TEMER INDICOU YUNES PARA DEFENDER EMPRESA, DIZ JOESLEY

EDUARDO BRESCIANI

22/06/2017
 
 
 
Negócio que poderia render R$ 50 milhões não foi concretizado
 
O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou, em depoimento à Polícia Federal na semana passada, que o presidente da República, Michel Temer, lhe indicou o advogado José Yunes, seu amigo e exassessor da Presidência, para atuar na defesa de uma empresa do grupo J&F. Segundo Joesley, o negócio poderia ter rendido R$ 50 milhões para Yunes, mas acabou não se concretizando. Temer nega ter feito a indicação.
 

“Se recorda também de uma tentativa de inclusão do advogado José Yunes, por indicação do presidente Michel Temer, para intermediar um acordo com uma empresa em disputa judicial em andamento contra o grupo J&F, e que renderia ao escritório de José Yunes cerca de R$ 50 milhões; Que o acordo não foi para a frente, mas quem ficou designado para tratar foi Francisco de Assis, do jurídico da J&F, no entanto este não sabia que se tratava de um pedido do Presidente Michel Temer”, registra o extrato do depoimento de Joesley prestado no dia 16 de junho.

 

YUNES DIZ NÃO PRECISAR DE INDICAÇÃO

Temer negou que tenha feito a indicação ao empresário. “O presidente não solicitou a Joesley Batista a contratação de José Yunes como advogado do grupo empresarial J&F”, diz nota enviada pela assessoria da Presidência.

Advogado de Yunes, José Luís Oliveira Lima afirma em nota nunca ter atuado para o grupo de Joesley. Ressalta ainda ter mais de 50 anos de advocacia e não precisar desse tipo de indicação. “O Dr. José Yunes tem mais de 50 anos de advocacia e jamais necessitou de qualquer interferência para atuar em demandas judiciais. Nunca atuou como advogado em processo envolvendo a J&F ou JBS”, afirma a nota.

Yunes foi assessor especial de Temer até dezembro do ano passado. Ele deixou o cargo depois de seu nome ter aparecido em um vazamento da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, como tendo recebido propina da empresa. Em fevereiro deste ano, Yunes procurou o Ministério Público e admitiu ter recebido um pacote do doleiro Lúcio Funaro em seu escritório a pedido do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Ele disse não saber se no pacote havia dinheiro. A Odebrecht diz que essa entrega foi um dos pagamentos de propina negociados pelo ministro.

No depoimento, Joesley relatou que o presidente teria feito pressão sobre o BNDES para atender a um pleito da empresa. Relatou ainda que um acordo feito entre a Petrobras e uma térmica de sua propriedade em abril deste ano só ocorreu após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter sinalizado para a estatal que daria ganha de causa para a térmica. Tal sinalização ocorreu depois da conversa de Joesley com Temer e da atuação do ex-assessor da Presidência Rocha Loures, que está preso. O Cade nega qualquer irregularidade no processo.

O globo, n.30635 , 22/06/2017. PAÍS, p. 5