Aliados resistem a ‘fechar questão’ na Previdência

Isadora Peron /Daiene Cardoso / Tânia Monteiro

21/11/2017

 

 

Até agora, apenas dois dos 15 partidos da base aliada, PMDB e PP, disseram que vão votar em bloco pela aprovação do projeto de reforma

 

 

 

Apesar da pressão do governo, partidos da base aliada resistem em fechar questão a favor da reforma Previdência. Por enquanto, apenas lideranças do PMDB e PP afirmaram que devem adotar a medida para garantir os votos necessários para aprovar a proposta na Câmara. O ‘Estado’ ouviu líderes e dirigentes de 15 partidos da base, que somam quase 400 deputados.

Até mesmo aliados de primeira ordem, como o PSDB e o DEM, declararam não estar dispostos a obrigar suas bancadas a votar fechada com a proposta.

Essa também é a posição do PSD, PR, PTB e PV. Já integrantes do PRB, PPS, PTN e PSC disseram que ainda iriam discutir o assunto, em reuniões que devem acontecer nas próximas semanas, mas a sinalização inicial é de que não devem impor um posicionamento às bancadas.

Apesar de serem da base, PSB, SD e PROS devem votar contra.

No jargão político, o termo “fechar questão” é usado quando a legenda adota posição única sobre como cada um deve votar.

O parlamentar que desrespeitar a ordem corre o risco de punição. Como mostrou o Estado ontem, diante dos vários sinais de rebelião no Congresso, o Palácio do Planalto escalou os ministros para pressionarem os deputados dos seus partidos a votarem a favor da reforma, sob o risco de perderem seus cargos no governo.

 

Sem cargos. O presidente Michel Temer disse ontem que “vai avaliar” se os parlamentares dos partidos da base aliada que votarem contra a reforma poderão perder seus cargos. A declaração foi feita por ele depois de um evento no Itamaraty de comemoração ao dia do diplomata.

Questionado se a base pode perder cargos, se votar contra, Temer respondeu: “Espero que não”. Diante da insistência de repórteres, ele disse: “Isso não sei. Nós vamos examinar no futuro”. Temer também minimizou traição de partidos como PSB e PRB na votação nesta semana da urgência da reforma trabalhista na terça-feira.

A última atualização da segunda rodada do Placar da Previdência, levantamento feito pelo Grupo Estado depois do anúncio das flexibilizações pelo relator Arthur Oliveira Maia (PPSBA), mostra que 178 deputados se declararam contrários ao novo texto da reforma, ante 66 favoráveis.

Outros 98 deputados não abriram o voto e 37 se declararam indecisos. A equipe do Estado ainda não havia conseguido localizar 132 parlamentares.

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Por reforma, Temer recorre a Silvio Santos

Tânia Monteiro e Vera Rosa

21/11/2017

 

 

Presidente pediu que apresentador explique mudanças na TV; conversa começou no Jassa

 

 

O presidente Michel Temer pediu ajuda ao apresentador Silvio Santos, dono do SBT, para explicar a reforma da Previdência, de forma didática, às classes mais populares. Temer jantou ontem com Silvio, em São Paulo, e disse que tem enfrentado muitas dificuldades na comunicação da proposta, porque há uma “campanha” das corporações contra a reforma.

Quem acertou a reunião entre Temer e Silvio foi o apresentador do SBT Carlos Roberto Massa, o Ratinho, que vai começar a defender na TV as mudanças na aposentadoria.

O âncora do Programa do Ratinho se encontrou com o presidente na semana passada no salão do Jassa, nos Jardins. Enquanto cortava o cabelo, Temer revelou preocupação com o que chamou de “mentiras” veiculadas sobre a reforma da Previdência.

“Vamos falar com o Silvio”, disse Ratinho, de acordo com relato da conversa obtido pelo Estado. Jassa, amigo da dupla, apoiou a ideia.

A ofensiva do Planalto para atrair apoio à sua proposta passa pela distribuição de verbas federais de publicidade em rádios e TVs. No caso de Silvio e Ratinho, no entanto, auxiliares de Temer dizem que nada foi acertado.

O governo quer que locutores e apresentadores populares expliquem as mudanças sob um ponto de vista positivo.

Há também uma estratégia regional montada para o Nordeste, onde Temer tem a pior avaliação. Os veículos de comunicação que aderirem à propaganda da reforma terão direito aos recursos.

Mesmo com os vários recuos nos últimos dias, o governo enfrenta dificuldades para conseguir aprovar seu projeto. Nos bastidores, interlocutores de Temer afirmam que as votações na Câmara e no Senado não serão concluídas antes de setembro.

Agora, o presidente quer usar o poder de comunicação de Silvio Santos para “traduzir” a reforma à população. O governo bate na tecla de que não haverá prejuízo aos mais pobres nem a quem já alcançou o direito ao benefício.

“Convenhamos, ninguém quer fazer mal ao País. Dizem que essa reforma da Previdência vai pegar os pobres.

Vou usar uma palavra forte: Mentira. Mentira, porque 63% do povo brasileiro ganha salário mínimo. Portanto, não vai atingir os pobres.

Os que resistem e fazem campanha são os mais poderosos, os que ganham mais”, disse Temer no dia 18, em café da manhã oferecido aos deputados da base aliada, no Palácio da Alvorada.

Inicialmente, Temer não pretende ir ao programa de Silvio, mas, sim, fazer com que o apresentador passe o recado do governo. É possível, no entanto, que ele acabe gravando alguma entrevista para Silvio e para Ratinho.

O Planalto também vai divulgar na próxima semana, em emissoras de TV, rádio e redes sociais, a campanha em defesa da reforma trabalhista.

A ideia é pôr as peças no ar antes das manifestações programadas para 1.° de maio.

 

Alvo. Temer pediu ajuda para ‘popularizar’ proposta

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45111, 21/04/2017. Economia, p. B5.