso do IGP-M, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) caiu 0,08%, segundo dados divulgados ontem pela FGV. O recuo, puxado por itens ligados a materiais e serviços, era esperado por MCM e GO Associados. "É mais um fator que contribui para a deflação do mês", diz Castelli. Caso esse quadro mais amplo se confirme, o IGP-M terá seu segundo número negativo desde setembro de 2009. A última queda aconteceu em novembro do ano passado, quando o indicador recuou apenas 0,03%.

Em linhas gerais, os números esperados para abril "reforçam o cenário muito favorável para a inflação", diz Castelli. Ele calcula que o acumulado de 12 meses do IGP-M deve ficar em torno de 3,5% durante boa parte do segundo semestre, para depois ter uma pequena alta, permanecendo ainda abaixo de 4,5%.

"Você praticamente não tem pressão. A demanda está muito fraca, a oferta de alimentos que estava prejudicando [a queda da inflação] se normalizou e o câmbio, apesar das incertezas políticas, tem se mantido estável", afirma.

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Brasil e AL precisam de fontes internas de crescimento

 
Sergio Lamucci
 

Os países da América Latina como o Brasil precisam buscar fontes domésticas de crescimento, num cenário em que não deverá ser possível obter grande impulso por meio das exportações, diz relatório do UBS Wealth Management. Entre outras medidas, é preciso melhorar a produtividade e aumentar o investimento em infraestrutura, promovendo reformas estruturais, aponta a instituição.

Para o Brasil, o maior desafio é enfrentar o "déficit fiscal estrutural por meio da reforma da Previdência, para liberar o investimento público e privado em infraestrutura, educação e saúde", afirma Jorge Mariscal, diretor de investimentos de mercados emergentes do UBS Wealth Management.

O relatório destaca que, apesar da recente recuperação de preços de commodities e do comércio global, não se espera a volta aos melhores momentos vividos ao longo dos anos 2000. Além disso, há tendências protecionistas nos EUA e na Europa, diz o UBS Wealth Management, acrescentando que permanece pouco claro se aprofundar as relações com a China beneficia os países latino-americanos na mesma medida em que favorece a nação asiática.

Mariscal diz que a má qualidade da infraestrutura brasileira, ao mesmo tempo em que é um desafio, oferece oportunidades de investimento para quem, como ele, avalia que o país está no caminho certo. O relatório vê como uma oportunidade a perspectiva de aprovação das reformas perseguidas pelo governo de Michel Temer, por se tratar de medidas que buscariam resolver restrições estruturais importantes.

Na visão do UBS, a região precisa focar novamente em infraestrutura, com ênfase em parcerias público-privadas (PPPs), para avançar na área sem comprometer as contas públicas. O estudo nota que, entre 2009 e 2013, o Brasil gastou em infraestrutura 3,1% do PIB em média por ano, abaixo dos 5,1% do PIB do Peru e dos 3,3% do PIB do Chile, mas acima dos 2% do PIB da Argentina e do 1,8% do PIB do México.

Para Mariscal, o Brasil ainda tem a demografia a seu favor, contando com um grande mercado doméstico. "O desafio é possibilitar o aumento do poder de compra. Para que isso ocorra, a inflação e os juros precisam cair, como resultado da reforma da Previdência e de uma melhor dinâmica da dívida", afirma ele, um dos autores do documento.

O relatório diz que há motivos para uma visão "cautelosamente otimista" em relação à América Latina. A região foi afetada pelo forte tombo dos preços de commodities a partir do começo de 2014, mas boa parte dos países passou por um ajuste de suas moedas que, mais desvalorizadas, elevam a competitividade das economias, avalia o UBS Wealth Management. Isso também leva a uma nova rodada de reformas amigáveis ao mercado, o que deve tornar esses países mais competitivos no médio e longo prazo, diz Mariscal.

Para o UBS, o pêndulo político da região moveu-se na direção de um panorama mais promissor. "O caso do Brasil é especialmente notável", afirma o relatório. A instituição avalia que, embora a Lava-Jato e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff tenham sido em parte responsáveis pela magnitude da recessão de 2015 e 2016, o avanço na luta contra a corrupção, graças a um Judiciário independente, deixa o país em posição mais favorável para os próximos anos.

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Governo faz corte real de 10% no custeio do 1º tri

 

Cristiane Bonfanti

 

O governo federal reduziu em 10,2%, em termos reais, as despesas de custeio administrativo no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2016, totalizando R$ 3,114 bilhões. Nos três primeiros meses do ano passado, essas despesas haviam somado R$ 3,466 bilhões. Em termos nominais, a queda foi de 6% na mesma base de comparação.

Os números constam do Boletim de despesas de custeio administrativo e abrangem dados do Poder Executivo. De acordo com o documento, a maior queda, em termos percentuais, ocorreu nos gastos com combustíveis e lubrificantes (-45,2%). Em seguida, destacam-se as reduções nas despesas com serviços de energia elétrica (-36,5%), serviços de telecomunicações (-25,7%) e serviços de comunicação em geral (-22,4%).

Por outro lado, as despesas com serviços bancários subiram 30,6% no período, em termos reais. Os gastos com serviço de consultoria cresceram 20,4% no trimestre e os com locação de máquinas e equipamentos, 23,4%, na mesma base de comparação. Houve alta também nas despesas com locações de mão de obra e terceirização, que cresceram 17,6%, em termos reais, no primeiro trimestre, ante o mesmo período de 2016.

O secretário de Orçamento Federal, George Soares, afirmou que a redução nas despesas no primeiro trimestre reflete um esforço da administração pública para a redução de despesas. Soares ressaltou que o cenário fiscal deste ano é apertado e que, nos próximos anos, em função da instituição de um teto para o crescimento dos gastos no país, a administração pública terá de se empenhar para reduzir as despesas de custeio e abrir espaço para investimentos.

"Acompanhamos a parte do custeio para que ela se comporte de forma aderente ao resto do fiscal, para que a gente possa ter espaço para investimentos também", disse o secretário. "A ideia é que essas despesas sejam olhadas com atenção", complementou Soares.

O boletim agrupa as despesas em oito itens: serviços de apoio; material de consumo; comunicação e processamento de dados; locação e conservação de bens imóveis; energia elétrica e água; locação e conservação de bens móveis; diárias e passagens; e outros serviços. Segundo o Planejamento, os serviços de apoio corresponderam a 51% do total de despesas no primeiro trimestre. Esses serviços incluem contratação temporária; locação de mão de obra e terceirização; limpeza e conservação; vigilância ostensiva; e apoio administrativo, técnico e operacional.