Estevão Taiar
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de abril pode ter igualado o menor dado da série histórica, reforçando ainda mais a tendência de desaceleração da inflação no longo prazo. De acordo com a média das projeções de 18 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o indicador caiu 1% neste mês - mesmo número de junho de 2003, o mais baixo já registrado.
As projeções para o índice de abril, que será divulgado hoje pela FGV, vão de -1,19% até -0,85%. No acumulado de 12 meses, a estimativa média é de alta de 3,49%, menor do que os 4,86% de março. No mês passado, o IGP-M ficou praticamente estável em relação a fevereiro, com alta de 0,01%.
Agora, a tendência é de deflação, influenciada principalmente por itens do atacado, como alimentos e minério de ferro. O Bradesco espera que o recuo desses itens leve a uma queda de 0,99% do IGP-M, o que "deverá reforçar nossa expectativa de continuidade de desinflação". A MCM Consultores tem avaliação parecida a respeito dos motivos da deflação, que nas contas da empresa ficou em 1%.
Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, o minério de ferro vem apresentando " correção de preços" após a alta que se seguiu à eleição de Donald Trump. Ele calcula que isso e a "safra agrícola muito forte" levaram o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) a recuar 1,45% em abril. O IPA responde por 60% do IGP-M.
Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por outros 30%, deve ter crescimento modesto de 0,34%, nos cálculos de Castelli. Ao contrário do atacado, os alimentos podem apresentar alta "com caráter sazonal" no varejo, assim como os medicamentos.
Mas, ainda que o IPC tenha crescido em abril, a tendência é que o varejo continue pouco pressionado nos próximos meses, à medida que os preços em queda do atacado sejam repassados.
Dono dos outros 10% do peso do IGP-M, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) caiu 0,08%, segundo dados divulgados ontem pela FGV. O recuo, puxado por itens ligados a materiais e serviços, era esperado por MCM e GO Associados. "É mais um fator que contribui para a deflação do mês", diz Castelli. Caso esse quadro mais amplo se confirme, o IGP-M terá seu segundo número negativo desde setembro de 2009. A última queda aconteceu em novembro do ano passado, quando o indicador recuou apenas 0,03%.
Em linhas gerais, os números esperados para abril "reforçam o cenário muito favorável para a inflação", diz Castelli. Ele calcula que o acumulado de 12 meses do IGP-M deve ficar em torno de 3,5% durante boa parte do segundo semestre, para depois ter uma pequena alta, permanecendo ainda abaixo de 4,5%.
"Você praticamente não tem pressão. A demanda está muito fraca, a oferta de alimentos que estava prejudicando [a queda da inflação] se normalizou e o câmbio, apesar das incertezas políticas, tem se mantido estável", afirma.
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Para o Brasil, o maior desafio é enfrentar o "déficit fiscal estrutural por meio da reforma da Previdência, para liberar o investimento público e privado em infraestrutura, educação e saúde", afirma Jorge Mariscal, diretor de investimentos de mercados emergentes do UBS Wealth Management.
O relatório destaca que, apesar da recente recuperação de preços de commodities e do comércio global, não se espera a volta aos melhores momentos vividos ao longo dos anos 2000. Além disso, há tendências protecionistas nos EUA e na Europa, diz o UBS Wealth Management, acrescentando que permanece pouco claro se aprofundar as relações com a China beneficia os países latino-americanos na mesma medida em que favorece a nação asiática.
Mariscal diz que a má qualidade da infraestrutura brasileira, ao mesmo tempo em que é um desafio, oferece oportunidades de investimento para quem, como ele, avalia que o país está no caminho certo. O relatório vê como uma oportunidade a perspectiva de aprovação das reformas perseguidas pelo governo de Michel Temer, por se tratar de medidas que buscariam resolver restrições estruturais importantes.
