Carolina Brígido
Renata Mariz
Thiago Herdy
14/06/2017
O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Lava-Jato desde outubro do ano passado, vai prestar depoimento hoje no inquérito que investiga o presidente Michel Temer por corrupção passiva, obstrução à Justiça e participação em investigação criminosa. Cunha é investigado no mesmo inquérito, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento foi agendado para as 11h, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Em pedido encaminhado ao STF, a defesa de Cunha pede acesso a todo o material do inquérito “e a qualquer outro dado investigatório não contido nos autos eletrônicos deste inquérito policial, com pelo menos 48 horas de antecedência de sua oitiva”. Se o pedido for concedido pelo relator do inquérito, o ministro Edson Fachin, o depoimento será adiado. Segundo a defesa, o investigado não teve pleno conhecimento de todo o material, em especial os áudios ambientais e as ligações telefônicas.
CUNHA PODE IMPLICAR TEMER
Se tiver que depor, Cunha deve manter a estratégia de negar as acusações. Segundo pessoas próximas ao ex-deputado, ele não descarta a possibilidade de implicar Temer. Contudo, avalia que o momento ainda não chegou e que o mais prudente agora seria negar as acusações de que Joesley Batista, o dono da JBS, teria comprado seu silêncio na cadeia por meio de repasses de propina.
Segundo o Ministério Público, Joesley afirmou em depoimento anterior que mantinha pagamentos a intermediários de Cunha para que não revelasse nada que prejudicasse o governo Temer. Em conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, Joesley contou que estava tentando manter bom relacionamento com Cunha. Na gravação, Temer aparece dizendo que era preciso “manter isso”. O doleiro Lúcio Funaro, que também está preso, seria um desses intermediários. O teor da conversa gravada entre Temer e Joesley está sendo periciado pelo Polícia Federal (PF) e faz parte do inquérito.
Cunha teria ficado irritado ao tomar conhecimento de que Funaro contratou o advogado Figueiredo Basto, um dos mais procurados pelos delatores da Lava-Jato. Atual advogado de Cunha, Rodrigo Sanchez é contrário às delações premiadas.
A PF tem até a próxima segunda-feira para concluir o inquérito. Os responsáveis pela investigação solicitaram prazo maior, mas Fachin concedeu apenas cinco dias. A Procuradoria-Geral da República deve oferecer denúncia contra o presidente a partir das investigações feitas pela PF. O procurador-geral Rodrigo Janot não precisa, no entanto, esperar o inquérito ser concluído para apresentar a denúncia ao STF.
Joesley Batista desembarcou domingo passado no Brasil para prestar esclarecimentos a procuradores da Lava-Jato. Ele e o executivo Ricardo Saud, da JBS, prestaram depoimento segunda-feira, na Procuradoria da República no Distrito Federal, em investigação instaurada a partir das delações do grupo. Eles foram chamados para explicar informações prestadas nos termos de colaboração fechado com a Lava-Jato que envolvem contas no exterior com recursos de propina supostamente destinados aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.
Na delação, Joesley narrou que manteve duas contas no exterior por onde passaram cerca de US$ 150 milhões, dos quais US$ 70 milhões teriam sido movimentados em nome de Lula e US$ 80 milhões, de Dilma. Essa parte da colaboração foi desmembrada e encaminhada para a Procuradoria da República no Distrito Federal, que abriu um Procedimento Investigatório Criminal.
Segundo informações divulgadas na noite de ontem pela JBS, Joesley passou os últimos dias na China, e não nos Estados Unidos, como se supunha em função dos imóveis que ele tem em Nova York.
“Ele se ausentou do Brasil nos últimos dias para proteger a integridade de sua família, que sofreu reiteradas ameaças desde que ele se dispôs a colaborar com o Ministério Público”, escreveu a assessoria de Joesley, em nota. Segundo o comunicado, o empresário participou ontem de encontros de trabalho em São Paulo.
“NÃO ESTAVA NA 5ª AVENIDA”
Na nota, a empresa disse que ele não revelou que estava na China “por razões de segurança”, e viajou ao exterior “com autorização da Justiça brasileira”.
Ainda de acordo com a assessoria , ele não estava “passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República”. Nos últimos dias, o setor jurídico do grupo J&F, que detém a JBS, vem dando continuidade a investigações internas para oferecer à PGR dados complementares à delação dos executivos da empresa.
O globo, n.30627 , 14/06/2017. PAÍS, p. 4