Impacto do FGTS no PIB pode superar projeções

Fabio Graner

04/05/2017

 

 

Os saques das contas inativas do FGTS estão tendo um desempenho acima do esperado pela equipe econômica e podem dar um impulso maior para a economia. Até o fim de abril, o programa já tinha liberado R$ 16,2 bilhões, 92% do potencial de recursos previsto para o período desde que o programa começou, em março, segundo uma fonte informou ao Valor.

Com isso, de acordo com esse interlocutor, entrou no radar do governo a possibilidade de que o programa acabe liberando praticamente todos os R$ 43 bilhões que estão nas contas inativas, o que, nos cálculos da equipe econômica, elevaria o impacto no PIB de 0,48 para 0,6 ponto porcentual neste ano. Inicialmente, o governo trabalhava com um índice de 70% de saques, que apontava para cerca de R$ 30 bilhões em retiradas. Essa projeção pouco depois foi elevada para perto de R$ 35 bilhões.

"Estamos achando que, com esse desempenho, os saques podem chegar a R$ 43 bilhões ou perto disso", afirmou a fonte, lembrando que já são mais de 17 milhões de pessoas que retiraram o dinheiro que estava parado rendendo apenas 3% ao ano.

O resultado reforça o viés de alta para a projeção oficial do governo para o PIB do ano, cujos sinais de um desempenho favorável no primeiro trimestre têm sido ressaltados pelos técnicos e, repetidamente, pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A expectativa de crescimento da economia para 2017 é de 0,5%, mas técnicos acreditam que o número, inicialmente alinhado com as estimativas de mercado, poderá ser maior.

A análise de impacto do FGTS no PIB feita na área técnica considera que cerca de 70% dos recursos irão de alguma forma para o consumo. Essa expectativa está acima do que previam pesquisas do setor privado sobre intenção dos consumidores em torno do que fazer com o dinheiro, que indicavam para o consumo de 20% a 50% do total.

De qualquer forma, a fonte explica que, mesmo que não sejam direcionados automaticamente para o consumo, os recursos serão em grande medida utilizados para "limpar" os orçamentos das famílias endividadas. E isto, argumenta, em um segundo momento favorecerá a capacidade de consumo das pessoas e o maior dinamismo econômico ao longo do ano.

Para este interlocutor, a baixa do resultado da indústria em março, na comparação com fevereiro, não retira o otimismo do governo sobre o desempenho da atividade econômica. A visão é que, mesmo com essa queda, o resultado da indústria no trimestre passado foi positivo e disseminado entre os segmentos. Mesmo o setor de bens de capital, que teve queda no trimestre em relação ao quarto trimestre, apresentou alta na comparação com igual período de 2016, lembra o interlocutor.

A leitura de que a recuperação é consistente e não meramente um ajuste estatístico depois de tantas quedas, na visão da equipe econômica, é reforçada por indicadores antecedentes, como emissão de papelão ondulado, fluxo rodoviário e vendas de caminhões.

A intensificação da trajetória de queda dos juros promovida pelo BC é vista como elemento essencial para a melhor perspectiva do governo sobre a atividade econômica, porque reforça a melhora nas condições financeiras das empresas, que já vêm se desalavancando desde o ano passado. Além disso, facilita o crédito para financiar a retomada dos investimentos, no mínimo para recomposição de depreciação e renovação do maquinário produtivo.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4245, 04/05/2017. Brasil, p. A4.