Crise traz incerteza, diz diretor do Banco Central

Gabriela Valente

22/06/2017

 

 

Em Londres, Berriel afirma que turbulência dificulta queda dos juros
 
 Na tentativa de explicar a investidores e analistas econômicos o que ocorre ultimamente no Brasil, o diretor da área internacional do Banco Central, Tiago Berriel, admitiu ontem que a crise política trouxe incerteza elevada quanto à velocidade do processo de reformas e ajustes na economia brasileira. No entanto, falou que o BC tomou uma “ação firme” para manter a funcionalidade total dos mercados, principalmente na área cambial.

 

Em reunião em Londres, ele detalhou os mecanismos usados para suprir a corrida ao dólar e tudo que foi feito para fornecer liquidez. Disse ainda que BC e Tesouro Nacional têm várias ferramentas em mãos:

— Essas ações foram bemsucedidas no restabelecimento da antiga estabilidade ao mercado doméstico.

Berriel falou sobre os riscos que o Comitê de Política Monetária (Copom) enxerga com a crise política. Com uma recuperação mais lenta, a inflação continuará controlada. Mas a turbulência pode afetar o dólar e fazer com que a queda dos juros não seja tão ampla quanto esperado anteriormente.

— Em geral, as projeções condicionais do Copom atuais envolvem maior incerteza.

Ressaltou que, hoje, a economia brasileira mostra maior capacidade para responder a choques internos e externos por ter um grande volume de reservas em moeda internacional e que a inflação está controlada, e as expectativas, ancoradas. (Gabriela Valente).

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BC prepara mudanças em setor de análises

 

Em período de incerteza, ideia é dar visibilidade para produção de dados

 Em mais um capítulo de mudanças no Banco Central, o presidente Ilan Goldfajn deve anunciar, nos próximos dias, uma alteração para fortalecer a área de análise econômica da autoridade monetária. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a ideia é dar mais visibilidade para a produção e a leitura de dados, especialmente em um período de tantas incertezas no campo político, que contaminam a estratégia de recuperação econômica do país.

Para isso, a autarquia deve dividir o departamento econômico em dois: a parte que fará a análise dos dados continuará sob o comando de Túlio Maciel, que terá mais trabalho porque as exigências aumentaram bastante desde que a atual diretoria tomou posse, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os técnicos que já produziam os dados serão enviados para um novo departamento, que também absorverá a atual Gerência de Relacionamento com Investidores (Gerin), responsável, por exemplo, por elaborar semanalmente o boletim Focus com as expectativas do mercado financeiro. Essa nova estrutura ficará sob a batuta de Fernando Rocha, atualmente subordinado a Maciel.

A nova diretoria tem cobrado mais dos técnicos por análises melhores do que as que encontraram logo após a posse há um ano. Apesar do trabalho dobrado, os servidores tecem elogios para a nova direção, considerada mais técnica que a anterior. (Gabriela Valente)

O globo, n.30635 , 22/06/2017. ECONOMIA, p. 19