Economistas estimam ganho menor com reforma

Juliano Basile

25/04/2017

 

 

José Márcio Camargo: com concessões, Previdência será 70% do gasto total

 

 

Economistas do setor privado estimam que as concessões feitas pelo governo na reforma da Previdência reduziram a economia potencial com a proposta original em cerca de 30% a 40%, enquanto o governo avalia que a proposição original foi diluída em cerca de 25% no substitutivo apresentado pelo relator Arthur Maia (PPS-BA).

Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, as alterações na reforma da Previdência mantêm 65% dos ganhos que seriam obtidos com a proposta original em dez anos. A conta apresentada por ele é um pouco menos favorável do que a do governo.

Em evento organizado ontem pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, no Harvard Club, em Nova York, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kanczuk, manteve a previsão da pasta que foi divulgada no fim de semana pelo ministro Henrique Meirelles e que indicou manutenção dos ganhos fiscais em 75% pelos próximos dez anos.

"A boa reforma é a que será aprovada", comentou Kawall, para quem o país estará em situação fiscal melhor quando a discussão sobre regras previdenciárias voltar a ser feita. O economista ressaltou, contudo, que o próximo governo, a ser eleito em 2018, terá que entrar em questões que ainda não foram abordadas por Temer do ponto de vista fiscal, como a redução do montante gasto com salários pelo governo.

O Itaú também avalia que, com as mudanças propostas pelo relator, o governo precisará adotar medidas adicionais do lado da despesa para manter o teto do crescimento do gasto de pé, como o fim de alguns subsídios. Nas contas do banco, cerca de 57% da proposta original foi preservada. Ou seja, as mudanças reduzem a estimativa de economia com a reforma para R$ 421 bilhões até 2025, contra R$ 755 bilhões da proposta original. A estimativa apresentada pelo relator é de economia de R$ 630 bilhões com as novas regras, contra R$ 818 bilhões da proposta original.

O economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, estima que as alterações na proposta original da reforma da Previdência vão reduzir em 15 pontos percentuais o total de gastos que o governo tem com o sistema de aposentadorias em 20 anos. Segundo ele, que também participou do evento em Nova York, sem a realização da reforma os gastos com Previdência atingiriam 100% da despesa federal em 20 anos.

Com a proposta original, os gastos com o sistema de pensões seriam equivalentes a 55% do total nesse prazo. Já as mudanças feitas na semana passada, com concessões a alguns setores que não serão mais atingidos pela proposta em tramitação no Congresso, os gastos com Previdência serão equivalentes a 70% do gasto total. Portanto, a diferença foi de 15 pontos percentuais entre a proposta original e as concessões feitas.

Ainda assim, a reforma continua sendo positiva, diz Camargo. "Ao sair de 100% dos gastos em 20 anos para 70% se obtém 30 pontos. Não é pouco. É uma boa reforma. Mas poderia ser melhor".

Para Fabio Kanczuk, da Fazenda, a aprovação das reformas elevará o potencial de crescimento do país para 3,7% ao ano. (Colaborou Tainara Machado, de São Paulo).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4241, 23/04/2017. Brasil, p. A3.