Crise PSDB-PMDB se repete no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo

Silvia Amorim

12/06/2017

 

 

Ação por rompimento nesses dois estados ganha força com debate nacional sobre desembarque

“Qual discurso o PSDB terá no ano que vem, nas eleições aqui?”

Sergio Majeski

Deputado estadual (PSDB-ES)

A pressão no PSDB para um rompimento da aliança com o PMDB não está restrita apenas à esfera federal. Nos dois estados em que o partido participa de um governo peemedebista — Espírito Santo e Rio Grande do Sul — esse movimento também existe e pode ganhar força, caso o tucanato decida em Brasília pela saída da gestão Michel Temer.

Governadores, deputados, senadores, ministros e presidentes de diretórios estaduais da sigla participarão da reunião convocada para hoje da Executiva Nacional do PSDB.

No Rio Grande do Sul, o descontentamento de tucanos com a presença do PSDB na gestão do governador Ivo Sartori (PMDB) vem desde o ano passado. Numa carta em junho de 2016, deputados estaduais reclamavam de falta de diálogo e pouco espaço na administração. Porém, era o momento em que PSDB e PMDB se aproximavam no cenário nacional, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e o debate regional acabou esvaziado.

A rebelião dos tucanos “cabeças pretas”, como são conhecidos os mais jovens na bancada federal, agora reacende a discussão não só no Rio Grande do Sul como no Espírito Santo, onde o PSDB participa da gestão Paulo Hartung (PMDB).

— As decisões nacionais não têm poder decisivo de permanência ou saída de governo (nos estados), mas elas podem, de alguma forma, influenciar sim com argumentos — disse o líder do PSDB na Assembleia Legislativa gaúcha, Lucas Redecker.

No estado capixaba, a situação do PSDB é mais complicada. Embora exista um grupo a favor do rompimento com o PMDB, o debate é dificultado porque o vice-governador, Cesar Colnago, é tucano.

— O PSDB ocupa pouquíssimos cargos no governo. Portanto, isso nem seria um problema para o partido. Mas o vice não se mostra disposto a romper a aliança. Membros da Executiva estadual que defendem o afastamento não se manifestam publicamente para não constranger o vice — afirmou o deputado estadual Sergio Majeski (PSDB).

No país, a aliança entre PMDB e PSDB não é recorrente. Dos sete estados governados pela sigla de Temer, apenas dois têm o PSDB na gestão.

 

DESGASTE NAS ELEIÇÕES

Com o PSDB fragilizado pelas denúncias contra seu presidente licenciado, o senador afastado Aécio Neves (MG), a preocupação dos tucanos nos estados é com um prejuízo eleitoral que a associação com o PMDB poderá causar em 2018.

Aécio foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva e obstrução à Justiça. Ele é acusado de ter recebido propina de R$ 2 milhões do frigorífico JBS e de ter tentado atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

— Qual discurso o PSDB terá no ano que vem, nas eleições aqui? — questiona Majeski.

Apesar da insatisfação de parte dos tucanos, o que deverá definir um desembarque do PSDB dos governos peemedebistas estaduais é a decisão sobre ter ou não candidato próprio a governador.

— Não há necessidade de estar no governo Sartori se o PSDB for ter candidatura própria ao governo do estado — indica Redecker.

A reportagem procurou os presidentes do PSDB nos dois estados, mas não teve retorno.

O globo, n.30625 , 12/06/2017. PAÍS , p. 3