Título: Investimento insuficiente
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 25/01/2012, Economia, p. 9
O rombo nas contas externas não para de crescer. Em 2011, bateu recorde ao alcançar US$ 52,6 bilhões, um volume 11,17% maior que o verificado no ano anterior. Para 2012, as expectativas do Banco Central são ainda piores: US$ 65 bilhões. Diferentemente do ano passado, não haverá como cobrir esse buraco. O Investimento Estrangeiro Direto (IED), que até então registrava cifras superiores às do deficit externo e tapava esse rombo, deve ficar em US$ 50 bilhões no ano — o país será obrigado a buscar no mercado financeiro os US$ 15 bilhões de diferença, um dinheiro considerado altamente volátil e que pode fugir do Brasil caso a crise piore.
"O deficit reflete a falta de poupança doméstica. O setor público não poupa e as famílias também não. Assim, o país fica obrigado a importar poupança para se financiar", explicou Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria. Apenas em dezembro, o deficit nas contas externas foi de US$ 6 bilhões, um buraco 72,76% maior que o registrado em igual mês de 2010. Parte dessa conta, segundo dados do Banco Central, se deve ao elevado volume de gastos em viagens internacionais, a remessas de lucros por filiais a seus países de origem e a desembolsos pesados no aluguel de equipamentos e fretes de navios.
No ano passado, o setor produtivo brasileiro desembolsou US$ 16,7 bilhões com aluguel de máquinas, o maior montante já registrado pelo BC. Em 2010, esse valor havia sido de US$ 13,7 bilhões. As despesas com transporte também foram elevadas (US$ 14,1 bilhões), 24,82% mais do que no ano anterior. Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, admite que o rombo nas contas é grande. "O retrato das contas externas mostrou deficits significativos, o que evidencia maior demanda dos brasileiros por produtos externos", resumiu.
Maciel, entretanto, tentou amenizar o problema. "O deficit é plenamente financiável", disse. Lavieri também considera a situação, por enquanto, controlável. Para ele, mesmo com o IED sem capacidade de cobrir o buraco, ainda é possível recorrer ao capital especulativo. Porém, o ingresso de dólares no país por essa via tem sido cada vez menor. Segundo especialistas, janeiro foi um mês atípico por registrar US$ 6,6 bilhões positivos de saldo líquido, resultado influenciado por capital destinado à bolsa de valores. "Isso não deve se repetir." (VM)
Sinal de alerta
Apesar dos bons números de 2011, o buraco nas contas externas dará trabalho neste ano. Faltarão recursos para financiá-lo (Em US$ bilhões)
Transações correntes 2002 -7,6 2003 4,1 2004 11,6 2005 13,9 2006 13,6 2007 1,5 2008 -28,1 2009 -24,3 2010 -47,3 2011 -52,6 2012 -65,0*
*Projeção
Investimento estrangeiro direto 2002 16,5 2003 10,1 2004 18,1 2005 15,0 2006 18,8 2007 34,5 2008 45,0 2009 25,9 2010 48,5 2011 66,6 2012 50,0*
Fonte: Banco Central