Na visão do UBS, a região precisa focar novamente em infraestrutura, com ênfase em parcerias público-privadas (PPPs), para avançar na área sem comprometer as contas públicas. O estudo nota que, entre 2009 e 2013, o Brasil gastou em infraestrutura 3,1% do PIB em média por ano, abaixo dos 5,1% do PIB do Peru e dos 3,3% do PIB do Chile, mas acima dos 2% do PIB da Argentina e do 1,8% do PIB do México.
Para Mariscal, o Brasil ainda tem a demografia a seu favor, contando com um grande mercado doméstico. "O desafio é possibilitar o aumento do poder de compra. Para que isso ocorra, a inflação e os juros precisam cair, como resultado da reforma da Previdência e de uma melhor dinâmica da dívida", afirma ele, um dos autores do documento.
O relatório diz que há motivos para uma visão "cautelosamente otimista" em relação à América Latina. A região foi afetada pelo forte tombo dos preços de commodities a partir do começo de 2014, mas boa parte dos países passou por um ajuste de suas moedas que, mais desvalorizadas, elevam a competitividade das economias, avalia o UBS Wealth Management. Isso também leva a uma nova rodada de reformas amigáveis ao mercado, o que deve tornar esses países mais competitivos no médio e longo prazo, diz Mariscal.
Para o UBS, o pêndulo político da região moveu-se na direção de um panorama mais promissor. "O caso do Brasil é especialmente notável", afirma o relatório. A instituição avalia que, embora a Lava-Jato e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff tenham sido em parte responsáveis pela magnitude da recessão de 2015 e 2016, o avanço na luta contra a corrupção, graças a um Judiciário independente, deixa o país em posição mais favorável para os próximos anos.
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Cristiane Bonfanti
O governo federal reduziu em 10,2%, em termos reais, as despesas de custeio administrativo no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2016, totalizando R$ 3,114 bilhões. Nos três primeiros meses do ano passado, essas despesas haviam somado R$ 3,466 bilhões. Em termos nominais, a queda foi de 6% na mesma base de comparação.
Os números constam do Boletim de despesas de custeio administrativo e abrangem dados do Poder Executivo. De acordo com o documento, a maior queda, em termos percentuais, ocorreu nos gastos com combustíveis e lubrificantes (-45,2%). Em seguida, destacam-se as reduções nas despesas com serviços de energia elétrica (-36,5%), serviços de telecomunicações (-25,7%) e serviços de comunicação em geral (-22,4%).
Por outro lado, as despesas com serviços bancários subiram 30,6% no período, em termos reais. Os gastos com serviço de consultoria cresceram 20,4% no trimestre e os com locação de máquinas e equipamentos, 23,4%, na mesma base de comparação. Houve alta também nas despesas com locações de mão de obra e terceirização, que cresceram 17,6%, em termos reais, no primeiro trimestre, ante o mesmo período de 2016.
O secretário de Orçamento Federal, George Soares, afirmou que a redução nas despesas no primeiro trimestre reflete um esforço da administração pública para a redução de despesas. Soares ressaltou que o cenário fiscal deste ano é apertado e que, nos próximos anos, em função da instituição de um teto para o crescimento dos gastos no país, a administração pública terá de se empenhar para reduzir as despesas de custeio e abrir espaço para investimentos.
"Acompanhamos a parte do custeio para que ela se comporte de forma aderente ao resto do fiscal, para que a gente possa ter espaço para investimentos também", disse o secretário. "A ideia é que essas despesas sejam olhadas com atenção", complementou Soares.
O boletim agrupa as despesas em oito itens: serviços de apoio; material de consumo; comunicação e processamento de dados; locação e conservação de bens imóveis; energia elétrica e água; locação e conservação de bens móveis; diárias e passagens; e outros serviços. Segundo o Planejamento, os serviços de apoio corresponderam a 51% do total de despesas no primeiro trimestre. Esses serviços incluem contratação temporária; locação de mão de obra e terceirização; limpeza e conservação; vigilância ostensiva; e apoio administrativo, técnico e operacional.